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Críticas

Cineplayers

A saída pelo humano.

9,0
Espelho de partidas, as vidas doméstica e profissional de Olivier estão em consonância de falência. De um lado, ameaças de desemprego na fábrica onde trabalha o coloca na difícil missão de decidir entre amigos para dispensa; do outro, sua mulher está em silencioso colapso gradual que a pressão do dia a dia não o deixa perceber, afetando a segurança familiar. Co-produção franco-belga, A Nossa Espera observa uma Europa em franca decadência monetária, a ponto do descontrole emocional, construindo um retrato possível para um período que trabalha em espiral de desespero. Qual a saída para esse deserto que arrasa o interior e o exterior?, é a pergunta que o filme tenta responder, com o humanismo em primeiro lugar.

Para uma parcela grande da crítica, o cinema europeu tem apresentado uma visão demasiadamente cínica e misantropa da humanidade. Em paralelo a esses filmes mais cáusticos, tantos como o longa de Guillaume Senez aparecem, promovendo a conciliação, a conexão, o afeto e a vontade de conjugar esses verbos tão fora de moda hoje. Para isso não bastam as intenções narrativas, mas também as lentes e as escolhas do que filmar. Quando a direção de arte da produção mostra um local de trabalho efetivamente organizado em detrimento do caos doméstico, há uma mensagem não-verbal sendo dada ai. Aos poucos esses dois cenários parecerão trocar de perspectiva, sugestionando a gangorra onde o protagonista está preso.

É como se o melhor do cinema calcada no humano de hoje, se encontrasse com o cinema produzido no passado, mais especificamente pela tessitura sensível que o cinema dos anos 70 produziu, como um amálgama entre 'Norma Rae' e 'Kramer vs Kramer', observando o melhor de dois mundos, como se 40 anos depois a aproximação voltasse a fazer sentido pelo Homem, pelo melhor dele, que pode fazer renascer não apenas as relações humanas e trabalhistas, mas acima de tudo o próprio cinema, reconstruindo uma versão menos amarga do mesmo. Sem o olhar explícito para a esquerda como Ken Loach, mas tendo a noção de que o melhor da arte esteja também no melhor dos seres, criando a partir dessa união.

Senez vai além de criar o clima acertado para tal, ele transforma a narrativa através do que escolhe e de como filmar. A realidade de Olivier vai além do seu ambiente de trabalho e dos cômodos de sua casa, mas do vazio que se instala nele diante dos últimos acontecimentos. Romain Duris demonstra segurança desde a primeira cena, mas aos poucos percebemos que a direção encontrou nele uma forma de traduzir a inoperância atual em relação ao desconhecido, a ser pego pela inevitabilidade. Conforme sua gangorra penda de um lado a outro, Senez utiliza do talento de seu protagonista para ilustrar o mal-estar que a sociedade europeia deixou vazar interromper suas vias, através da crise. E ficamos cada vez mais certificados de que a moral foi tão abalada quanto as contas bancárias.

O filme se afasta então do cinema que hoje é atacado por seu niilismo, e busca a humanidade para além de seus tipos. Cada revestimento de atitudes dos personagens, mesmo as mais radicais e definitivas, vem carregadas de sentimentos humanos, de resoluções que buscam a libertação, apesar de tudo. Os amplos espaços de trabalho de Olivier contrastam com o aperto de sua vida privada, até que toda aquela estrutura larga começa a dar defeito, literalmente. A limpeza familiar tambem começa a ser vista (graças a participação especial de uma delicada Laetitia Dosch), ainda que a ausência seja sentida. O que se encerra com o desfecho do filme é a angústia da espera do título em português, arrefecendo ali. A partir de seu último quadro, imaginamos a busca por uma  estabilidade emocional procurada na Europa de hoje, que entende sua crise mas que precisa enfrentá-la. Com maturidade e a real dose de clareza, toda expectativa cessa e dá lugar a evolução, que se analise e tenha consciência dos predicados de uns e da busca de outros.

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