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Críticas

Cineplayers

Típico filme de ação protagonizado por uma mãe comum.

5,5
De início, O Sequestro tem toda uma cara de ser um Busca Frenética (Frantic, 1988) mais modesto: conhecemos a rotina de Karla Dyson como mãe divorciada e garçonete, que se desdobra em cinco para cobrir a sua escala de trabalho e a dos outros e ao mesmo tempo cuidar do filho, o pequeno Frankie Dyson. De forma pedagógica, esse prólogo é o momento mais simpático do filme, onde cada vez mais pessoas se identificam em uma situação cada vez maior do mundo atual: a família nuclear se dissolve e seus indivíduos se adaptam a duras penas.

Porém, tudo muda no momento do sequestro antecipado pelo título: no momento em que Karla dá por falta do filho após atender uma ligação de telefone, engana-se quem acha que este será um filme onde a protagonista baterá de porta em porta cada vez mais progressivamente desesperada em busca do filho; no mesmo momento, ela embarca em sua minivan e passa a perseguir o gasto e enferrujado Ford Mustang dos sequestradores, um casal de típicos rednecks estereotipados até o limite. 

E essa perseguição é, na verdade, a tônica do filme. O sequestro que intitula a obra sem dúvida é a principal razão de conflito da obra, mas seu desenvolvimento é todo pela minivan atrás do Mustang, o que domina boa parte da projeção. É o momento em que o filme dá adeus a qualquer verossimilhança e parte para a pura fanfarronice, com raros momentos onde lamentavelmente se leva a sério, com a protagonista lançando comentários que chegam mesmo a soar hilários.

Aliás, com a protagonista praticamente sozinha em seu carro de passeio o tempo todo, tais comentários surgem como a principal pedra no sapato do filme: Karla Dyson fala o tempo todo. Pede para o filho aguentar firme, anuncia o que está planejando em voz alta, expressa suas dúvidas verbalmente. Qualquer sutileza vai embora do filme enquanto a atriz principal se esforça em conferir um mínimo de dignidade às falas para lá de genéricas do filme. 

A obviedade do filme é o que o impede de crescer mais, de ser um Encurralado (Duel, 1971) ao contrário, extraindo a tensão em saber quem seria perseguido e de onde vem a determinação de fugir tão grande quanto a da protagonista em perseguir: o filme entrega o ouro muito rápido e se mostra inclusive previsível em mostrar as razões dos antagonistas. Mais hora, menos hora, começa a ficar previsível. Assim que a protagonista supera alguns dos desafios com certa inventividade do roteiro, tudo começa a ficar mais fácil e o filme, apesar de ameaçar, termina sem muito desafio, contando com algumas conveniências lógicas e de sorte.

No final das contas, O Sequestro diverte até certo ponto, até a parte em que o suspense se esvai - quando começamos a entender que a protagonista sempre sobrevive aos seus confrontos com os rednecks, por pior que seja a colisão ou ferimento, quando o falatório constante nos impede que antecipemos qualquer coisa por nós mesmos, quando o divertido exager vai pouco a pouco minando os próprios desafios. A linguagem videoclipada cheia de cortes, filtros e efeitos de câmera não tem a mínima inteligência visual e muitas vezes é redundante ou até mesmo irritante. 

Mas mesmo passando longe de ser bom, durando mais do que deveriar durar e querendo falar sério em meio a puro avacalho (o filme afirma que as crianças desaparecem porque os pais não correm atrás - ignorando o número de vezes que a protagonista poderia ter morrido e tudo seria em vão). Sua narrativa concentrada - todo e qualquer outro personagem periférico na trama é apenas mencionado e jamais visto, e mesmo a criança sequestrada tem uma participação mínima - mantém um mínimo interesse em um filme que é sobretudo uma bobagem passável que manteria o espectador acordado caso fosse encontrado na grade noturna de uma televisão. 

Ofuscado em sua semana de lançamento nos EUA pela grande aposta A Torre Negra (The Dark Tower, 2017), O Sequestro em todo o seu potencial perdido pelo meio do caminho no final das contas é apenas rápido e rasteiro, ancorado no esforço de Berry em um personagem inusitado que no final das contas acaba sendo o principal interesse do filme. 

Comentários (2)

Alexandre Koball | terça-feira, 26 de Dezembro de 2017 - 23:04

Uma das coisas mais mal escritas que vi em muitos anos. Bizarrice total.

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