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Críticas

Cineplayers

A descoberta do cinema indiano pelos olhos de Hollywood.

7,0

Há alguns anos um filme de Ang Lee chamado O Tigre e o Dragão arregalou os olhos do ocidente para o popular gênero wuxia oriental, sendo aclamado pela mídia especializada, mas recebido com frieza em lugares como Hong Kong, onde aquele estilo de cinema nasceu. Agora é Bollywood, o popular cinema indiano, que está na mira com esse filme de Danny Boyle, e assim como aquele foi recebido com críticas duras em sua terra de origem mas bastante premiado no ocidente.

No cerne, o roteiro segue algumas convenções bollywoodianas e do dramalhão: um herói que sofre o filme inteiro – mas mantém o caráter inabalável, irmãos que tomam caminhos separados, e um amor que resiste as adversidades, tudo regado à música. Mas é uma pena que Boyle tenha segurado a tentação de adicionar algumas esquisitices maiores além da narrativa não-linear e outros estilismos típicos de sua filmografia. Com maior sucesso (Trainspotting – Sem Limites) ou menor (A Praia). ele sempre foi um diretor disposto a se arriscar e Quem Quer ser um Milionário? pode decepcionar quem esperava mais bollywoodismos. O filme parece mais uma versão indiana de Cidade de Deus, mas faltaram as artes marciais e os números de canto e dança, apesar de haver pequenas homenagens a eles. No lugar temos um contexto social mais cru e uma trilha sonora eletrônica marcante, que é uma das marcas do diretor.

Há uma cena em que o herói Jamal está servindo de guia para dois turistas americanos que acabam sendo assaltados. Ele, que tomou uma surra, diz: "Essa é a verdadeira India", a que os turistas respondem: "Essa é a verdadeira América", ao entregar a ele uns dólares para amenizar a situação. Uma auto-crítica de um diretor inteligente o bastante pra saber até onde vão suas pretensões. Mas além de ser mais um olhar de estrangeiro para um país de terceiro mundo, o filme também é um conto de fadas, onde o realismo se torna um feio e sujo pano de fundo para a jornada do herói. Parece que fórmulas tradicionais ainda fazem sucesso com a crítica internacional, especialmente se ela vem embrulhada em um pacote de tons étnicos. Será que o cinema indiano vai ser o novo iraniano?

Hype à parte, Quem Quer ser um Milionário? ainda é uma experiência que merece ser vista, tem algo de irresistível no novelão indiano que ganha uma energia nova com a montagem e câmeras ágeis do diretor, servindo de maneira calculada para aumentar o impacto emocional da conclusão. As cenas mais desagradáveis e fortes estão a serviço da história, mas assim como nos similares locais não deixaram de gerar discussão em torno do favelaxploitation. Esse tipo de crítica é irrelevante, se houver histórias nesse universo que merecem ser contadas, não deve haver limites ou compromissos, mesmo se algumas imagens ou temas incomodarem alguns.

Conhecendo o gênero wuxia, o filme de Ang Lee não é o ponto alto do estilo, mas adicionou uma sensibilidade diferente e chamou atenção de Hollywood, sempre curiosa por coisas estrangeiras exóticas. É óbvio que Slumdog Millionaire fez mais ou menos o mesmo, apesar de que não ter sido o primeiro filme ocidental a olhar para o cinema indiano. Temos Mira Nair e outros nomes trabalhando em produções internacionais, mas os prêmios deram a este um impacto cultural maior, e se isso facilitar a descoberta de pérolas do cinema indiano, já vai ter cumprido um bom papel.

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