Calebe Lopes é um jovem cineasta baiano em evolução. Muito jovem em idade, mas com filmografia crescente através da Olho de Vidro Produções, ele trabalha aqui em parceria com Chris Mariani, que assina com ele também roteiro, fotografia e montagem, além do protagonismo, e deixa clara essa evolução que pode levá-lo a voos cada vez mais interessantes. Seu olhar parece procurar agora outros espaços de ocupação imagético, quase criando um díptico-opositor a A Noite Mais Longa da Minha Vida, filme igualmente enclausurado, embora dependente da escuridão noturna para se fazer valer. Se lá o espaço ocupado era terrestre, aqui a clausura no apartamento - espaço de elevação - permite uma criação narrativa diferente, além da claridade exigida pela própria situação-limite fílmica.
A pegada "ficção-científica brega" (como definida pelos próprios realizadores) de Pelano! vai pelo tom farsesco e politizado, instituído já na cartela inicial explicativa da produção; no futuro, depois de atitudes governamentais absurdas, a camada de ozônio foi enfim perfurada, as ondas de calor devastadoras, e o aconselhamento a população é não sair de casa, sob o risco de combustão espontânea - noticiada pela mídia e propagada pelo próprio governo. Com isso, as pessoas vivem em exílios auto-perpetrados em seus próprios espaços. Por si só, essa premissa já abre um número de debates e conotações bem amplo, por onde poderíamos incluir a dominação populacional e a inércia da mesma diante do dito inevitável.
A protagonista passa por um dia específico onde suas ações para acabar com sua angústia mediante a temperatura elevada não surtem qualquer efeito, e na curta duração do filme a vemos tentar incutir esse mesmo incômodo no público, não necessariamente bem sucedido, talvez culpa dessa duração excessivamente reduzida. Isso não importa muito, porque desde o início o filme se vende como uma jocosa brincadeira com a repressão na qual vivemos sistematicamente, e com o processo de adormecimento na qual vivem muitos de nós hoje, tão imersos em problematizar que não conseguimos observar o caminho da resolução dos mesmos problemas. Os signos políticos se sucedem imageticamente também, sem necessariamente dizerem a que veio pro corpo narrativo.
Ao se encerrar na frontalidade do confronto público, expondo que a auto comiseração e a inércia não levam a resolução mas talvez a coragem da exposição sim, Calebe e Chris fecham muito bem seu curtíssimo tratado político exigindo o posicionamento efetivo ao invés da clausura. Na graciosa, punk e totalmente brega (obrigado por me permitir usar a expressão, realizadores) sequência final, uma libertária Chris se percebe empoderada do que o governo e as altas castas do poder nos cerceiam diariamente - em busca do futuro, sem medo do mesmo, pronta para tudo; batem asas, Calebe e Chris.
Crítica da cobertura do 52º Festival de Brasília
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