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Críticas

Cineplayers

Uma comédia cativante, despretensiosa e divertida, com empolgante trilha rock ‘n’ roll.

7,0

No território das comédias “pasteão” de Hollywood, filão aparentemente esgotado de ideias inteligentes, volta e meia surgem filmes com histórias munidas de lampejos de criatividade e com um certo carisma. Ainda que num primeiro momento o que pareça ser exercício de boçalidade voltado à juventude americana, longas como O Virgem de 40 Anos, Segurando as Pontas e Superbad – É Hoje, longe de serem grandes filmes, tem suas qualidades: trazem certa ironia, certo olhar sarcástico sobre a sociedade contemporânea – e, é claro, bom humor e risadas garantidas.

O Segurança Fora de Controle encaixa-se perfeitamente nesse filão atual do cinema, até mesmo pelo fato de contar com ator/astro Seth Rogen, o queridinho do momento e talvez a grande revelação do humor de Hollywood nos últimos anos, ao lado de comparsas seus como Judd Apatow e Steve Carell.

Difícil deixar de se contagiar pelo humor escatológico: Ronnie (Seth Rogen), um gordinho chefe de segurança de um shopping, aspirante a policial, tenta obstinadamente prender um maníaco que passou a assustar as patricinhas frequentadoras do local, que aterroriza geral nu mostrando o pênis! Ronnie quer prender este maníaco, partindo de uma motivação ingênua: tentar impressionar a mulher amada com sua eficiência e caráter, um amor platônico que trabalha na loja de cosméticos – moça bonitinha, mas de uma estupidez extrema.

A saga de Rogen é um “Dom Quixote” escrachado e contemporâneo, um anti-herói cômico dos bons – em meio a devaneios, e a fiéis escudeiros como um latino e um par de gêmeos gordinhos orientais, esse réles funcionário de shopping de temperamento infantil aspira entrar pra polícia, equiparar se ao seu rival (e ídolo) Detetive Harrison, interpretado por ninguém menos que Ray Liotta! Logo vem a lembrança dos trejeitos do bandidão Henry Hill interpretado por ele em Os Bons Companheiros, filme de Martin Scorsese que é clássico do gênero gângster. Evocando a memória cinematográfica, o filme parece uma paródia divertida de filmes policiais, de gângsteres, de espionagem, de luta (policiais brigam com cacetetes, Ronnie com uma lanterna). Certo momento, pode remeter ao espectador brasileiro a uma paródia do treinamento do Bope de Tropa de Elite.

Nem tudo são virtudes, contudo. A linha evolutiva da trama se perde um pouco, falta um pouco de coesão no roteiro. A narrativa cria tensões (por exemplo, descobrir quem é o taradão), e então parte para outro obstáculo (entrar para a polícia, conquistar a mulher, etc.), deixando resoluções suspensas sem mais nem menos, indo de uma para outra (e não são poucas as tensões narrativas), deixando tudo resolvido ao meio, insatisfatoriamente, um tanto a esmo – tramas que só são concluídas/remendadas ao fim. É uma história um bocado sem foco, que atira para todos os lados, não dando o caldo suficiente para cada uma das microtramas, que poderiam ter sido reduzidas em número.

No entanto, a trilha foi sabiamente escolhida com clássicos do rock. De Queen ao blueseiros ingleses do The Yardbirds, passando por “Where’s My Mind?”, originalmente canção dos Pixies, é empolgante acompanhar sequências de grande movimentação ou de pancadaria ao som do rock barulhento. Há toda uma poética audiovisual ali – o que emociona e motiva o espectador a torcer pelo anti-herói. E se deixar levar pela lucidez de um maluco que corre atrás de seus sonhos.

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