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Críticas

Cineplayers

Luz branca no prédio roxo.

7,5
No ano 2000, antes de chegar ao mainstream, o diretor David Gordon Green filmou na Carolina do Norte o longa George Washington. O filme, aclamado por crítica e público, ficou conhecido por sua retórica social em torno de uma história que chega apenas às bordas de um filme infantil. 17 anos depois este filme ganhou um irmão mais novo. Ou melhor, uma irmã. Pois a pequena Brooklynn Prince é a alma de The Florida Project.

Tanto George Washington quanto The Florida Project partem de um relaxamento como se o espaço estivesse à mercê do usufruto; esta opção, junto à mobilidade incessante da câmera, explora um mundo próximo à ruptura com a intenção de sinalizar a dramatização da imobilidade social.

Sean Baker volta aos tempos de Prince of Broadway e une à histeria de Tangerina, seu último filme, para narrar o cotidiano de um bloco residencial na Florida num híbrido de comédia de erros e lamento social ao se aproximar do sufoco financeiro vivido por Halley (Bria Vinaite) e sua filha, Moonee (Brooklynn Prince). Porém a essência mais próxima de The Florida Project na filmografia de Sean Baker está em Starlet, pois é um filme resumido à imagem, que silencia o discurso – a preocupação maior de Baker é justificar as ações dos personagens num jogo de amarração que funciona quase como esquetes, dando ritmo ao filme e sempre entregando alguma constatação pessimista em relação ao futuro do país.

É, portanto, um filme que privilegia a ausência através do deslocamento. Vemos Moonee e seus amigos perambulando, brincando e nestas ações amorfas ao drama que Baker intui suas alegorias fantasmagóricas, já que no cotidiano da menina é que a força do precipício que sua mãe está é analisada. Nas sequências onde Halley e Moonee estão à procura de maneiras de ganhar dinheiro, elas são mera geografia para situar o discurso, afinal ele já está sacramentado desde os primeiros minutos de filme. Da mesma maneira que personagens secundários ganham a mesma geografia dentro deste pensamento – principalmente Bobby, vivido por William Dafoe.

The Florida Project é um filme esquemático – talvez tão esquemático quanto Moonlight pelo ambiente e seus constrastes -, ainda assim muito funcional por criar um diálogo além-prédio e sempre com humor, transplantado cena a cena. É o ponto de ancoragem neste diagnóstico dos Estados Unidos pós-Obama que ainda produz grandes clichês da cultura, em especial os white trash, com contrapartida visual, por vezes explícita, mas que está mais interessada na possibilidade de um futuro melhor.

Visto no Festival do Rio 2017

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