Inferior ao filme original, no qual se baseou, o maior destaque vai mesmo para Abigail Breslin.
No início deste ano, Abigail Breslin tornou-se uma das mais jovens indicadas ao prêmio de melhor atriz coadjuvante da história do Oscar: apenas dez anos de idade. O reconhecimento veio por Pequena Miss Sunshine, filme no qual a garota não se intimidou e brilhou ao ofuscar veteranos de talento inegável como Toni Collette, Alan Arkin e Steve Carell. Pois a pequena fez de novo. Menos de um ano depois, Breslin é o que Sem Reservas, nova comédia romântica enlatada de Hollywood, tem a oferecer de melhor.
O filme conta a história de Kate, chef de um restaurante e conhecida tanto por seu talento culinário quanto por sua personalidade forte. Praticamente sem vida pessoal, Kate vive para o restaurante. Sua rotina muda quando um imprevisto faz com que Zoe, a sobrinha de dez anos, se mude para seu apartamento. O relacionamento das duas é problemático, até que surge Nick, um novo chef no restaurante. A princípio receosa quanto às intenções dele, Kate acaba, aos poucos, cedendo ao perceber que ele pode ajudar tanto o relacionamento com a sobrinha quanto a si própria.
Sem Reservas é a refilmagem de Simplesmente Martha, uma produção alemã de 2003. Assisti ao filme original na época de seu lançamento e, confesso, tenho poucas lembranças da obra. De certa forma, isto é até bom, pois permite uma análise exclusiva do filme norte-americano, evitando qualquer espécie de comparação entre os dois. Mas, pelo que recordo de Simplesmente Martha, posso afirmar com propriedade: Sem Reservas é um filme muito mais fraco.
O que era um agradável romance com toques dramáticos virou uma comédia romântica sem imaginação e ousadia. O diretor Scott Hicks opta por não correr riscos e segue passo a passo o manual do gênero. A estrutura narrativa é absurdamente previsível para qualquer um que já tenha assistido a uma comédia romântica: o espectador sabe exatamente como será a trajetória tanto do relacionamento entre Zoe e Kate quanto daquele entre Kate e Nick.
Mas se o esqueleto do roteiro de Carol Fuchs segue a fórmula clichê, ao menos oferece consegue fazer o espectador acreditar na evolução dos sentimentos dos personagens. Em outras palavras, a afeição de Kate por Nick é gradual e a platéia realmente entende porque uma mulher fechada para si mesma poderia se apaixonar pelo expansivo chef. O mesmo ocorre no conflito entre Kate e Zoe, que não dá saltos abruptos, respeitando o desenvolvimento dos personagens.
Ao mesmo tempo em que acerta nestes pontos, a o roteiro erra ao inserir subtramas desnecessárias, que em nada acrescentam à história. É o caso, por exemplo, do enredo com o vizinho apaixonado de Kate e com o psiquiatra; apesar do objetivo claro em oferecer algo mais sobre o passado e personalidade da protagonista, estes personagens apenas só servem para alguns minutos a mais de projeção que poderiam muito bem ser cortados. Da mesma forma, Sem Reservas ainda decepciona em seu final, adotando soluções rápidas e fáceis demais para os conflitos, como a reconciliação entre Kate e Nick.
Enquanto isso, Catherine Zeta-Jones não chega a brilhar aos olhos dos espectadores, mas convence como a mulher com medo de se relacionar. Já Aaron Eckhart entra em cena com destaque, acrescentando energia ao filme no papel do imprevisível Nick, mas perde sua força à medida que Sem Reservas se desenrola. Como se não bastasse, Zeta-Jones e Eckhart não encontram aquela química capaz de contagiar a platéia e, se é possível compreender os motivos pelos quais estas pessoas deveriam ficar juntas, jamais se chega a torcer para isso.
Mas Abigail Breslin funciona maravilhosamente e faz o resto funcionar. A capacidade de tornar um filme mais interessante graças à sua atuação é digna de grandes atores e, enquanto em Pequena Miss Sunshine o material ajudava, em Sem Reservas a pequena garota consegue tornar-se o principal atrativo. Breslin tem a habilidade de conseguir ser adorável e real ao mesmo tempo, mostrando timing cômico e ótima presença nas cenas dramáticas. Com uma das mais convincentes expressões de choro do cinema americano, a atriz torna-se o verdadeiro núcleo do filme, tornando convincente não apenas o relacionamento de Zoe e Kate, mas também o de Kate e Nick.
É uma pena, portanto, ver a acomodação de Scott Hicks na narrativa. Um cineasta que conheceu os holofotes com o ótimo Shine – Brilhante poderia ter arriscado mais. Não arriscou e Sem Reservas é uma comédia romântica irregular, com diversas falhas e clichê, mas que ainda mantém alguma qualidade. A maior delas é solidificar a carreira de Abigail Breslin, uma garota que, a cada trabalho, deixa de ser apenas uma gracinha para se firmar como uma verdadeira atriz.
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