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Críticas

Cineplayers

Columbus não é exatamente o mais indicado para dirigir um musical moderno, mas sua adaptação do teatro tem alguma relevância.

6,5

Ainda bem que não levamos 525.600 minutos para assistir ao musical Rent – Os Boêmios, mas demorou: foram quase seis meses de espera e alguns adiamentos para o filme estrear no Brasil, após o injusto fracasso em terras norte-americanas, onde o filme sequer se pagou.

Rent é originalmente um musical escrito por Jonathan Larson, que se baseou na ópera italiana La Bohème, de Giacomo Puccini. Trocou-se a tuberculose pela AIDS e o final do século XIX pela década de 80 do século passado para compor um painel caótico e de esperanças voláteis, centrando-se em oito personagens que quanto mais se envolvem mais se perdem. Retrato perfeito de uma Nova York pré-Giuliani e de uma faceta da geração da década perdida, que acabou se tornando um grande sucesso – é o oitavo espetáculo da Broadway há mais tempo em cartaz e foi encenado, sem muito sucesso, em terras tupiniquins no final da década de 90.

Larson não viveu para ver sua obra maior nos palcos (morreu um dia antes da pré-estréia, vítima de um aneurisma cerebral) e provavelmente teria tido uma síncope se soubesse que Justin Timberlake e Christina Aguilera estavam cotados para a adaptação de sua ópera-rock para as telas. Felizmente tudo não passou de boataria e quase todo o elenco original da montagem teatral voltou para a adaptação, com o acréscimo de Tracie Thoms e Rosario Dawson (as atrizes originais substituídas se acharam velhas demais para o papel).

Quem detinha o direito de transposição do musical para as telas era a produtora de Robert De Niro, que queria Martin Scorsese na direção, porém este, alegando problemas no roteiro, jamais assumiu o projeto. Spike Lee foi o segundo nome cogitado e ficou bastante tempo envolvido, mas também acabou dispensando o projeto. Nomes como Sam Mendes (Beleza Americana), Rob Marshall (Chicago) e Baz Luhrmann (Moulin Rouge – Amor em Vermelho) chegaram a ser procurados, mas a cadeira de direção ficou mesmo com Chris Columbus, que abandonou a cinessérie Harry Potter, da qual foi diretor e produtor, para se dedicar a esse projeto.

E foi Chris Columbus o provável responsável pelo fracasso do filme. Não que o trabalho dele no filme seja ruim, para deixar bem claro, mas seu histórico não é lá dos melhores e parte da crítica já torce o nariz só ao ouvir o nome do diretor. Columbus demonstra falta de jeito ao comandar alguns números musicais (a cena da boate, estrelada por Rosario Dawson, é a mais grave – Rob Marshall ali teria feito um estrago!), mas Columbus entrega um trabalho digno e que transpira energia. O que realmente ataca o filme é o fato de o tema ser considerado datado demais por alguns: AIDS, drogas, homossexualismo, década de 80, enfim, um monte de assunto que não traz impacto algum nos dias de hoje. Não partilho desta opinião e creio até que o filme cumpre um papel importante ao (re)lançar uma luz sobre a questão da AIDS, que muitos ainda insistem em ignorar.

Esse imediatismo de que alguns sentiram falta é justamente o mote do filme, visto por um outro ângulo. Personagens à margem do sistema, uma epidemia fora de controle, o preconceito contra homossexuais cada vez mais forte, a violência explodindo. A busca pelo amor e pela felicidade torna-se então o rotor inadiável na vida das personagens principais, já que vida e morte estão amarradas por um fio tênue. A relação entre Angel e Tom (os excelentes Jesse L. Martin e Wilson Jermaine Heredia) é o exemplo mais forte e eficaz.

O filme pode não ser inesquecível, pode até desagradar aos apreciadores da peça, mas é um trabalho nitidamente relevante. Não perca o belo prólogo, com a canção Seasons of Love (‘Estações do Amor’), que faz a gente ficar cantarolando por dias.

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