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Críticas

Cineplayers

Bom como passatempo, ruim como arte.

5,0

Obsessiva conseguiu certo sucesso no circuito americano, chegando a alcançar o topo da bilheteria semanal norte-americana em seu lançamento, apesar de ser um filme genérico sobre psicopatas, relacionamento, fidelidade e confiança. Esse holofote é graças à presença de Beyoncé Knowles no elenco, uma das atuais “queridinhas da América”. Simpática, talentosa como cantora, volta e meia faz suas investidas no cinema, como em Dreamgirls - Em Busca de um Sonho e A Pantera Cor-de-Rosa, ambos de 2006, mesmo que não demonstre talento absoluto para a carreira de atriz.

Surpreendentemente, Obsessiva não é ruim como uma primeira passada de olho na sinopse pode mostrar: Derek Charles (Idris Elba) é vice-presidente de uma grande empresa de negócios, bem casado com Beth (Beyoncé) e feliz no seu emprego e com um lindo filho pequeno. Quando uma bela temporária (Lisa, interpretada por Ali Larter, da série Heroes, bem mais magra do que o habitual) chega para ser sua assistente, uma atração entre os dois cria certas faíscas no relacionamento entre Derek e Beth, principalmente quando ele resiste fielmente às investidas da femme fatale Lisa, que faz de tudo para que Beth acredite que há realmente um caso entre os dois. As coisas tomam proporções em bola de neve e vocês todos já sabem como isso irá acabar.

Denominado suspense, é muito mais um drama familiar light do que qualquer outra coisa. Lisa quase nunca soa ameaçadora, parecendo muito mais doente de solidão do que de psicopata. O nome original, Obsessed, relaciona melhor a situação do que o nacional, que foca apenas nessa personagem: não é apenas Lisa que está obcecada por Derek; em diversos momentos, percebemos como Derek está envolvido na situação de maneira obsessiva e como sua mulher, Beth, é obsessivamente ciumenta, a ponto de não ouvir o marido e nem ficar ao seu lado quando ele mais precisa.

Um pouco machista (os cargos importantes da empresa são 100% de papéis masculinos, com direito a uma festa onde as esposas não podem ir, apenas as amantes), tenta criar um vínculo mais profundo com a personagem de Beyoncé, ao tratar dos sonhos que ela deixou para trás ao ser mãe, mas não adianta, o filme é de Idris e toda essa tentativa de trazer Beyoncé para o primeiro plano soa forçada e falha. O final então, patético, ao colocar Beth em evidência para o “conflito final”, quando esse conflito foi gerado, inteiramente, durante todo o filme, entre Derek e Lisa, e não entre Lisa e Beth.

Porém, surpreendentemente, o filme é melhor do que todo este texto pode ter indicado. Não chega a ser bom, mas é contado de maneira bastante fluida que deixa tudo bem acessível - ponto para a montagem, por manter o tempo preciso de todas as cenas, e para o roteiro, ao criar diálogos naturais e situações que duram o tempo certo e que acontecem de maneira crível dentro do desenrolar da história – exceto, vale ressaltar mais uma vez, o final deslocado. E, ao focar mais no drama do homem que vê uma situação teoricamente simples sair de seu controle e tomar proporções não controláveis, ao invés do suspense banal a cada cena, ajudou a manter o interesse pela história já batida e revisitada inúmeras vezes ao longo dos anos.

Em um filme com Beyoncé no elenco, é óbvio que a trilha sonora chama a atenção. Apesar de assinar apenas uma das canções do longa, todas as músicas escolhidas para o filme seguem o estilo da cantora; inclusive os vocais femininos claramente tentam ser uma nova Beyoncé ao imitá-la a cada palavra que cantam. Bem filmado, tropeçando apenas em um momento ou outro tecnicamente (o embaçado para representar a óbvia sensação de mal estar é cafona), não ofende o público tentando ser algo que sabe que não é. Seu maior mérito é não ficar entediante um segundo sequer, ser completamente acessível. Bom como passatempo, ruim como arte.

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