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Críticas

Cineplayers

Filme de David Ayer não apresenta nenhum momento efetivamente bom.

3,0

Tom Ludlow (Keanu Reeves) é um policial pouco ortodoxo: desrespeitando a lei e a ética, ele assassina bandidos com imensa naturalidade, pois acredita que "a polícia pode tudo". As coisas se complicam quando Ludlow descobre que seu antigo companheiro, Terranoe Washington (Terry Crews) - que vinha denunciado as violentas atitudes de Ludlow e de seus parceiros policiais -, foi executado, fazendo com que ele passe a combater o sistema policial que defendeu em sua carreira profissional. A partir daí, surgem certos conflitos, como o questionamento da lealdade de seus companheiros de corporação, incluindo o seu chefe, o capitão Jack Wander (Forest Whitaker).

Pessimamente dirigido por David Ayer (roteirista de Dia de Treinamento), Os Reis da Rua não possui cenas interessantes, de maneira que muitas tomadas são mal realizadas (muito movimento para pouca ação), algumas até arrogantes (as cenas de Reeves no carro, por exemplo), enfraquecendo substancialmente o filme. As seqüências internas de ação não têm inventividade suficiente para causar tensão no espectador, anulando qualquer possível suspense das mesmas, que se tornam reféns do amontoado de tiros filmados por Ayer. Tudo isso embalado por uma trilha sonora repetitiva e, neste caso, ineficiente, uma vez que não proporciona momentos de maior intensidade dramática.

Os inconsistentes personagens, que justificam (quando justificam) suas atitudes através de diálogos muito fracos, movimentam a história sem a força característica dos bons filmes policiais. O protagonista Tom Ludlow é uma figura plana, sem complexidade alguma. Suas motivações são tão rasas quanto o roteiro surpreendentemente escrito a seis mãos. E se o personagem principal não é bem resolvido, menos ainda são os coadjuvantes: ralos ao extremo, eles aparecem apenas para empurrar (sim, esse é sim o termo mais apropriado) a ridícula trama, recheada de clichês.

Nesse sentido, encarar um texto ruim como esse de Os Reis da Rua deve ser complicadíssimo para o elenco - vide o resultado aqui. Se o rosto inexpressivo e a postura um tanto "desligada" diante das câmeras de Keanu Reeves funcionaram em filmes como Matrix e Constantine, aqui essas características colaboram contra o seu Tom Ludlow, o tipo de policial cinematográfico que necessita de um ator carismático e talentoso para interpretá-lo. Ou seja: Reeves foi uma péssima escolha para o papel. Já Forest Whitaker, mais uma vítima da maldição pós-Oscar, esbanja uma atuação caricatural, sendo a principal decepção aqui - afinal, Reeves há muito é um caso perdido.

Chris Evans e Hugh Laurie, apesar de participarem pouco da história, certamente seriam mais bem aproveitados por outros diretores - este mais que aquele, é verdade -, pois ambos aparecem, com um potencial assaz interessante, em algumas seqüências. David Ayer, porém, nem aproveita a vitalidade de Evans (a cena na qual seu personagem persegue um suspeito, por exemplo, não consegue empolgar, talvez pelos cortes sem nenhum significado), nem o talento dramático de Laurie (a derradeira participação do ator no filme resume bem isso), provando ser um péssimo diretor de atores.

Baseado numa história escrita por James Ellroy, Os Reis da Rua sequer agradará aos fãs do célebre escritor, conhecido pelas frases curtas e cortantes e pelo estilo duro de contar uma narrativa. Infelizmente, essas virtudes do autor desaparecem em um roteiro que o próprio ajudou a escrever. Mas o grande culpado aqui é mesmo o diretor David Ayer, que não soube realizar um filme ao menos visualmente bacana (reparem na fotografia paradoxalmente asseada para uma trama cuja iluminação sombria deveria ser prioridade), de modo que não há momentos efetivamente bons a serem destacados neste texto.

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