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Críticas

Cineplayers

A partir do cuidado.

6,0

Vencedor do Caméra d'Or no Festival de Cannes em 2013, Ilo Ilo (idem, 2013) vem estreando com alguma força em festivais pelo mundo, caso da 37ª Mostra em São Paulo. O filme também é o representante de Singapura para o Oscar 2014. Boas perspectivas? A história é das mais simples e cativantes: uma criança cheia de comportamentos extravagantes se relaciona com uma desconhecida e juntos, após desentendimentos e discussões, formam uma singela amizade. Ei, todos já vimos algo parecido antes. Não importa, essa é a aposta do diretor estreante Anthony Chen. É a fórmula convencional que deu certo em Cannes, premiado mais pelo carisma do que pelo conteúdo. Nem tecnicamente é tão atrativo! Ainda que limitada, é uma história minimamente interessante de se acompanhar.

Passado no final dos anos 90 durante a crise asiática, o roteiro procura explorar âmbitos diferentes como subtramas durante o desenvolvimento do drama de uma empregada doméstica que precisou deixar seu país para trabalhar entre desconhecidos. A filipina Teresa (Angeli Bayani) leva toda sua cultura para dentro da casa da família Leng. Algumas boas cenas, como aquela em que reza antes da refeição, demonstra um pouco da diferença que inevitavelmente se chocará com todos em sua volta ao longo da projeção, especialmente quando aos poucos exerce indubitavelmente função materna para o pequeno Jiale, dando a ele toda uma atenção que anteriormente não tinha em casa, especialmente quando sua mãe engravidou do segundo filho. O clichê se exalta e se mantém num fluxo constante, absorvendo paradigmas familiares, crise econômica, desemprego, cultura e educação.

Instantes de ternura se confundem com outros de ferocidades. Nos surpreendemos em alguns momentos com atos raramente vistos no cinema convencional, o que garante um naturalismo benevolente que faz muito bem ao filme. Caminhando com a câmera e registrando tudo de maneira livre, Anthony Chen não expande os horizontes das pretensões de Ilo Ilo. Ele incita possibilidades, utiliza metáforas, recria uma época não tão distante que ecoa seguramente com a crise mundial. A seu favor está a possibilidade de identificação do público tanto pelas condições contemporâneas quanto pelo relacionamento disposto. A mulher e o menino se dão bem em cena, o filme se dá bem quando centrado neles e enguiça quando se afasta da dupla – o roteiro não dá conta de absorver o infeliz momento histórico com o relacionamento. 
 
O núcleo de relações poderia ser a melhor oferta do filme, mas decepciona na falta de ousadia narrativa, decepciona por não encontrar a veia da história e se apequenar com soluções e decisões pueris. Tudo o que acompanhamos são histórias de rotina dos 4 personagens, com o menino indisciplinado tendo problemas na escola; Teresa buscando ganhar dinheiro a fim de enviar para a irmã que ficou com seu filho recém nascido; e os pais segurando o máximo para não serem vítimas da crise que está chegando ao país. Há toda uma singeleza em volta da trama abastecida com intimidades. Duas ou três cenas ressaltam o quanto Teresa está inserida no núcleo familiar saindo da margem para o centro. A câmera do diretor acompanha tal desdobramento, culminando em uma cena de um acidente e o resultado dessa quando a mulher banha Jiale. O menino comenta algo sobre seu cabelo, algo que tem correlação com um evento no ato final abrupto.

Visto na 37º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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