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Críticas

Cineplayers

A história, baseada em fatos, emociona, apesar dos problemas de direção.

5,0

A história real do cãozinho akita Hachi já tinha rendido um longa-metragem japonês, Hachiko Monogatari (jamais lançado no Brasil), livros e estátuas ao redor do Japão, onde Hachi e seu dono realmente viveram. Chega agora a versão fílmica norte-americana do fato em questão, Sempre ao Seu Lado.

Se o leitor não sabe muito a respeito do filme, recomendo não seguir este texto ou muito menos ler a sinopse, já que o grande ponto de virada da história é bastante divulgado: Hachi (ou Hachiko, em sua forma diminutiva), após ser adotado por um homem de meia-idade, passa a segui-lo fielmente, acompanhando-o todos os dias até a estação de trem onde este vai para o trabalho. E não somente, Hachi também faz questão de esperá-lo na estação, mesmo sob a neve, retornar do trabalho.

O mito se constrói a partir do momento em que este homem morre e Hachi mantém suas indas e vindas à estação, sempre à espera do dono, que nunca mais retorna.

Se a antecipação da morte que ocorre no filme é inevitável, restou ao roteirista Stephen P. Lindsay, em seu primeiro trabalho em longa-metragem, a tarefa do como contar a história. Se o desfecho é sabido, o espectador precisa se desconectar dessa idéia e acompanhar a trajetória dos personagens passo a passo. Nisto, o roteiro é bem sucedido.

A transposição de Tóquio para um subúrbio norte-americano também é funcional, e todo o argumento envolvendo a família do professor Parker Wilson, o dono de Hachi (interpretado por Richard Gere) é bastante correto, apesar de vez ou outra resvalar nos inevitáveis clichês inerentes à história.

O grande problema reside na direção do sueco Lasse Hallström, que parece ter perdido o prestígio de outrora, quando seus filmes apenas medianos (Regras da Vida, Chocolate) eram indicados a todos os prêmios e eram chamarizes para atores de calibre. O Vigarista do Ano (também com Richard Gere), o seu filme anterior, só entrou em circuito limitado nos Estados Unidos, e é bem provável que este Sempre ao Seu Lado seja lançado por lá somente em mercado de home video, sem passar pelo circuito de cinemas.

Hallström sempre foi um diretor de mão pesada. Trilha sonora carregada e onipresente, fotografia pomposa, seqüências mais extensas que o usual, tudo presente novamente em Sempre ao Seu Lado. Passagens que deveriam ser leves, quase cômicas, ganham tratamento dramático intenso, como se o filme precisasse, desde o princípio, ir preparando o espectador para as lágrimas – o que é desnecessário a partir do momento em que a própria história real já é comovente por si só (e não há como resistir a elas quando a personagem da esposa de Wilson, interpretada por Joan Allen, reecontra o cãozinho na estação anos depois da morte do marido).

Um mistério em relação à direção de Hallström diz respeito à adoção de planos ponto de vista de Hachi desde o princípio do filme. Além de incomodar – não existe razão para o público se identificar com tal recurso, que emula a visão do cachorrinho –, esses planos são logo descartados por Hallström a partir do momento em que o personagem de Gere morre. Parecia que a idéia era preparar o espectador aos poucos para que este ponto de vista se tornasse orgânico ao filme assim que Hachi se tornasse o único condutor da narrativa (como ocorre em Lembranças de Outra Vida, por exemplo), mas o que ocorre é exatamente o oposto, em estratégia bastante equivocada: esses pontos-de-vista praticamente desaparecem. Então, qual a razão da existência deles?

Apesar dos problemas de direção, Sempre ao Seu Lado emociona. Não se esqueça de levar o lenço para a sala de cinema.

Comentários (1)

Victor Henrique Schmidt Timm | domingo, 01 de Fevereiro de 2015 - 01:55

Por ele emocionar, significa que nos envolvemos com o filme, portanto não pode ser considerado um filme ruim, na verdade tem que ser considerado bom.

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