Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Primeiro filme que junta Jackie Chan e Jet Li mistura elementos orientais com ocidentais - e o resultado só poderia mesmo ser uma bagunça.

5,0

A grande moeda de venda de O Reino Proibido é o fato de ser a primeira colaboração nos cinemas dos atores Jackie Chan e Jet Li. Adorados por milhões de espectadores ao redor do mundo, esses dois lutadores de Hong Kong e da China, respectivamente, são os grandes nomes das artes marciais no cinema desta geração. Apesar de não terem a grandeza do imortal Bruce Lee, seus nomes já estão marcados na história dos filmes de ação após dezenas de títulos indiscutivelmente divertidos, geralmente com roteiros banais que só serviam mesmo para justificar a inserção de excitantes lutas cuidadosamente coreografadas.

Quem vê os filmes de Jackie Chan que ele fez ainda em sua fase inicial sabe o quão espetacular seu trabalho pode ser – já em Hollywood ele virou uma atração mais curiosa do que especialmente respeitada, já que seus filmes sempre foram sucessos menores e o único grande sucesso de sua carreira por lá – A Hora do Rush – teve que ser dividido (de forma justa, pelo menos) com o comediante Chris Tucker. Jet Li partiu para filmes um pouco mais sérios, mas também nunca passou de coadjuvante de luxo em Hollywood. Seus grandes filmes também estão no Oriente (Herói é uma obra-prima recente que contou com sua colaboração).

Eis que surge O Reino Proibido, uma misturança entre o Ocidente e o Oriente que diverte como os melhores filmes de luta de ambos os atores e tem o roteiro tão banal quanto os seus piores filmes americanos. Apesar dos elementos deste ser baseado na rica mitologia chinesa, é inegável que a ocidentalização desses elementos tornou o que era para ser uma história séria e relevante sobre auto-descoberta, superação e justiça uma quase bobagem para o público jovem (e só ele). Ao colocar o estereótipo do “escolhido” nas mãos de um adolescente típico americano (fã de Bruce Lee) que apanha de seus colegas de escola (o famoso bully), fica óbvio que toda a jornada que ele passará servirá, no final das contas, para que ele possa dar uma lição nesses mesmos valentões para que o público se sinta melhor.

O filme está cheio de clichês das artes-marciais, servindo quase como uma homenagem cômica a esses filmes. Mas após assistir ao também razoável Kung Fu Panda (que tem cenas idênticas), a única coisa que salva O Reino Proibido do esquecimento total e de ser apenas “mais um entre tantos” é justamente as cenas de luta envolvendo Chan e Li, especialmente uma que envolve um lutando contra o outro – um embate incessante que dura absurdos 10 minutos (em contagem mental, portanto posso estar enganado) e é a melhor coisa de todo o filme. De resto, ficam cenas intermináveis de mestre-aprendiz, de muitas lutas não tão interessantes e um romance previsível com uma bela moça que na jornada ao reino proibido em busca de vingança.

Tudo isso é muito pouco para um momento tão esperado. Cenários extravagantes e efeitos especiais razoáveis aplicados sobre um conjunto de cenários lindíssimos ajudam muito pouco a mudar a percepção de que, nas mãos de um diretor Oriental (e não nas mãos do diretor de Stuart Little, Rob Minkoff), com objetivos mais sérios, o encontro entre Chan e Li poderia acabar se tornando uma obra inesquecível, e não apenas uma grande cena de luta de tirar o fôlego, que pode muito bem ser assistida independentemente do restante do filme pela Internet. Mais uma vez Hollywood optou pelo mais fácil e menos original (aqui está mais um filme a retirar planos exatos da trilogia O Senhor dos Anéis, como a cena envolvendo a marcha do exército inimigo para fora do reino proibido), continuando seu incessante aperfeiçoamento em direção à mediocridade do cinema.

Pelo menos que seja dito aos fãs dos dois astros que eles saíram incólumes desse esforço cinematográfico ordinário. Além da já citada cena de luta, há as piadas típicas do cinema de Chan – simples, honestas e geralmente engraçadas e a habilidade física (embora os cabos fiquem evidentes e são utilizados sem vergonha alguma) dos dois atores principais. A parte americana do filme é absolutamente dispensável – provavelmente o estúdio precisava de alguma identificação Ocidental para que o filme lucrasse algum dinheiro nos Estados Unidos. Um trabalho típico para futuras matinês da televisão aberta – a isso se resumiu o esperado encontro entre Chan e Li. Como dito acima, muito pouco para um momento tão esperado.

Comentários (0)

Faça login para comentar.