Não são muitos os que sabem da existência em Los Angeles, na Califórnia, de uma loja de esquina, meia-boca mesmo, com vários aparatos para filmes, onde se encontram desde efeitos especiais de primeira qualidade até galãs e divas – em boa parte por preços salgados, diga-se. Lá, um dos objetos mais baratos e fuleiros é um pen drive contendo vários diálogos pseudo-descolados, envolvendo tanto referencias cools quanto frases fofas a esmo. Incomoda muito o uso frequente desse produto nos romances norte-americanos de forma tão inorgânica, apenas a fim de parecer esperto ou algo assim. Se Eu Ficar, mais um romance necrófilo hollywoodiano, não consegue fugir em absoluto das convenções mais detestáveis dos filmes melosos comerciais produzidos na terra do Tio Sam.
Interpretada por Chloë Grace Moretz (cujas escolhas de papéis são tão acertadas quanto as de Dakota Fanning quando mais jovem), Mia cumpre o papel narrativo da fã antissocial de música clássica a se deparar com um universo diferente: o de seu namorado, o popular Adam (Jamie Backley), vocal e guitarrista de uma banda neo-punk completamente coxinha e melosa, mas com fãs “da pesada”, como o roteiro ingenuamente insiste (talvez nunca tenham ido a um show do Ratos de Porão). São dois personagens-peão, cuja construção de personalidade está submetida diretamente a necessidades narrativas, apagando qualquer possibilidade maior de desenvolvimento pessoal : tudo gira em torno do casal enquanto casal. Aqui, a garota apenas é solitária e inexperiente, pois o garoto, pelo contrário, tem todo um carisma e uma malemolência nata – e vice-versa. São planejados exatamente para se encaixarem, da maneira mais forçosa e escancarada possível. O bracelete do cello tocado por Mia e a guitarra por Adam personificam muito bem essa conexão forçosa.
Nesta história de esforços e sacrifícios em prol do amor, o que salta aos olhos não são, de fato, essas curvas da vida provocadas por um namoro ou algo do gênero, mas o self-made man americano no ápice de sua prepotência. Todos os personagens fazem muito sucesso por seu esforço pessoal e capacidade própria, sem nenhuma força das circunstâncias. Esse ranço acaba atingindo seu ápice quando, literalmente, a protagonista consegue salvar sua própria vida por meio da sua força de vontade. Podem argumentar que o amor de seu namorado a salvou. De fato, Mia encontra forças para viver por causa do rapaz. Mas a sua volta à vida se dá, no fim das contas, porque ela assim o desejou. Para o filme, aparentemente basta querer para se tornar uma espécie de Jesus moderno.
Embora “Se Eu Ficar” seja árduo para qualquer crítico de cinema por não sair minimamente do lugar comum dos romances teen contemporâneos, serve pelo menos enquanto revelador de alguns sintomas, dentre os quais o desgaste do gênero nos últimos anos e a coxinhização do pop rock. Estariam os saudosistas certos? Seria nossa juventude bem mais conservadora do que outrora?
hit-girl>>>>>> chloe
Achei o filme absolutamente mediano. Concordo com a nota.
Também escrevi uma crítica no meu blog pessoal, se quiserem conferir 😉
http://cinefiloemserie.blogspot.com.br/2014/09/critica-se-eu-ficar.html
De neo-punk a banda não tem nada. O filme é bobinho.