Spielberg encontra os irmãos Coen e todos saem ganhando.
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8,0
O primeiro encontro entre duas escolas tão distintas de cinema como Steven Spielberg e Joel & Ethan Coen acaba dando uma rasteira em todos pelo equilíbrio e a elegância. Não sou de forma alguma da tribo de detratores de Spielberg (que é crescente); apesar do recente dramalhão Cavalo de Guerra (War Horse, 2011), sou admirador assumido do seu longa anterior Lincoln (idem, 2012), que muita gente acusa de chato, "americano" em demasia ou muito didático, opiniões do qual não compartilho. Sim, Spielberg é afeito ao açúcar, mas seu último filme não padece desse mal, assim como Munique (Munich, 2005) e esse novo, a adaptação do livro de Gilles Whitell feita pelos Coen e por Matt Charman. O filme é o exato oposto do longa de Angelina Jolie Invencivel (Unbroken, 2014), que teve roteiro mexido pelos Coen e onde não vimos coisa alguma do toque deles, parecia um filme sem qualquer personalidade. Aqui não: embora não se trata de um filme dirigido pela dupla, vemos claramente as cenas onde eles têm mais influência e frases tipicamente saídas de suas cabeças.
A Spielberg coube sentar na sua cadeira e construir um universo tão tipicamente seu, no sentido de realização técnica, dentro de um texto alheio. Mas o roteiro respeita acima de tudo as características do seu autor, e já tendo passeado em seara parecida anteriormente, Spielberg se prova grande mais uma vez, contrariando as expectativas negativas. A seu favor ele tem mais uma vez a fotografia de seu parceiro Januzs Kaminski, seu montador Michael Kahn e seu cenógrafo Adam Stockhausen. Quem ficou de fora dessa vez foi o mítico John Williams (será que o maestro ficou muito ocupado com o novo Star Wars?), e no seu lugar entrou a contenção de Thomas Newman, fazendo um belíssimo e milimétrico trabalho.
Na tela acompanhamos Tom Hanks como o típico herói americano, aquele homem sempre acima de qualquer suspeita. Aqui ele é o advogado obrigado por seu escritório a defender um russo acusado de espionagem durante a Guerra Fria. Paralelo a essa ação, um soldado americano é feito preso ao cair em território inimigo e o governo precisa realizar essa troca, que vai caber justamente ao personagem de Hanks, fechando o ciclo da trama.
Se tem algo que fica faltando a um trabalho tão competente é a falta de um viés sub textual, já que o filme opera estritamente no campo da história bem contada e executada, não além disso. Mas Spielberg não é um cineasta onde essa seja uma característica aguçada, não aparecendo sempre. Dessa vez o objetivo aqui era somente cumprir seu papel de artesão imagético, e o filme conta com cenas de fato impressionantes, como a perseguição da abertura do longa, a protagonizada pela ponte do título e todos os exímios diálogos entre o relutante advogado e seu cliente tão sincero e direto nas suas colocações.
A máquina de produzir carisma chamada Tom Hanks está em casa, numa personagem que não se imagina sendo feita por outro ator. O elenco de coadjuvantes é composto por participações pequenas de gente do porte de Alan Alda e Amy Ryan, mas é Mark Rylance quem bate a maior bola com o protagonista e marca gols cena a cena, num trabalho sublime de construção e imersão. Se não fossem as questões patrióticas (que irão fazer a festa de seus detratores) realçadas lá pelas tantas pelo filme graças a presença do soldado e da eterna questão do exército americano em não deixar ninguém para trás, estaríamos diante de um filme irretocável. Do jeito que se apresenta, a sedutora parceria entre o mestre do classicismo e os irmãos da anarquia se mostra um trabalho de excelente naipe, extremo bom gosto e delicada emoção, fazendo jus ao talento de todos os envolvidos.
A Spielberg coube sentar na sua cadeira e construir um universo tão tipicamente seu, no sentido de realização técnica, dentro de um texto alheio. Mas o roteiro respeita acima de tudo as características do seu autor, e já tendo passeado em seara parecida anteriormente, Spielberg se prova grande mais uma vez, contrariando as expectativas negativas. A seu favor ele tem mais uma vez a fotografia de seu parceiro Januzs Kaminski, seu montador Michael Kahn e seu cenógrafo Adam Stockhausen. Quem ficou de fora dessa vez foi o mítico John Williams (será que o maestro ficou muito ocupado com o novo Star Wars?), e no seu lugar entrou a contenção de Thomas Newman, fazendo um belíssimo e milimétrico trabalho.
Na tela acompanhamos Tom Hanks como o típico herói americano, aquele homem sempre acima de qualquer suspeita. Aqui ele é o advogado obrigado por seu escritório a defender um russo acusado de espionagem durante a Guerra Fria. Paralelo a essa ação, um soldado americano é feito preso ao cair em território inimigo e o governo precisa realizar essa troca, que vai caber justamente ao personagem de Hanks, fechando o ciclo da trama.
Se tem algo que fica faltando a um trabalho tão competente é a falta de um viés sub textual, já que o filme opera estritamente no campo da história bem contada e executada, não além disso. Mas Spielberg não é um cineasta onde essa seja uma característica aguçada, não aparecendo sempre. Dessa vez o objetivo aqui era somente cumprir seu papel de artesão imagético, e o filme conta com cenas de fato impressionantes, como a perseguição da abertura do longa, a protagonizada pela ponte do título e todos os exímios diálogos entre o relutante advogado e seu cliente tão sincero e direto nas suas colocações.
A máquina de produzir carisma chamada Tom Hanks está em casa, numa personagem que não se imagina sendo feita por outro ator. O elenco de coadjuvantes é composto por participações pequenas de gente do porte de Alan Alda e Amy Ryan, mas é Mark Rylance quem bate a maior bola com o protagonista e marca gols cena a cena, num trabalho sublime de construção e imersão. Se não fossem as questões patrióticas (que irão fazer a festa de seus detratores) realçadas lá pelas tantas pelo filme graças a presença do soldado e da eterna questão do exército americano em não deixar ninguém para trás, estaríamos diante de um filme irretocável. Do jeito que se apresenta, a sedutora parceria entre o mestre do classicismo e os irmãos da anarquia se mostra um trabalho de excelente naipe, extremo bom gosto e delicada emoção, fazendo jus ao talento de todos os envolvidos.
Ótima crítica, Carbone. Só, diferente de tu, achei que houve um pouco de açúcar demais na construção da aura de herói do protagonista, vide a fotografia que joga luz nele o tempo todo. Ainda assim, o filme é muito bom, e ,como tu bem destacou, o estilo clássico de Spielberg e os toques dos Coen no roteiro casaram perfeitamente.
Vamos ver se tem alguma chance nas premiações que logo começam...
Se este for um dos escolhidos para integrar a cota mais conservadora nos prêmios, ótimo, é um belo filme - sequer comparável com as bostas que fizeram parte da fração correspondente deste ano, as biopics britânicas, rs. Mas, mesmo que não apareça (o que é difícil), Rylance merece estar no bolo, o cara 'tá bem foda.
O único "porra, Spielberg" que este filme tem são os "please, sir", "yes, sir" etc., o tratamento cheio de dedos com que o soviético é tratado nos EUA. Fora isso, não vejo muito patriotismo não, já que Tom Hanks está o tempo inteiro contra toda a América, que quer ver o sangue do cara, além do que é bem reforçada a ideia de que o devido processo ali era mero formalismo. Mesmo isso de não deixar ninguém para trás é sempre contestado pelos agentes da CIA.
É um filme humanista, na verdade, a cena da defesa sustentada na Suprema Corte deixa bem claro. Todo mundo importa porque somos gente, antes de qualquer coisa, e esse é o ponto.
A combinação Hanks + Spielberg sempre rendeu bons frutos, com o roteiro dos Coen então...