Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Park chega ao Ocidente.

6,0

Já distante da histeria formal que reinava em filmes como Oldboy (Oldeuboi, 2004) e Lady Vingança  (Chinjeolhan Geumjassi, 2005), Chan-Wook Park chega em território americano assim como seus outros companheiros de profissão sul-coreanos, como Kim Jee-Woon em O Último Desafio (The Last Stand, 2013) e Bong Joon-ho com o vindouro Snowpiercer (idem, 2013). Park aposta em Segredos de Sangue (Stoker, 2013), filme que arranha seu universo temático dentro do cinema de gênero.

Se Jee-Woon conta dentro de um explosivo filme de ação sua recorrente história de um indivíduo que cai em desgraça e tenta buscar a redenção através de vingança e violência, Park faz de Segredos de Sangue uma volta ao universo de personagens obsessivos e enlouquecidos em cruzadas absurdas, cujas disfunções sociais e familiares os tornam aberrações desde o início do filme. A relação consanguínea que guarda a premissa do filme é, ironicamente, nomeada em seu título original por causa de Bram Stoker, lendário criador do vampiro Conde Drácula.

E de certa forma, metaforicamente falando, essa é uma história vampiresca de Park. E também sua segunda história que guarda relação com o gênero, após Sede de Sangue (Bakjwi, 2009), que já mostrava uma aproximação com o mundo ocidental ao contar a história de um padre contaminado por um vírus vampiresco e explorava as relações entre luxúria e pecado.

Segredos de Sangue é a história de India Stoker, uma introvertida adolescente que logo após perder o pai recebe a visita de seu tio Charlie, que torna-se próximo da instável e distante mãe da garota. O nome do personagem não é à toa: a trama de suspense guarda suas grandes semelhanças com A Sombra de Uma Dúvida (Shadow of a Doubt, 1943), clássico de Alfred Hitchcock sobre um assassino de viúvas e sua emotiva e perigosa relação com a sobrinha.

Mas o que era sugerido dentro do mundo de Hitchcock, já é mais explícito agora, 70 anos depois, com Park: o sul-coreano cria um universo onde revolvem temas como depressão, introversão, descoberta da sexualidade, relações consanguíneas decadentes em uma história de subúrbio norte-americano já tornada clichê pela indústria.

Ainda que não tão violento quanto já feito na Coréia do Sul, o filme, irregular entre a trama de mistério familiar e na exposição da psicose do charmoso protagonista, é generoso em uma dose de violência que acrescenta tensão e adrenalina à história, que demora a apresentar ao que veio e, quando são iniciados os plot-twists e resoluções de mistérios, atrapalham o ritmo do filme com didáticas idas e vindas no tempo que tentam dar conta de uma psique perturbada – ou seja, aposta no contrário do que tinha funcionado com Hitchcock ao apostar, puramente no conflito e na ação, apostando no lugar disso no psicologismo pouco satisfatório, perdido entre o drama familiar contemporâneo e uma abordagem de suspense já gasta com o tempo.

A violência não é disfarçada, mas a exuberância visual que reinava na trilogia da vingança é bem mais estéril, mais “limpa” e engessada – cortes de falsa continuidade e sutis momentos que contrastam o lírico com o gráfico é o máximo que pode se aproveitar. O diálogo que a trilogia da vingança mantinha com vários gêneros do cinema americano, policial de vingança, com o filme de terror splatter, com a comédia pastelão e/ou escatalógica e com a trama de mistério e obsessão, agora troca o “horizonte” pela “muleta”.

Ou seja, Segredos de Sangue se limita enquanto filme de suspense, pouco atualizando chavões batidos, pouco valorizando novas temáticas que separam gerações, pouco fazendo questão de manter aquela atraente distância que permitia o uso consciente de vários gêneros dentro de um mesmo filme e uma possibilidade de utilização criativa da linguagem – imagem, som, música, narrativa e dramaturgia, a transmídia entre mangá e cinema, a referência tanto ao videogame quanto à música erudita, etc. É Chan-Wook Park se conformando, se contentando em fazer um rascunho formulaico e pouco satisfatório, contentado em ser apenas Chan-Wook, onde a brutalidade gráfica já não assusta mais ninguém por seu uso pouco inteligente, apenas esboça uma ligeira tensão em certas sequências.

Um rascunho de um estilo que já foi bastante ousado, tanto  com resultados positivos (Oldboy) quanto irregulares, mas ainda surpreendentes (Sede de Sangue). Optando por um suposto “bom gosto” de indicações sutis, de câmera que desvia o olho, da reciclagem que não muda muita coisa, pouca vitalidade resta ao que um dia foi visceral, histriônico, ambíguo e chamativo. Resta um suspense genérico que, apesar de não ser exatamente mal dirigido, não dá pra negar que é, no mínimo, aborrecido.

Comentários (13)

Raphael da Silveira Leite Miguel | quinta-feira, 01 de Agosto de 2013 - 20:05

Tem a Nicole, mas por enquanto vou acompanhar as opiniões. Não me interessei muito, mas também não descarto de vê-lo.

Vanderley Barbosa de Sousa | sábado, 03 de Agosto de 2013 - 17:31

😎Não entendo por quê as opiniões divergem tanto! Uns acham excelente, outros péssimo! Só mesmo assistindo para ter a própria conclusão.

Patrick Corrêa | sexta-feira, 20 de Dezembro de 2013 - 18:31

Visualmente, é muito bem dirigido.
Mas deixa a desejar quanto ao enredo e à construção dos personagens.
Boa crítica.

Faça login para comentar.