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Críticas

Cineplayers

Os amores efêmeros.

7,0
O encontro do casal principal é causado por aquilo que nos filmes só pode se configurar como acaso, ou empurrãozinho do destino. Ele é americano, ela é francesa e os dois estão fora de suas cidades natais quando se cruzam em Porto – e por mais de uma vez. Porto: Uma História de Amor (Porto, 2016) traz a cidade-título em destaque justamente pelo efeito mágico e romântico que ela exerce sobre os protagonistas. Atuando como um terceiro protagonista, o local evoca a ideia de se apaixonar inesperadamente e encontrar aquilo que sempre procuramos justo no momento em que menos esperamos. 

O diretor paulistano Gabe Klinger erige aqui uma clássica história de amantes contada entre idas e vindas no tempo, um recurso que confere dinâmica para a narrativa e impede aquele arco fácil de ascensão e queda em uma relação. Ao mesmo tempo, é uma narrativa que entrega logo a conclusão da história – não como um anticlimático spoiler, mas como forma de frisar a principal ideia dos romances mais belos do cinema: o que vale não é o final feliz ou não, tampouco a forma como tudo começou, mas sim o que ocorre nesse meio. Se Jake e Mati ficarão juntos, se um é de fato o grande amor da vida do outro, não podemos deduzir, porque Porto também é um filme sobre o tempo, esse deus misterioso que nunca nos permite uma conclusão definitiva sobre nada. O que se firma como uma certeza é somente a beleza urbana e segura da cidade que envolve os amantes, que de alguma forma parece reter em sua atmosfera todos os amores que nascem ali. 

Klinger é um cineasta novato que veio de um documentário sobre os diretores Richard Linklater e James Benning, rodado em 2013. Não é surpresa notar que Linklater seja um dos maiores influentes em seu primeiro longa de ficção. Porto é um trabalho que condensa em um filme só aquilo que Linklater fez ao longo de quase vinte anos com a trilogia Before, composta por Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995), Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004) e Antes da Meia-Noite (Before Midnight, 2013). Claro que sem a mesma maestria na direção e principalmente no texto, ele aposta bastante em longos takes com o casal caminhando pela cidade portuguesa e conversando sobre temas diversos. Ao mesmo tempo, a não linearidade da trama lembra a dinâmica de outros grandes filmes sobre relacionamentos, como Um Caminho Para Dois (Two for the Road, 1967). 

A fragmentação da narrativa, ainda que reforce a ideia da efemeridade das relações humanas, acaba sendo também um empecilho e o cineasta se perde nas idas e vindas, e o ritmo termina prejudicado, culpa também da montagem e edição, que rompe com a singeleza e intimidade construídas em várias cenas. Se Porto começa como uma cidade tão bela e atmosférica para embalar esse romance, logo perde a relevância e passa a ser mero detalhe, pouco aproveitada e constantemente explorada nas mesmas locações. 

Mesmo entre alguns erros próprios de um filme de cineasta iniciante e muito refém de suas referências, Porto: Uma História de Amor cumpre com a proposta de discorrer sobre a beleza melancólica que existe nos términos, no inconcluso, no aberto. Se os amores vem e vão, muito deles permanece e muito deles renasce de repente no compasso de um novo olhar e de uma nova perspectiva, quem sabe também em uma nova cidade. 

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