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Críticas

Cineplayers

Mesmo com problemas, Salve Geral é correto e eficaz.

7,0

Em maio de 2006, o estado de São Paulo se viu refém do PCC. Após a transferência das principais lideranças do “partido” para uma cadeia de segurança máxima no interior do Estado, veio a ordem dos próprios líderes para que o caos fosse instalado nas ruas de São Paulo por meio de ataques a policiais, bombeiros e agências bancárias. Salve Geral, filme escolhido pelo Brasil para tentar uma vaga no Oscar 2010, retrata esse episódio real marcante, mas, para isso, constrói toda uma ação ficcional como pano de fundo.

O enredo da mãe (Andrea Beltrão) e do filho (Lee Thalor) que passam por dificuldades financeiras funciona adequadamente como ponto de partida para uma história mais humana na retratação do sistema prisional brasileiro e da ascensão do PCC como principal facção dos presídios paulistas. O rapaz, apaixonado por velocidade, envolve-se em um acidente de carro que culmina na morte de uma garota. Preso em flagrante, ele é jogado em meio a centenas de bandidos e, a sua mãe, só resta iniciar uma luta para tirá-lo de trás das grades.

Se a ideia inicial do roteiro é eficiente, falta naturalidade ao filme dirigido por Sérgio Rezende. Logo no início, os atores parecem pouco à vontade em frente às câmeras, e os diálogos acontecem de modo artificial, com pausas e entonações que evidenciam a decoreba de um roteiro. Aos poucos o filme pega no tranco e se torna mais natural, entretanto, ora ou outra ainda ocorrem momentos “falsos”, o que denota a direção insegura de Rezende. Quando a personagem de Andréa Beltrão visita o chamado “professor” na cadeia e ele a convida para um ambiente mais tranquilo, as pausas no texto e os movimentos de corpo junto à parede são extremamente teatrais.

Fora isso, faltou ao filme ser realmente mais cinematográfico. A todo instante a naturalidade do longa é condenada ao fracasso pela equipe de direção de arte e cenografia. Isso porque marcas de produtos são escondidas a todo o tempo como forma de não fazer propaganda, o que é extremamente irreal no cinema, sendo mais uma estratégia mercadológica da televisão. Bancos aparecem sem logotipo, a polícia paulista tem carros e uniformes com distintivos falsos, o conjunto nacional na Avenida Paulista aparece enfeitado para o carnaval (ou Natal?), sendo que a história se passa no segundo final de semana de maio. Esse tipo de problema é uma constante no filme, e os exemplos não se limitam a esses. Mesmo se tratando de uma ficção, Salve Geral conta uma história real e qualquer elemento que remeta o espectador a uma sensação de irrealidade pesa contra o filme.

Mas, se neste aspecto a produção deixa a desejar, o roteiro até certo ponto eficiente fornece ao público uma boa história que, inevitavelmente, envolve quem a acompanha. Assim, esse drama policial ganha em interesse ao retratar o surgimento do PCC como uma força dentro dos presídios, seu posterior domínio e as intrigas internas que começaram a desviar um pouco a facção de seus ideais iniciais. Diferentemente de Última Parada 174, que constrói de forma precipitada os episódios que antecederam o ataque ao ônibus e mostra de maneira rápida e ineficaz o sequestro em si, Salve Geral desenvolve uma boa história de pano de fundo e quando chega ao enredo principal não deixa a desejar no modo como expôs o caos que tomou conta da maior metrópole brasileira.

A relação entre os personagens ganha força e a advogada Ruiva, interpretada por Denise Weinberg, ganha, por sua vez, cada vez mais importância no filme, o que a torna uma das personagens mais interessantes como retrato da corrupção que abrange todas as classes do País. Denise apresenta a atuação mais marcante do longa.

Salve Geral consegue transmitir sua história de modo eficaz mesmo com os deslizes de Sérgio Rezende. É um filme bom e interessante, com ritmo certo, e trama bem desenvolvida. Mas, isso não o credencia para o Oscar e o Brasil sabe de antemão que estará mais uma vez fora do prêmio mais famoso do cinema mundial.

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