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Críticas

Cineplayers

Apenas mais um em um gênero já sem muita criatividade.

5,0

Ninguém vai ao cinema assistir uma comédia romântica esperando uma obra-prima. As melhores expectativas são a de acompanhar uma história no mínimo interessante, com um romance que convença, algumas piadas inspiradas e, principalmente, uma boa química entre o casal principal. Ainda que a fórmula não seja particularmente criativa, se um filme do gênero é capaz de preencher esses requisitos, a felicidade da plateia é garantida. Infelizmente, A Proposta, ainda que não seja um total desastre, é uma produção que falha exatamente ao não conseguir satisfazer esses itens em sua totalidade.

O filme conta a história de Andrew Paxton, um jovem funcionário de uma das mais importantes editoras de Nova York. Há três anos, Andrew trabalha como assistente de Margaret Tate, uma profissional reconhecida, mas temida por todos pela sua frieza. Ao descobrir que está prestes a ser deportada, Margaret convence seus superiores de que vai se casar com Andrew e, assim, conseguir o visto para permanecer nos Estados Unidos. Para isso, porém, deverá passar um final de semana com a família de Andrew no Alasca durante a festa de 90 anos da avó dele.

Do início ao fim, A Proposta é um filme realizado no piloto automático. Não há qualquer tentativa de originalidade por parte da diretora Anne Fletcher (Vestida para Casar) ou do roteiro do estreante Pete Chiarelli. A produção segue as regras básicas do manual das comédias românticas, apresentando uma trama completamente previsível e clichê sobre o casal que a princípio se odeia e, aos poucos, vai se apaixonando. Não faltam nem mesmo a separação perto do final, a corrida de um dos personagens para não deixar o outro escapar e, claro, o redentor beijo final. Tudo certinho, tudo formulaico, tudo sem qualquer pingo de ousadia.

Isso, porém, como comentado no início do texto, não seria problema se a produção ao menos acertasse na realização destas regras básicas do gênero. No entanto, boa parte das intenções dos realizadores acaba pela metade, jamais cumprindo aquilo a que se propõe em sua totalidade. E o principal exemplo disso é o próprio desenvolvimento do romance entre Andrew e Margaret. A Proposta apresenta pouquíssimos motivos para que ele possa desenvolver afeição pela chefe que odiou mortalmente por três anos. Na realidade, há um único momento no qual isso acontece (quando ela conta segredos na cama), o que a cineasta e o roteirista parecem achar suficientes para o surgimento desse amor.

Dessa forma, assim que a plateia começa a pensar sobre o que levou Andrew a se apaixonar por Margaret, a resposta não vem. Os dois desenvolvem o sentimento muito mais pelas necessidades do roteiro do que pela história dos personagens, o que faz tudo parecer forçado e irreal. Para piorar a situação, o filme ainda apresenta uma ex-namorada do protagonista que, interpretada com simpatia por Malin Akerman, por diversas vezes parece mais ideal a Andrew do que Margaret, o que impede os espectadores de “torcerem” pelo casal principal.

Muito desse problema deve-se a Sandra Bullock. Especializada nesse tipo de filme, a antiga “namoradinha da América” falha dessa vez ao estabelecer identificação com o público. Por interpretar uma personagem chata e arrogante, exigia-se dela um alto grau de carisma e talento, para convencer que Andrew seria capaz de se apaixonar por ela. No entanto, Bullock não consegue superar essa barreira e, na maior parte do tempo, Margaret continua como aquilo que é no início do filme: uma mulher mimada, insuportável e irritante.

Além disso, sua química com Ryan Reynolds é inconstante: por vezes, os dois parecem funcionar bem, mas em outras não se entende por que motivo poderiam estar juntos. Reynolds, no entanto, revela-se uma grata surpresa como o protagonista. Ainda que não possua grande capacidade dramática, o ator ao menos demonstra bom timing cômico, sendo responsável por boa parte das risadas geradas por A Proposta. Suas expressões de incredulidade, por exemplo, no início de toda a farsa, estão entre o que o filme tem a oferecer de melhor.

Pena que o material com o qual Reynolds – e os demais atores – tenha que trabalhar não colabore para tornar a experiência de assistir a produção algo mais agradável. Os diálogos, por exemplo, são repletos de obviedade e sem qualquer inspiração. Até mesmo algumas cenas que deveriam gerar risadas perdem-se em meio à falta de imaginação. Há alguns momentos constrangedoramente ruins, como as sequências envolvendo a águia e a dança em volta da fogueira, nas quais a diretora demonstra toda a sua inexperiência. O roteiro ainda peca ao criar subtramas que nada acrescentam, como a questão da briga entre pai e filho, mal desenvolvida.

Claro que uma análise muito crítica não cabe aos objetivos de A Proposta. Querendo ou não, as pessoas vão sair do cinema com um sorriso no rosto, pois o filme consegue, ao menos, passar como uma diversão descompromissada. Mas é, indubitavelmente, uma produção falha, mesmo dentro de um gênero já sem grandes arroubos de imaginação. Não vai manchar o currículo de nenhum dos envolvidos, mas também em nada vai acrescentar. Esquecível.

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