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Críticas

Cineplayers

Apesar de ser uma refilmagem, é uma das comédias mais simpáticas do ano.

7,5

Refilmagem do longa alemão Simplesmente Martha, de 2001, Sem Reservas é a mais nova comédia romântica que invade os cinemas brasileiros. O gênero, devido à grande quantidade de filmes que não conseguem trazer nada de novo, tornou-se repetitivo e bobo, com produções dispensáveis. Entretanto, essa nova produção, assinada por Scott Hicks (Shine – Brilhante) mostra que ainda é possível realizar boas comédias românticas, e que Hollywood, quando quer, sabe como fugir da mediocridade.     

Kate Armstrong (Catherine Zeta-Jones) é a chef do restaurante 22 Bleecker Street, em Nova York. Ela é uma pessoa séria, que vive para seu trabalho. Controla com rigor sua equipe de cozinheiros. Kate, mesmo depois de uma noite inteira de serviço, acorda cedo para garantir a compra do melhor peixe no mercado. Cheia de regras, ela não aceita diversos comportamentos como, por exemplo, sair com algum morador de seu prédio. Porém, a vida da respeitada chef de cozinha muda com dois acontecimentos: a chegada de sua sobrinha de nove anos, que passa a morar com ela, e quando o subchefe Nick Palmer (Aaron Eckhart) é contratado para auxiliá-la no restaurante.

Sem Reservas, em determinados momentos, cai no lugar-comum de alguns filmes de seu gênero. Mas isso acontece poucas vezes. O filme consegue fugir dos clichês básicos das comédias românticas americanas, e torna-se tão agradável que uma ou outra passagem mais fraca, não prejudica o bom andamento da história. Todas as escolhas parecem acertadas: diretor, elenco e equipe técnica. Hicks é competente e soube como deixar o filme mais terno e sensível, sem exagerar na dose. O elenco está ótimo. Catherine Zeta-Jones, vencedora do Oscar pelo musical Chicago, Aaron Eckhart (Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento) e Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine) são um trio de química inegável. Se passei a admirar a pequena e talentosa Breslin em Miss Sunshine, agora sou fã de carteirinha da garota. O grande diferencial da atriz é conseguir ser criança na tela e adulta no trabalho, diferente, por exemplo, de Dakota Fanning, grande atriz, porém sempre adulta demais em seus trabalhos. Isso não vai acontecer, mas não seria injusto Breslin ser, novamente, nomeada ao Oscar de atriz coadjuvante. Ela é ótima. 

O responsável pela trilha sonora é o competentíssimo Phillip Glass, compositor de trilhas fantásticas, como a de As Horas e Notas Sobre um Escândalo, ambas indicadas ao Oscar da categoria. A trilha de Sem Reservas é leve na maior parte do tempo, e bonita nos momentos de maior carga dramática. Momentos esses que são sempre bem explorados. Enfim, tudo aqui se completa, a trilha completa o longa, e os atores se completam. Uma comédia romântica que acerta nos pontos mais importantes. 

Kate é uma personagem interessante. O filme, além de ter o tema óbvio do romance, aborda, também, os desafios e mudanças na vida da chef de cozinha. Cheia de regras e apaixonada pelo trabalho, Kate terá que aprender a mudar um pouco seu comportamento. O interessante é a abordagem do filme, que não é nada radical. A moça, apesar de ser metódica e exigente, é admirada pelas pessoas, que gostam dela porque sabem de sua bondade e seu bom caráter. Com Nick, ela enfrentará o desafio de conviver com uma pessoa de personalidade exatamente contrária à dela. Ele é mais amigável no ambiente de trabalho (ouve ópera enquanto cozinha) e leva mais jeito com crianças. Diferentemente de Kate, ele compreende que a menina não tem interesse em comer pratos sofisticados nas refeições cotidianas. Já com Zoe (Breslin), Kate terá de aprender a ser a mãe substituta, e terá de encaixar em sua agitada rotina tarefas como levar e buscar a menina na escola. 

Se a personagem de Catherine Zeta-Jones aprende a melhorar seus costumes e sua qualidade de vida com os dois personagens que surgem em sua vida, Sem Reservas poderia importar um personagem de outra produção para ensinar uma lição ao cozinheiro Nick. Estou falando do ratinho Remy, de Ratatouille. Em determinada cena, Nick chega da rua com compras e começa a cozinhar sem lavar as mãos. Atitude que, com certeza, seria condenada pelo higiênico Remy. 

Se a carga dramática e o romance estão presentes em diversas passagens de Sem Reservas, o lado mais cômico está presente, principalmente, nos diálogos e acontecimentos ocorridos na sala do psicólogo de Kate. Um humor tão delicioso quanto as refeições servidas no restaurante da chef. Comédia romântica de personalidade própria, não seria exagero – apesar de parecer improvável -, pelo que apareceu até agora entre filmes do gênero comédia ou musical, se o filme arrancasse uma indicação ao Globo de Ouro da categoria.

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