Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Os efeitos especiais sobressaem-se (e muito) ao fraco roteiro. O Surfista Prateado salva, porém, o filme da ignorância completa.

5,0

Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado é bem superior ao filme de 2005 que lhe deu origem – mas isso, para quem viu o longa original da franquia, não significa muita coisa, muito menos qualidade ou inteligência. Tem mais ação, mais humor e mais dramaturgia, em grande parte porque os heróis já são conhecidos e não precisam ser apresentados, o que não o impede de ser este um dos filmes mais tolos já feitos. Dolorosamente imbecil. Os diálogos são canhestros de dar dó, a estória é boba, megalômana e nada crível, e os atores estão todos canastrões, à exceção do Surfista Prateado, que arrasa (ele é todo gerado por computador). 

Em termos de efeitos visuais e sonoros, é mais um triunfo da Weta Digital, a empresa neo-zelandesa responsável pela trilogia O Senhor dos Anéis que parece ter um dos departamentos artísticos mais inteligentes do cinema hoje. Seja pela expressão facial do Surfista, a perseguição do Tocha Humana por um túnel em Nova York ou mesmo os poderes do Quarteto, agora mais aparentes e funcionais, se há algo que não torna Fantastic Four 2 descartável é o envolvimento da Weta, que conseguiu traduzir o universo de Stan Lee com perfeição para a tela grande.

De nada adianta aqui notar os inúmeros e recorrentes defeitos do filme, pois são tão evidentes que qualquer espectador capaz de levar uma casquinha de sorvete à boca sem errar consegue percebê-los. Mas há que ressaltar a fraqueza dos atores. Nem a exuberância corporal de Jessica Alba (loira e de lentes azuis vagabundas) e Chris Evans (que aparece de torno nu numa cena gratuita e de mau gosto) compensam a sordidez das atuações, pois não há uma única frase dita no filme dita que soe com convicção. Sobra o silêncio do Surfista, um alienígena que vê perplexo o tosco mundo dos humanos, o único momento verdadeiro da obra.

Grande parte dessa bobagem toda foi devido aos roteiristas, experientes e fãs de quadrinhos, que quiseram ser fiéis à história original. Don Payne é produtor-executivo do seriado Os Simpsons e já venceu quatro Emmy, o prêmio máximo da televisão americana. Foi ele que selecionou as histórias, os números 48 a 50 dos quadrinhos, quando aparece o Surfista pela primeira vez, isso em 1966, os números 57 a 60, quando o Surfista encontra Dr. Destino, e, finalmente, o Fantastic Four King Size Annual n.º 3, “O Casamento do Ano”, de 1965, sobre o matrimônio de Reed Richards e Sue Storm – reconhece-se a marca de Stan Lee aqui, pois todos os seus heróis têm o nome e o sobrenome começados pela mesma letra: Bruce Benner (Hulk), Peter Parker (Homem-Aranha), Silver Surfer (Surfista Prateado, que perdeu a característica na tradução) etc.

O interessante é que o Surfista Prateado roubou a cena, ganhou revista própria e se tornou um dos pilares da Marvel Comics, ou seja, é de praxe do herói intergalático, trágico e atormentado, passar a perna nos bobalhões do Quarteto Fantástico. Já aconteceu na década de 60 e volta a se repetir no filme. A impressão que se tem é que esse segundo filme nada mais é do que uma preparação para o próximo filme, justamente sobre o Surfista Prateado.

Os efeitos visuais e sonoros, a única razão de ser do filme, ficaram a cargo de Scott Squires (três indicações ao Oscar, trabalhou na Industrial Light&Magic e nos filmes de George Lucas). O Surfista tem as feições do ator Doug Jones, (o vilão Pale Man de O Labirinto do Fauno) e a voz de Lawrence Fishburne. Os movimentos foram tirados do contorcionista Terry Notary, do Cirque de Soleil. Em tempo: o FantasticCarro foi desenhado pela empresa automobilística americana Chrysler.

Enfim, mais um subproduto de Hollywood, desses que vão lucrar muito mais em licenciamento de produtos (cadernos, lápis, lancheiras, bonecos, games) do que no cinema em si. Não é uma obra artística, é um prodígio mercadológico. Não é feito para ser visto com atenção e sensibilidade, mas digerido tão rápido e sem reflexão quanto um sanduíche de fast food. Tanto que o efeito é o mesmo: insípido, muito calórico e não sustenta por muito tempo.

Comentários (0)

Faça login para comentar.