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Críticas

Cineplayers

Resident Evil continua melhor no mundo dos games do que no cinema - não há nem comparação.

5,0

Parece uma maldição, mas filmes adaptados de jogos de videogames simplesmente não dão certo. É impressionante. Desde os horrendos Double Dragon e Super Mario Bros. até os recentes Tomb Raider, praticamente nada se salva. O melhor de todos é Terror em Silent Hill, que, mesmo com diversos problemas, ainda tinha algo interessante para oferecer. A série Resident Evil talvez seja o maior exemplo de como é difícil fazer um filme bom a partir de um game. Já foram três tentativas, todas elas mal-sucedidas, incluindo este último Resident Evil 3: A Extinção.

A história, desta vez, ocorre cinco anos depois dos acontecimentos vistos na obra anterior. O T-Vírus criado pela Umbrella escapou dos limites de Racoon City e atingiu os Estados Unidos e o mundo, dizimando populações, secando rios e deixando os sobreviventes em meio ao deserto. A heroína Alice é uma destas pessoas, vivendo solitariamente até encontrar o comboio de Claire Redfield, um grupo que tenta sobreviver e encontrar algum lugar melhor. Alice une-se a Claire e sua equipe para enfrentar os zumbis e a própria Umbrella.

Talvez o primeiro fato a ser considerado em relação a Resident Evil 3: A Extinção é o que ele simplesmente não precisava existir. Os dois filmes anteriores tiveram um retorno de bilheteria apenas razoável, nada que convencesse os executivos do sucesso deste terceiro. E, claro, as obras anteriores também não tinham grande qualidade artística para exigir amarras na história ou despertar o desejo nos fãs de voltar a passar um tempo com os personagens.

Mas o caso é que o filme existe e, na verdade, não acrescenta nada à série. Com novo diretor (sai Paul W. Anderson, agora apenas roteirista, entra Russel Mulcahy), Resident Evil 3: A Extinção é, ainda assim, o melhor dos três. Pena que isto não quer dizer quase nada. Por mais que traga uma direção levemente mais segura nas mãos de Mulcahy, a nova incursão no mundo de Racoon City continua sem fazer jus ao game que conquistou milhões de fãs há anos – inclusive a mim.

E a principal perda continua sendo o clima assustador. Se no jogo a tensão era constante, graças à excelente construção do ambiente, onde qualquer coisa poderia acontecer a qualquer momento, em Resident Evil 3: A Extinção a opção de Mulcahy é pelos sustos baratos e – o que é ainda pior – previsíveis. É possível antecipar todos os momentos nos quais algo surgirá na tela com o objetivo de fazer o espectador saltar da cadeira, sempre com o apoio da trilha sonora, uma tática velha que cineastas medíocres utilizam para mascarar a inaptidão em construir uma tensão crescente, que deixe a platéia sempre nervosa.

O que colabora também para isso é a falta de preocupação em desenvolver qualquer dos personagens. Diversas pessoas são mortas ao longo de Resident Evil 3: A Extinção, mas todas saem de cena com a mesma emoção de jogar fora uma embalagem de iogurte. Ou seja, falta identificação entre os personagens e o público; por conseqüência, quem assiste ao filme jamais se importa com o destino de qualquer uma daquelas pessoas.

Da mesma forma, a trama desenvolvida por Paul W. Anderson não faz sentido algum. Na realidade, dizer que ela foi desenvolvida é um elogio. O roteiro apresenta o cenário do filme de maneira até eficiente: a idéia de um planeta em extinção é o que o filme oferece de melhor, ainda que exija demais da boa vontade do espectador ao pedir que este acredite que tal devastação pudesse ocorrer em apenas cinco anos. Mas o enredo pára por aí. A história não se desenrola, limitando-se a cenas dos sobreviventes lutando contra zumbis e enfrentando um plano sem o menor sentido da Umbrella.

Aliás, aí entra outro detalhe a ser mencionado. Quem nunca assistiu aos filmes anteriores pode achar que não entende nada de Resident Evil 3: A Extinção por não ter acompanhado a história até então. Ledo engano. Mesmo quem conhece o passado de Alice e da Umbrella ficará perdido. São diversas perguntas que ficam sem respostas, como: se eles podiam enxergar o que Alice via, por que não a descobriram antes? Em que realmente consiste o Projeto Alice? Por que matar um clone atrás do outro? Por que diabos o chefão aparece apenas de óculos escuros? Isto sem contar momentos idiotas ao extremo, por exemplo, o companheiro que se recusa a contar que foi mordido, colocando em vida a risca de todos, e o container sem fundo que libera um exército de milhares de zumbis.

Russel Mulcahy, pelo menos, é um diretor mais competente que Paul W. Anderson e faz o filme andar de maneira mais fluida em comparação com os anteriores. Ainda que peque ao insistir nos sustos (como já comentei), o cineasta sabe explorar visualmente a idéia do final do mundo, utilizando planos aéreos para mostrar a desolação deste futuro próximo. Ainda assim, as cenas de ação não empolgam, como o embate de Alice com os cachorros – no qual pouco se enxerga – e o anticlimático final. A única seqüência de ação que funciona é o ataque dos zumbis em Las Vegas: mesmo sem gerar tensão, é divertido acompanhar a matança.

E aí a protagonista Mila Jovovich se destaca. A atriz vem se especializando em filmes de ação e convence quando o esforço físico é exigido. Sua atuação, pelo contrário, continua apática, mantendo a inexpressividade de outros trabalhos. O mesmo vale para o restante do elenco, que não desperta sensação alguma no espectador, seja de ódio ou simpatia. O ponto mais alto fica por conta da bela Ali Larter que, se não tem material para construir uma personagem interessante, ao menos oferece carisma e magnetismo diante da câmera.

O resultado final é que Resident Evil 3: A Extinção não somente não acrescenta nada ao gênero dos mortos-vivos, como também à série. Parte de uma boa idéia e é superior aos antecessores, mas não passa de uma produção extremamente falha, que não serve nem aos propósitos básicos de divertir durante uma hora e meia. Mesmo após três tentativas, o melhor do mundo de Resident Evil continua sendo alcançado com um joystick na mão, e não diante de uma tela de cinema.

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