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Críticas

Cineplayers

Ótimo final e algumas cenas assustadoras fazem de O Orfanato um filme muito bom de terror. Apesar dos clichês.

7,0

Dizem as boas línguas que quem faz bom cinema de terror atualmente são os latinos. Após o encanto com os asiáticos ceder um pouco depois de inúmeras frustrações e repetições incessantes do mesmo tema, realmente alguns diretores, sobretudo do México e da Espanha, estão mostrando trabalhos interessantes no gênero. O Orfanato, do espanhol Juan Antonio Bayona, vem sendo aclamado como uma renovação  desse tipo de filme, mas na prática não é para tanto. Porém, dentro de um período de vacas magras, o filme de Bayona excede-se em qualidade, e é isso que tentarei expôr daqui em diante.

Isso porque O Orfanato é uma compilação muito bem feita dos mesmos clichês tão presentes no cinema de terror entediante de Hollywood. Aquele onde o ponto alto é a subida dos créditos finais, após 90 minutos de chateação com tentativas frustradas de fazer o espectador segurar-se na poltrona. Filmes assim vêm aos montes, quase sempre em outubro, por conta das comemorações do Halloween. O Orfanato, então, se não fosse falado em espanhol e tivesse algum rosto mais conhecido, poderia muito bem ser vendido nos multiplexes norte-americanos. Ainda assim, no final das contas, esse terror espanhol consegue terminar bem acima da média do gênero. E por quê?

A começar pelo seu final, engenhoso ao extremo. Desde o início do filme fica claro que será um daqueles trabalhos com uma reviravolta no final. Simples e quase totalmente óbvio (o que certamente decepcionou a muitos, por isso ele não é universalmente bem aceito), o final proporcionado pelo roteiro do também espanhol Sergio G. Sánchez consegue costurar muito bem quase todas as pontas (ainda que de forma um tanto quanto forçada) e salvar o filme da quase total mediocridade. Para chegar a ele, porém, somos submetidos a uma enxurrada de clichês bem desagradáveis. Não que o final seja magistral. Não compare com o final perfeito de O Sexto Sentido, por exemplo, pois não chega nem perto. Ainda assim, é um raro lampejo de criatividade e desconstrução, pois todas as cenas do filme até seu clímax foram feitas, muitas vezes de forma propositalmente confusa, para nos levar a esse momento. Sim, uma enganação ao espectador, mas uma enganação interessante.

Mas ainda bem que não é só pelo ótimo final que O Orfanato consegue se sobrepôr à média do gênero. Aí os méritos não ficam somente no roteiro. O diretor Bayona acabou nos entregando algumas cenas de gelar a espinha. Não são sustos, pois todos os melhores momentos são facilmente antecipáveis e, mesmo assim, fica difícil não sentir um calafrio quando o que você sabe que irá ocorrer de fato ocorre. Nesse sentido, o filme lembra outra obra-prima recente do gênero – Os Outros, também um filme espanhol. Os personagens são secundários (até porque o tema de crianças + fantasmas já está esgotado), o que importa mesmo aqui é o clima proporcionado pelo diretor e pelo roteiro, e o clima aqui é muito bom.

Tecnicamente, O Orfanato é um filme lindíssimo, de fotografia bela e cenários muito bem arranjados, propícios para uma boa história de fantasmas. Mas o destaque vai mesmo para a direção de arte, caprichadíssima, fazendo com que os principais momentos do filme pareçam crepitantes como devem ser. Sonoramente falando, o filme utiliza-se do velho clichê de tentar assustar com acordes agudos e repentinos, mas com uma moderação perfeitamente aceitável, o que garante que ele não chegue a ser irritante nesse sentido. A  montagem é bem tradicional, mas o diretor acerta ao não mostrar muita coisa, provando saber que às vezes a sugestão é melhor do que o real.

Se tivesse sido lançado antes de O Sexto Sentido e Os Outros, mesmo apesar de seus clichês, O Orfanato poderia muito bem ser considerado uma obra-prima do gênero (ou pelo menos algo próximo disso). Mas a existência desses dois filmes em particular certamente diminui a sua importância, pois ele acaba fazendo o que ambos fazem, mas de forma não tão espetacular – porém, ainda assim competente e agradável. É um raro repertório de bons momentos de gelar a espinha, proporcionados por um clima tenso, esporadicamente estragado por clichês primários e irritantes, além de personagens não muito bons. Talvez você não concorde comigo com relação ao final, mas arrisco a recomendação sem ressalvas aos fãs de filmes de suspense e terror.

Comentários (1)

Moisés Costa Lins | segunda-feira, 08 de Abril de 2013 - 11:12

Realmente é inevitável uma comparação com O Sexto Sentido, talvez seja isso que enfraquece o filme, pois ele torna-se uma tentativa de cópia.

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