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Críticas

Cineplayers

O importante é acreditar.

5,0

Esqueça a cantoria alegre, as danças, os pulinhos pela estrada de tijolos amarelos, as mãos dadas, os sapatinhos vermelhos, os cenários de estúdio e a melodia de Over the Rainbow. Esqueça até mesmo Dorothy, Totó, o espantalho descerebrado, o homem de lata sem coração e o leão covarde. Em Oz: O Mágico Poderoso (Oz: The Great and Powerful, 2013), novo filme de Sam Raimi, sobra bem pouco da história original de L. Frank Baum e do clássico de Victor Fleming, eternizado pela famosa trilha sonora, pela ousada mistura de fotografia colorida com branco e preto, e por Judy Garland vestida e penteada feito uma boboca e interpretando uma personagem dez anos mais nova do que ela.

Oz: O Mágico Poderoso se esquiva da tendência hollywoodiana atual de refilmagens de clássicos, mas inevitavelmente segue pelo caminho que leva à outra tendência também famigerada: a de inventar prequels para tudo que é história. Tudo agora precisa de um por que, de uma razão, de uma raiz ou de uma gênese – até porque Hollywood ainda precisa de grana, e enquanto essa ideia de ficar inventando origens der dinheiro, ela continuará sendo usada e reusada até ninguém mais aguentar e acabar saindo de moda. Portanto, surge uma necessidade súbita de entendermos como é que aquele mágico falsário foi parar atrás daquela sala escondida por cortinas, governando a cidade das esmeraldas, até ser descoberto por Totó. Coube a Sam Raimi inventar essa jornada e, claro, preparar uma deixa para que uma continuação – essa sim uma refilmagem oficial de O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939) – surja futuramente, contando a história que nós já conhecemos.

No caso, Oz seria o apelido para Oscar Diggs (James Franco), um habilidoso e picareta mágico de um circo itinerante, que depois de entrar em um balão para fugir de um fortão com quem arrumou briga, acaba sendo levado por um tornado para a mágica terra de Oz, que acaba de perder seu rei e tem o trono agora disputado por duas bruxas. Uma delas é a perversa Evanora (Rachel Weisz) – uma equivalente da Bruxa Má do Leste – e a outra é a bondosa Glinda (Michelle Williams), a Bruxa Boa do Sul. Entre elas há ainda Theodora (Mila Kunis), uma bruxa “meio-termo” que se apaixona por Oz e que, após ter seu coração partido pelo falso mágico, acaba se transformando na famosa Bruxa Má do Oeste. Segundo uma profecia proferida pelo pai de Glinda antes de morrer, um mágico surgiria para livrar a Cidade das Esmeraldas da mão de Evanora, e todos acreditam que o tal salvador é Oz.

A história inventada para dar precedência à clássica de L. Frank Baum é das mais ordinárias, uma colagem de um montão de filmes Disney, em especial Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010), de Tim Burton. Na verdade, é exatamente a mesma história de uma terra encantada, habitada por seres extraordinários e dominada por uma monarca usurpadora que oprime o povo, e com uma lenda de que um herói de uma terra distante apareceria para livrar a todos. Inclusive, se for julgar pelos belos créditos iniciais, poderíamos dizer que se trata de um trabalho do Tim Disney Burton dos últimos anos, até Sam Raimi aparecer com sua veia trash e oferecer algumas quebras leves e rápidas nesse quadro perfeito (como na cena em que Evanora se deteriora, evocando a velha encapetada de Arraste-me para o Inferno [Drag me to Hell, 2009]).

Mas são poucos os momentos em que o diretor toma liberdades (entre esses poucos está uma engraçada indireta, ao retratar na figura de Theodora, a mulher como um ser tremendamente vingativo quando tem seu coração partido, a ponto de se transformar numa verdadeira “bruxa”). Como aconteceu com Tim Burton, a Disney acabou oprimindo qualquer vestígio de criatividade para impor suas lições de moral chatíssimas até para crianças, acarretando assim os inevitáveis “discursos finais”, e mostrando o protagonista aos poucos ir deixando seu coração amolecer e mostrando que, no fundo, ele é sim uma pessoa de boa índole que só fará bem ao reino encantado de Oz. E para isso temos um elenco complacente, que parece que só está ali para divertir as criancinhas, em uma narrativa quase episódica, onde o herói deve ir vencendo obstáculo por obstáculo, como se estivesse passando de fase em um jogo de videogame (o visual mega computadorizado e aquele apuro técnico que enche os olhos de tão detalhado e colorido contribui para esse efeito indesejado).

Das heranças que ficaram do Mágico de Oz original podemos destacar principalmente duas: a fotografia que começa em preto-e-branco (quando Oz ainda está no nosso mundo comum), e depois ganha cores (a partir do momento em que ele chega a Oz) – uma linda referência, bem aproveitada por Raimi. E a segunda é a revitalização da principal lição de moral da história original, sobre a importância de acreditar em si mesmo. As coisas só começam a dar certo na trama quando Oz passa a acreditar, com a ajuda de Glinda, em suas próprias habilidades. Mesmo não sendo um verdadeiro mágico, ele pode sim salvar aquele povo com sua mágica particular, a partir do momento que conseguir fazer com que todos ali acreditem em sua falsa identidade. O mesmo acontecia na trama original, quando Espantalho, Homem de Lata e Leão passavam a acreditar que tinham, respectivamente, um cérebro, um coração e a coragem, apenas pelo fato de o mágico de Oz afirmar ter concedido a eles os pedidos. Na verdade, eles tinham desde o começo, mas somente com a credibilidade dada por um dito mágico que eles passaram a acreditar em si mesmos.

Por fim, o grande ponto positivo de todo o filme acaba sendo essa mensagem do poder da ilusão, de fazer acreditar, e a forma como Raimi associa essa mensagem com o próprio cinema. Através de um recurso puramente cinematográfico que Oz consegue convencer todos no povoado, inclusive as bruxas, de que é um grande mágico. Para Raimi, o cinema é o grande herói de sua história, porque somente ele é capaz de fazer todos acreditarem em Oz, e somente ele é capaz de nos fazer acreditar naquele mundo mágico da tela. Certamente se o filme fosse melhor desenvolvido, seria muito mais fácil embarcarmos nessa ideia e nos deixar “iludir” e encantar por aquele universo recriado por Raimi. No fim das contas, a sensação é de que somos como o Totó da trama original, que depois de se impressionar com todo aquele visual alucinógeno da Terra de Oz, acaba se decepcionando ao flagrar o mágico naquela salinha, manipulando seus espectadores. A partir do momento em que isso fica muito evidente, a ilusão se acaba e o encanto se vai.

Comentários (18)

Alexandre Koball | terça-feira, 09 de Julho de 2013 - 08:06

Melhor do que o esperado. Mas por muito pouco...

Anderson de Souza | terça-feira, 09 de Julho de 2013 - 19:12

Eu até que gostei tbm. Suficiente pra um 6

Vinícius Aranha | terça-feira, 09 de Julho de 2013 - 19:18

Não é ruim, mas também não é bom. Me deu mais foi sono, apesar de ter seus momentos.

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