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Robocop - O Policial do Futuro

(Robocop, 1987)
7,7
Média
515 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Uma violenta fábula contemporânea.

8,5

Ícone da cultura pop recente, estrelando franquias, desenhos animados, seriados, videogames e histórias em quadrinhos, Robocop fez o cineasta holandês Paul Verhoeven cair na graças do público americano.  Há pouco tempo chegado nos Estados Unidos, seu segundo filme por lá dialogou com o público jovem de forma indelével, traduzindo para uma nova linguagem a intensidade e brutalidade de filmes que ainda fez em seu país, como Sem Controle (Spetters, 1980) e O Quarto Homem (De Vierde Man, 1983): Paul se descobriria como um diretor especializado na abordagem do capitalismo selvagem, do abuso tecnológico, da desintegração da identidade e da sexualidade como arma.

A América que Verhoeven enxerga em Robocop é um lugar ensandecido, uma Detroit futurista consumida pelo crime e à beira do colapso econômico onde certo dia um humilde policial, Alex Murphy, é executado à sangue-frio por bandidos. É o momento em que o estado e as empresas juntam forças para tornar um mártir em um vingador: definido pelo próprio Verhoeven como o “Jesus americano”, Robocop é um homem que renasce para matar, sob as ordens de um estado às raias de um fascismo disfarçado de “terra das oportunidades”.

A câmera de Verhoeven é impiedosa tal qual o protagonista que enfoca dessa vez: apesar de perfeitamente compreensível, é surpreendente o sucesso de um filme que não desvia o olhar e apresenta um grafismo por vezes perturbador: fora cenas como cabeças explodindo por efeito de balaços em close, derretimento em câmera lenta e um capricho na quantidade de sangue, a forma como filmou a cena da execução é praticamente insuportável: uma longa exposição à violência trabalhada em tom cada vez maior, uma cena tão brutal quanto revoltante.

Igualmente revoltante será, também, a participação do Estado e do mercado, reconstruindo-o como o policial cibernético, resistente e fatal. As mesmas câmeras subjetivas estilizadas que nos dão os olhos cibernéticos ao novo mundo, trazem lembranças humanas a um Murphy enterrado sob a carcaça de metal, que lentamente batalhará seu caminho de volta à humanidade com ajuda de uma policial.

Robocop foi construído para ser o “homem perfeito”: um autômato da vontade do governo e das empresas, uma força truculenta que brande seu instrumento fálico em competições de virilidade pela noite. Essa identidade masculinizada codificada pelos padrões “macho” entra em conflito com o Murphy homem de família, carinhoso, sensível e trabalhador, quimicamente morto por uma sociedade que não aceita mais os indivíduos de carne e mente, mas sim representações de demandas.

No fim das contas, o policial futurista de Verhoeven entrará em guerra contra o mundo, o establishment que jamais quis; esse capitalismo injusto, sem oportunidades, é representado por Verhoeven como um tecnológico filme de crime onde os inimigos não são apenas os marginais, as párias, que logo passam a ocupar papel secundário, quando Murphy terá de enfrentar as altas cabeças, empresários corruptos e inescrupulosos que agora querem criar a melhor máquina de combate ao crime.

Verhoeven fotografa de forma escura, com os efeitos visuais, direção de arte e figurino descrevendo uma atmosfera suja e visceral. As luzes fortes, duras e pouco difusas, marcadamente cafonas, criam uma atmosfera sempre ameaçadora, que jamais dá um descanso visual – completado com ajuda do desenho sonoro, que cria um mundo estéril, sem vida, onde destruir é mais importante que reproduzir – a pura lógica falocêntrica masculinizada. O capitalismo para Paul Verhoeven é a representação perfeita de um mundo a alguns momentos de chocar-se consigo mesmo.

Não há uma missão específica dada pelo roteiro para salvar o dia ou o país, mas a busca pela justiça individual, de um homem só, em busca de resgatar a própria humanidade dentro de um sistema que lentamente mina os valores de seus filhos menos afortunados. Robocop é para Verhoeven, uma vingança das párias: uma tour-de-force em que o “exército de um homem só” enfrentará o acúmulo de capital e de armamento bélico em busca da salvação pessoal.

O violento Jesus americano de Verhoeven, criatura disfuncional tanto antes quanto depois de sua ressurreição, é o protagonista de uma fábula fria, violenta, onde os interesses escusos não poupam ninguém e nenhum valor individual é conquistado facilmente. Essa era a América do diretor: uma luta de cada um por si e Deus contra todos. O que é conseguido na gana só reforça o clima de “salve-se quem puder”, ainda atual vinte e cinco anos depois. Atrás de um frenético filme, esconde-se uma fabulação individualista e antimoralizante, impactante como poucas vezes se viu no cinema comercial. 

Comentários (16)

Josiel Oliveira | terça-feira, 29 de Abril de 2014 - 03:48

Não é a toa que se tornou um clássico, muitas cenas legais, me lembraram até o John Carpenter da década de 80.

Davi de Almeida Rezende | sábado, 04 de Março de 2017 - 06:53

No meio da crítica já perdi o fio da meada. Do meio em diante o texto foi ficando a cada estrofe mais prolíxo e obscuro. No fim o texto já não fazia sentido. Ou seja, se deixar só os dois primeiros parágrafos já tá bom 😁.

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