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Críticas

Cineplayers

Insurgente evasivo.

5,0

Dentro destas várias concepções cinematográficas baseadas em sagas criadas em livros juvenis, o que geralmente mais chama a atenção é o desenho de produção. Aqui não é diferente e é de fato o que há de melhor. É um filme bastante elegante dentro do gênero da ficção, que reúne características favoráveis à identificação do público interessado por esse universo. Os fãs da obra literária deverão adorar. Já a história, talvez. Eu não saberia mensurar o quão fiel essa adaptação é, uma vez que não li o livro de Veronica Roth, mas custa ao público entender que não cabe ao cinema ser essencialmente fiel ao livro ou a qualquer outra coisa. Aliás, buscar ser absolutamente fiel é uma oportunidade para se condenar um filme. Dentro dessa noção, acredito que seja exatamente esse desejo em fazê-lo fiel que comprometeu consideravelmente este badalado Insurgente.

Após Divergente (Divergent, 2014), as facções entraram em colapso e aquele universo tornou-se caótico. É perceptível o quanto a obra está escurecida, como se aquele espaço estivesse encoberto, viabilizando visualmente o caráter de perigo e seriedade que a obra vem ganhando, explicitando as ameaças constantes sobre seus personagens principais em fuga, inevitavelmente confrontados por uma guerra que a rebeldia provocou.

Funcionando como preparação que abre horizontes para as pretensões da história, passando sobre a guerra e alçando uma outra ideia desconhecida para nós e para os personagens, a narrativa dá estímulos para que o espectador se interesse pelo que poderá vir no futuro. Somos alimentados por indagações.

Acompanharemos uma oposição às distopias nesse filme que se constrói em esquivas, a partir de surpresas deslocadas e personagens cujo caráter está constantemente em dúvida. Há uma indagação pertinente sobre o poder. Também há um maniqueísmo sobre a política de líderes, o que diminui a força dos embates. Creio que tantas explicações mais constrangem do que agradam. Notem o didatismo nas pretensões da vilã, que precisa narrar e esclarecer ao público tudo o que pretende fazer. Esse é um descompromisso com a dramaturgia, uma vez que a imagem – atributo medular do cinema – fica à serviço dos vigorosos efeitos enquanto a narrativa segue outra via, torna-se quase que puramente narrada e não interpretada, o que justifica os deslocamentos dos vários personagens. Cada um parece independente. Até Tris, a protagonista vivida pela carismática e talentosa Shailene Woodley, aparece desagradável em instantes mais íntimos.

Esse desagrado não diz respeito ao comportamento confuso daquela a qual interpreta, temente quanto ao seu papel num contexto hostil, mas as suas motivações prolixas. Sua confusão particular é o que a move e ocasiona alguma empatia projetiva. Ela sente-se culpada frente aos atuais acontecimentos, consequência de tudo que vivenciou, rendendo-lhe (in)evitáveis perdas. Também incomoda a mutação comportamental de outros personagens, provavelmente esse problema provém da má adaptação do roteiro, ou melhor, da inadequação da história dentro do cinema. Informações demais comprometem e a lógica fica à deriva, com pontos soltos e buracos comprometedores.

O mal de adaptações de livros populares é querer abarcar tudo num espaço importuno. Menos preocupação teria rendido mais. Tal questão não diz respeito unicamente aos personagens, em suas personalidades, mas recai na noção de tempo e na série de acontecimentos vagamente explorados por falta de duração ou por temor em provocar qualquer esgotamento no público. Observem que o filme nem se prolonga tanto e alguns planos se repetem com outra roupagem. Não poderia nem afirmar que Insurgente é um filme exclusivo para fãs, mas certamente este não consegue funcionar tão bem como um filme independente já que sua primeira parte é demasiada importante.

Já a construção de sua protagonista é positiva, a mulher enquanto heroína, uma jovem complexa atrás de mudança, cortando até seu cabelo. Ele diz muito sobre si, sua decisão, sua opção visual que implica na forma com a qual outros poderão olhá-la. No imaginário popular mulheres ‘precisam’ ter cabelos compridos. Quem disse? Tris se assume enquanto mulher e isso independe de corte, roupa ou modos. Timidamente ela se soma a outras heroínas do cinema, acompanhando consideravelmente o sucesso que Jennifer Lawrence teve com sua Katniss Everdeen na interessante franquia iniciada por Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012).

Sem grandes anseios a não ser agradar a fãs e debruçar em outros interesses comerciais, o filme é prejudicado pela dispersão de seu conteúdo, chamando mais atenção graças ao ritmo proeminente.  O diretor Robert Schwentke é hábil na execução da ação, tudo é enérgico e as cenas recortadas são desembaraçadas e empolgantes. Como de hábito, a trilha pesada contribui para o acréscimo de tensão,  realçando-a. Um apoio extra para afundar o espectador na poltrona. Dito tudo isso, parece que o filme pouco apresenta de novo e segue uma linha frequente em produções semelhantes, visando preparar os fãs para a finalização que será dividida em duas partes. Herança de Harry Potter. Insurgente não é medíocre e nem desnecessário, tem uma ideia autêntica e relevante, e ainda conta com um elenco respeitável – soma-se aqui a versada Naomi Watts –, mas é uma obra mal executada que raramente faz justiça à proposta ofertada e despenca sobre sua falta de aspiração cinematográfica, transformada num enlatado comercial usual e ineficiente.

Comentários (4)

Samuel Otávio | sábado, 28 de Março de 2015 - 22:02

Gostaria que tivesse falado especificamente da atuação de Kate Winslet.
Acho que ela deveria ter sido melhor aproveitada. O personagem dela poderia ser mais abrangente, ser um dos pontos altos do filme. Tamara que no terceiro ela cresça na narrativa.

Lucas Souza | segunda-feira, 30 de Março de 2015 - 07:56

Esse é lixo...

Abdias Terceiro | quinta-feira, 02 de Abril de 2015 - 13:19

Se seguir os passos de Jogos vorazes... Seria uma pena.

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 04 de Abril de 2015 - 07:35

Cara, posso estar sendo injusto com esta série, mas não vi nem o primeiro. Não aguento mais este tipo de filme. É tudo a mea coisa. E se fossem bons, pelo menos. Mas são filmes que não servem nem como diversão passageira e descompromissada. Sem contar sua previsibilidade. Nrm sei quantos livros foram escritos, mas aposto que o último capítulo para o cinema será dividido em duas partes. Podem esperar. Ainda prefiro me arriscar em um filme menos badalado do que assistir a algo que sei que é ruim. Tomara essa febre passar....

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