Não se surpreenda caso ao iniciar a exibição de Padre (Priest, 2011), uma sensação de familiaridade, de déjà vu, lhe tome a mente. Não é mera coincidência. O caso é que os responsáveis por esta obra costuraram as fórmulas narrativas mais básicas (no significado mais pejorativo desta palavra) para dar vida a uma trama de “super-heróis”. Isso mesmo, este é um filme de “super-heróis”, onde o aparente contexto religioso, sugerido não apenas pelo título, é apenas o ensejo utilizado para que as criaturas noturnas tenham nos sacerdotes inimigos à sua altura.
Desse modo, a instituição religiosa funciona somente como um palco para que a ação possa acontecer, uma vez que os padres são os guerreiros incumbidos de protegê-la de ataques inimigos. A igreja acaba sendo então representada através de personagens pobres e pedantes, que pouco fazem a não ser pronunciar discursos superficiais a respeito dos votos da obediência e da submissão. Os conflitos maniqueístas revelam de imediato a fragilidade do texto, e em nenhum momento sequer essa fraqueza é contornada, nem ao menos pela ação proposta por recursos técnicos fáceis e batalhas sem emoção. Aliás, este é um elemento do qual o filme é completamente desnutrido: a emoção. Uma vez que há certo apelo sobre relações familiares e as tentativas de despertar a empatia do espectador soam totalmente inválidas.
Paul Bettany, que já havia emprestado seu semblante fantasmagórico ao sacerdote Silas em O Código da Vinci (The Da Vinci Code, 2006), retorna ao mesmo ofício como o protagonista deste longa; no entanto, distante de seu fanatismo lunático na adaptação de Ron Howard, aqui ele é um personagem absolutamente oco, de motivações sempre evidentes desde o início da projeção. O roteiro (e a interpretação de Bettany) o desenha sempre como o clichê maior de um guerreiro soturno (basta visualizar seus trejeitos e expressões), um herói misterioso que dará o primeiro passo rumo à destruição dos vampiros, do mesmo modo que desmascarará a omissão da igreja a respeito da existência dos seres noturnos.
Se o roteiro não consegue distanciar-se da previsibilidade a todo o instante, o mesmo caminho é traçado pela direção de Scott Stewart, que apela sempre para movimentos de câmera óbvios (observe, por exemplo, a posição da câmera no rosto da sacerdotisa, quando sua reação se altera ao ouvir a sentença do monsenhor), e uma narrativa que de tão acelerada tropeça nas próprias pernas. A ação do filme é completamente gráfica, e com isso ele tenta redimir a infertilidade dos diálogos e a inexpressividade das atuações. E mesmo contando com esse ritmo desenfreado, a narrativa segue sempre cansada, sem qualquer ânimo que possa reverter aquele marasmo.
Padre tenta converter um fiapo de história em uma aventura pirotécnica de grande escala, um jogo de ação, com batalhas extraordinárias e um ritmo hipnotizante. O mais absurdo disso é ter a noção de que os responsáveis por esse projeto parecem mesmo acreditar nesta sugestão de espetáculo, e tudo fica evidente com a frase de encerramento que propõe uma sequência para essa jornada do soldado renegado, declarando o princípio de uma guerra que ainda se intensificará naquele mundo apocalíptico.
A enjoativa invocação pelos efeitos gráficos transforma a película em uma exibição essencialmente oca, que nada tem a apresentar senão um par de demonstrações estéticas. Essa falta de conteúdo, de profundidade, compromete até mesmo os recursos visuais (a ação ilustrada) utilizados para acionar o entretenimento, visto que o núcleo técnico torna-se um mero capturador de imagens que só estão lá porque têm que estar. Nada têm a dizer, a transmitir ou mesmo a representar. São somente figuras em movimento que definem o que o filme é, em suma: um vazio absoluto.
Essa bosta de filme é um daqueles tipos que, mesmo com a pouca duração, parecem demorar uma eternidade para acabar.
A crítica está ótima (aliás, parabéns à equipe pelo excelente trabalho das útilmas semanas) e justifica muito bem o que o "filme" é.
Concordo com o Thiago. Um dos filmes mais enauseantes que estrearam em cadeia nacional neste ano. Talvez fosse interessante como curta-metragem...
Ao contrário de muitos, achei o filme excelente - em suas proporções, óbvio, pois é mais do que evidente as limitações do filme.
O grande problema é que insistem em avaliar um filme de pequeno porte e sem nenhum compromisso com o verdadeiro cinema, como se fosse um filme do verdadeiro cinema.
O filme, pelo menos comigo, conseguiu me prender na estória que, apesar de vazia e "oca", consegue divertir. E sua curta duração é, sem dúvidas, o ponto mais positivo de todos. Se fosse um filme grande aí sim, para mim, seria um "marasmo".
Acho que precisamos ser mais flexíveis com determinados filmes e não os avaliar como se fossem aqueles que têm algum compromisso com o verdadeiro cinema.
Achei o filme bom, apenas. Nem tão pra lá, nem tão pra cá. Só, talvez, um tanto longo para a pouca história.