Muito inferior ao original, Olhos Famintos 2 cede a clichês horríveis.
Olhos Famintos – o original – foi um filmaço até a sua metade. Com um clima de suspense estonteante, uma atmosfera tensa, e situações convincentes, que deixaram muitos espectadores grudados na poltrona, o diretor Victor Salva (o mesmo dessa seqüência) conseguiu criar uma obra de terror bem interessante, talvez até o que seria um futuro cult ou clássico. Mas aí o monstro do filme foi revelado, e ele virou apenas mais um entre dezenas de filmes de perseguição a adolescentes, previsível e redundante. Esta segunda parte começa de onde o primeiro parou: a cada 23 anos, durante 23 dias, o monstrengo sai para se alimentar de humanos, e o filme começa na véspera do último desses dias.
Um ônibus levando um time de basquete por uma rodovia acaba sendo interceptado pelo monstro no condado em que ele ataca, e basicamente este é toda a história que o filme tem a oferecer. Uma grande perseguição do monstro atrás dos adolescentes do ônibus (claro, algumas garotas para complementar), ao mesmo tempo que um pai enfurecido com o animal que matou seu filho tenta caçá-lo até a morte. O filme tem uma estrutura parecida com a do horroroso e recente No Cair da Noite, onde outro ser “sobrenatural” persegue o tempo todo um grupo de pessoas até o confronto final, que é tão chato quanto o resto do filme.
Mais ainda que o seu antecessor, o diretor dá a este filme um caráter totalmente trash, de filme B, com uma criatura muitas vezes mal feita, seja em maquiagem ou computação, em situações ridículas, e com algum humor barato (há mais risadas do que tensão na sala de projeção). O pior de tudo é o humor não-proposital, quando o filme quer ser sério e chocante, mas só provoca risadas. Geralmente os filmes B (um sub-gênero do terror que eu geralmente aprecio) divertem com suas criaturas mal feitas e situações risíveis, mas infelizmente não é o caso de Olhos Famintos 2.
O filme conta com uma infinidade de incoerências e furos de roteiro. Só para citar um: o pai e o filho que caçavam o monstro encontram uma caminhonete atacada pelo monstro, e de lá vão em encontro ao ônibus dos jovens parado na rodovia. Fica bem claro que dezenas de quilômetros separam os dois lugares, pois o pai fala que “demorarão um tempão para chegar até o ônibus”. Mais tarde, no filme, um grupo de jovens que foge do ônibus, encontra À PÉ a mesma caminhonete, depois de andarem ou correrem não muito tempo. Enfim, ficou bem claro que a produção do filme foi muito mal realizada, e cuidados com a história (com o pouco que existe dela) não foram tomados. O que falar da teoria de que o monstro escolhe deliberadamente apenas algumas poucas vítimas para atacar, quando na prática ele ataca quem vê primeiro!? É melhor nem falar nada!
Obviamente, para quem não exige muito de um filme, e quer apenas 90 minutos (ou um pouco mais, no caso) de diversão descompromissada, Olhos Famintos 2 pode sim ser um passatempo razoável (mas você deve realmente ser MUITO POUCO exigente para aceitar o filme como divertido). O filme rende sustos só para quem não está acostumado às montanhas de clichês que aparecem a cada minuto na tela (e como já disse, o resultado final é a favor das risadas, em relação aos sustos). O mais frustrante é que a lenda criada por trás do monstro é interessante (o final relembra os bons momentos do primeiro filme), e poderia ter sido melhor aproveitada, criando-se um filme com suspense e conteúdo decentes, não apenas uma grande cena de ataque a adolescentes sem cérebro no meio de uma estrada deserta à noite.
A boa notícia é que o filme ficou abaixo do esperado nas bilheterias, e dificilmente receberá outra continuação (se bem que eu não me surpreenderia se isso acontecesse), mesmo que haja rumores de que o terceiro filme explicaria como o monstro surgiu para o mundo. É aguardar pra ver. Em todo caso, há opções muito melhores nos cinemas neste exato momento (e mesmo que esta crítica seja lida um ano depois de escrita, ainda assim acredito que haverão melhores filmes do que este – sempre haverão). Vá se realmente for a sua única opção (mais ou menos o que aconteceu comigo), por sua conta e risco.
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