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Rei Leão, O

(Lion King, The, 2019)
6,6
Média
167 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Quem dorme é o leão

5,0

As questões-chave são as mesmas sempre que um remake é anunciado: há mesmo necessidade? Até que ponto a iniciativa é relevante e até onde se mostra apenas um apelo caça-níquel? Tais questionamentos se elevam à enésima potência quando estamos falando não apenas de mais uma repaginada de algum clássico da Disney, mas sim da animação que até hoje é considerada a mais absoluta e bem sucedida do estúdio: O Rei Leão (The Lion King, 1994). Há alguns anos testando essas releituras em live-action de clássicos como Cinderela (Cinderella, 1950) e Mogli - O Menino Lobo (The Jungle Book, 1967), aos poucos a Disney foi aumentando a aposta e mirando em títulos ainda mais consagrados, tais como A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991), até chegar à sua jogada mais arriscada com este novo O Rei Leão (The Lion King, 2019).

Nesse caso, acrescente mais um receio e questionamento por parte do público: trata-se mesmo de um live-action, como foi anunciado? Quando temos um filme inteiro produzido a partir de CGI, computações gráficas e fotorrealismo, não sobra muito para o fator humano esperado em um live-action, senão pelo trabalho de dublagem do elenco. Neste ponto, o novo O Rei Leão se divide: enquanto os protagonistas Simba (Donald Glover) e Nala (Beyoncé), assim como o antagonista Scar (Chiwetel Ejiofor), não transmitem sequer um terço da emoção e modulação esperadas, coadjuvantes como Timão (Billy Eichner), Pumba (Seth Rogen) e Zazu (John Oliver) brilham. De tão soberano em seu trabalho de voz como o Mufasa da animação original, James Earl Jones repete aqui o feito sem decepcionar.

A garra do elenco em tentar repetir a emoção do filme de 1994 e honrar seu legado, contudo, é unânime. Somente isso para compensar a estranheza de uma produção que se preocupou tanto nos detalhes, nas cores, na impressão de um realismo etéreo tão capaz de convencer, que fica impossível para o público embarcar na ideia de que aqueles animais são de fato dotados de emoções humanas. Cabe aqui ressaltar a beleza e a imponência que somente uma produção quase bilionária como esta poderia oferecer, captando em imagens impressionantes cada detalhe daquela África que só vemos em documentários do National Geographic. Mas isso é ao mesmo tempo o grande deslize do novo O Rei Leão: não há espaço para fantasia e sequer emoção em um cenário tão convincente e identificável a nós como real.

Voltamos então à questão inicial: qual a necessidade de um remake dentro dessas configurações para um trabalho que, mais de vinte anos depois de seu lançamento, ainda é muito moderno? O cinema sempre apresentou essa necessidade de constantes reciclagens e reinvenções, e a ideia de novas versões para histórias de sucesso e apelo não é em si errada ou condenável. Afinal, existe certa beleza em saber se reinventar para conquistar novas gerações e perpetuar legados. O que não bate na equação no caso de O Rei Leão é justamente o fato de que a animação original ainda detém um poder e apelo tão grande, que por si só seria muito capaz de conversar com novas gerações e ao mesmo tempo manter sua legião de adoradores. Sua repaginada sacrificou toda a autenticidade, toda a emoção e humanidade de uma história e de personagens que nunca foram de fato esquecidos por ninguém. Qualquer vantagem em termos de maior tecnologia e valor de produção cai por terra diante disso.

A salvação poderia se voltar para o lado musical da obra. Afinal, de tão famosa, a trilha original composta por Elton John e Tim Rice foi premiada com o Oscar, assim como a canção Can You Feel The Love Tonight, e rendeu uma adaptação de sucesso nos palcos da Broadway. Poucas atualizações desses números musicais chegam perto de impressionar ou tocar o coração como as gravações originais, mesmo com Hans Zimmer no comando. Nem a escalação de gigantes da música americana atual, como Beyoncé e Childish Gambino (pseudônimo que Donald Glover usa em sua carreira de cantor), conferiu alguma humanidade aos conflitos dos personagens. A conclusão não demora a chegar: no novo ciclo da vida que a Disney procura imprimir em cores e sons mais apurados e mais reais, a fantasia morre e quem dorme é o rei da selva.

Comentários (2)

Marcel Resende | sábado, 27 de Julho de 2019 - 11:15

Não estou conseguindo dar notas no site.

Alexandre Koball | sábado, 27 de Julho de 2019 - 12:31

Marcel, o que ocorre exatamente? Qual o filme que você quer dar nota? Qual a mensagem que ocorre?

Matheus Gomes | terça-feira, 30 de Julho de 2019 - 23:31

"Voltamos então à questão inicial: qual a necessidade de um remake dentro dessas configurações para um trabalho que, mais de vinte anos depois de seu lançamento, ainda é muito moderno?"

Sabemos a resposta. A Disney vai apostar nesses live-actions enquanto continuar faturando alto. E olhe que particularmente gostei desse exemplar, mesmo com a falta de expressão dos animais e as péssimas atuações do Donald e da Beyoncé.

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