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Críticas

Cineplayers

Da colisão entre três super-heróis nasce um trio em busca uns dos outros.

9,0

Nunca faltaram corpos com Karim; nunca faltarão. Ao menos sua presença etérea, desejada... ao menos ela está presente quando você viaja somente porque precisa, mas volta. Os corpos de Karim já radiografaram paixões, solidões, amores longínquos, uma vida inteira resumida ao movimento do corpo, à leitura sensorial da pele. Karim sempre os filmou com o máximo em proximidade e intimidade, quando os desejos de voltar, chegar ou partir deixavam tudo mais intenso e brutal.

Sempre que assisti Karim observei nele a necessidade febril de invadir a alma através dos poros, e na ausência deles apenas resta a dor. Madames, Suelys, Violetas, todos traduziram na própria epiderme suas convicções, seus anseios, sua selvageria diante da encruzilhada. Agora é a vez de Donato ingressar o coro da urgência dos tempos, do seu tempo.

Donato é o Aquaman, o super-herói marítimo que pode tudo nos mares. Um dia o mar arremessa Donato contra pedras que ele nunca teve coragem de enfrentar. Imbuído pela necessidade de ser, Donato viaja porque precisa e porque ama... e deixa pra trás Ayrton, o Speed Racer, que também é seu irmão. Muitos ano depois, Ayrton ainda busca o seu herói particular que fugiu para a Alemanha atrás de um Motoqueiro Fantasma. Lá Donato se "fantasmagorizou", e desse (re)encontro nasce o mote dessa Praia do Futuro, um lugar onde está justamente enterrado o passado desses três heróis muito humanos.

Cheio de defeitos, o Aquaman hoje é uma sombra pálida do guarda vidas daquela 'praia do passado', um homem que parou no tempo ao enfrentar uma liberdade que não soube suportar. Seu irmão chega pra traduzir o presente e talvez colocá-lo de volta em rota de colisão com suas escolhas nunca encaradas de frente.

Ao transformar seres humanos em heróis de carne e osso, Karim dá a volta por cima e consegue sair do abismo que tinha cavado. Mesmo com um ato final menos conclusivo que gostaríamos de ver, o autor volta fiel ao cinema que parecia ter perdido pelo caminho, graças à ajuda do compositor alemão Volker Bertelmann e da dupla Wagner Moura e Jesuíta Barbosa, atores em perfeita compreensão da proposta de Karim, de mútua decepção e busca pela própria vida. Por fim, a volta para casa... essa fez muito bem a este que é um dos mais inteligentes diretores do nosso cinema recente. E enquanto a velocidade mostra que a vida não espera pela gente, o doce Karim acelera rumo ao desconhecido futuro dos heróis caídos. Enfim homens?

Comentários (4)

Landerson DSP | quinta-feira, 22 de Maio de 2014 - 14:33

Nossa, eu adorei esse filme. Boa crítica.

Eduardo Pepe | quinta-feira, 22 de Maio de 2014 - 19:05

O filme é mesmo belo. Conseguiu deixar claro o estilo dele.

Renan Fernandes | segunda-feira, 26 de Maio de 2014 - 00:12

Filmaço. De encher os olhos.
Achei essa critica e nota mais pertinente que a anterior,

Raphael da Silveira Leite Miguel | terça-feira, 10 de Junho de 2014 - 22:38

Crítica muito bem construída, apesar de curta me fez imaginar todo o enredo e força do diretor.

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