Eficiente em propor o debate e gerar reflexão sobre os temas abordados.
O alemão O Peso da Culpa (Schuld Sind Immer die Anderen, 2012) cresce progressivamente e lentamente em tensão sem apelar à emoção barata e sem perder a capacidade de gerar reflexão constante sobre os temas centrais. O fio condutor da história é Ben, um jovem delinquente preso por diversos roubos, nos quais chegava inclusive a agredir fisicamente as vítimas. De comportamento violento e arredio, ele recebe a oportunidade de deixar a cadeia e ir para um reformatório juvenil isolado no meio do campo.
Vendo na transferência uma oportunidade de fuga, aceita se submeter a esse método alternativo de punição. Lá, suas perspectivas começam a mudar, mas ele fica atormentado ao perceber que Eva, coordenadora e assistente social do reformatório, foi uma de suas vítimas. Pior: ela perdeu o bebê por conta das agressões durante o roubo. Neste assalto, ele não havia sido identificado pela polícia. O clima vai ficando insustentável quando Eva começa a desconfiar que o rapaz é o seu agressor, até então impune. A punição, portanto, vem sob outra forma: nada de castigo social, mas moral.
A discussão formada a partir deste cenário é sobre culpa, arrependimento e perdão. Eva e seu marido são os gestores do projeto experimental de reformatório inclusivo, agem para recuperar os jovens que acolhem. Fazem reconciliações entre vítimas e os rapazes, ensinam a importância de se desculpar, de assimilar o erro, de se arrepender e também a grandeza de perdoar. O discurso do casal é exemplar, e também correto, mas como agir racionalmente quando a vítima não são os outros?
O Peso da Culpa, antes de tudo, é honesto ao traçar inicialmente Ben como uma pessoa desumana e repugnante, mas com um quê de humanidade reprimida. Nada de simpatia entre o protagonista e o público, mas nada de ódio. Afastados esses sentimentos, a discussão da árdua tarefa de se recuperar uma pessoa é racional. A mensagem é clara: é possível. Para isso, o sistema punitivo deve ser inclusivo, educativo, e não simplesmente repreensivo. A visão sobre o problema é absolutamente social.
Outro ponto debatido é o perdão. Este parece possível quando há distanciamento, mas tarefa quase impossível quando se é vítima. Toda a sequência final, aliás, fecha muito bem o discurso acertado sobre o tema.
O filme tem pontos problemáticos, mas todos com a mesma causa. A pouca experiência do diretor Lars-Gunnar Lotz se faz sentir em momentos nos quais falta delicadeza para a narrativa. Isso porque certas passagens, apesar de serem poucas, soam simplistas ou mesmo artificiais. É o caso, por exemplo, do momento em que o companheiro de quarto de Ben descobre que foi ele o responsável por Eva perder o bebê. A sequência, da forma que ocorre, parece artifício mal desenvolvido para levar a história adiante.
Por detalhes, O Peso da Culpa se enfraquece, mas não perde nunca a capacidade de gerar reflexão sobre arrependimento, correção de transgressores - desde que em um sistema humano e profissional - e a difícil tarefa de perdoar. Existem os campos das possibilidades e do real. O filme mostra os dois, opta pelo segundo, e aí se engrandece, tornando os deslizes narrativos bem menores em importância.
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