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Críticas

Cineplayers

Um dos melhores policiais - legítimos - dos últimos anos.

8,0

Começo já dizendo que Narc é um dos melhores filmes policiais dos últimos 10 anos. Filme policial legítimo, é bom que se diga, sem mistura de gêneros. Não há muita ação, são apenas dois policiais tentando solucionar um caso de assassinato de outro policial, no mundo das drogas. Pista por pista, o espectador vai chegar a entender tudo o que de fato ocorreu no ótimo clímax do filme. Não parece nada demais, hein? Realmente, não é nada de original, mas mesmo assim Narc é um filmão, dirigido pelo quase novato Joe Carnahan de forma magistral (há algumas cenas impressionantemente bem realizadas) e atuado da mesma forma pela dupla Ray Liotta e Jason Patric.

O diretor já começa mostrando as suas garras logo na cena inicial. Sem ainda entender o contexto do que está vendo dentro do filme, Carnahan já joga na sua cara uma cena de perseguição à pé do detetive Nick Tellis (Jason Patric), que está à caça de um bandido viciado. A cena é intensa, dinâmica (câmera em punho acompanhando sem parar o detetive às suas costas) e de tirar o fôlego. Logo descobrimos que o cara que estava sendo perseguido pode ter relação com a morte do tal policial morto. Então o caso, que estava parado, é reaberto e Tellis ganha um parceiro, o detetive Oak (Liotta), que era o responsável pelas investigações antes do trancamento do caso.

Oak é o típico policial durão. Arrisca-se em todas e quase sempre usa de violência exagerada, tendo que “quebrar as regras”, conforme ele mesmo justifica. Tellis é um sujeito também durão, mas um tanto mais contido. O diretor consegue fazer esses dois personagens, aparentemente comuns no gênero, tornarem-se figuras fortes e de respeito, apresentando ao espectador um background do passado e vida pessoal muito forte e convincente, sempre ajudado pelas ótimas atuações, não só da dupla, como de todo o elenco. À medida que as investigações avançam, você descobre mais segredo dos dois e vê o caso se tornar cada vez mais complicado.

O diretor joga com o espectador, fazendo cair diversas suspeitas sobre vários personagens, o que sempre torna o filme imprevisível e divertido de acompanhar. Confesso que eu esperava um final surpreendente. E ele de fato aconteceu. Só que foi de uma maneira bem diferente do que eu imaginava (mas, lógico, não cabe aqui contar o que acontece). O filme utiliza vários flashbacks, que surgem da cabeça dos personagens. Felizmente, o recurso é bem utilizado e não torna o filme lento demais (geralmente são cenas rápidas e, principalmente, úteis, o que é outro ponto positivo).

O filme é bastante violento, mostrando cenas fortes com sangue e espancamentos. Porém, nada que quem não tenha visto algum filme do Tarantino, Guy Ritchie, ou outro diretor do estilo, já não tenha visto antes. Apenas não recomendo o filme para crianças muito novas. Para efeitos de comparação, um filme que me vem à cabeça, quando penso em Narc, é Seven. O filme tem a mesma estrutura básica (dois policiais indo de lugar em lugar tentando encontrar um assassino) e é quase tão violento quanto ele, além de possuir uma fotografia que às vezes lembra o filme de Fincher.

O melhor de ver um gênero como este sendo reciclado através das lentes de um diretor novato é sempre poder esperar técnicas novas (lembra de Cidade de Deus e sua edição ágil e original?). Carnahan não utiliza nenhum artifício realmente especial e inovador, mas algumas cenas mostram uma desenvoltura muito boa. Há a cena inicial que, visualmente, é a mais impressionante do filme, mas há também vários momentos em que ele utiliza a câmera de forma bastante interessante como, só para citar um exemplo, na hora em que ele simula uma punhalada de arma (que acontece de surpresa) de um personagem em outro, só com um jogo de câmera. Os executivos já estão de olho nele, e ele já foi confirmado para filmar seu primeiro filme grande: Missão: Impossível 3, que será lançado em 2004.

O roteiro é muito bom. É verdade que em alguns momentos o filme torna-se repetitivo. As diversas buscas por informações e suspeitos torna-se um pouco cansativa, mas tudo é compensado pelos últimos 20 minutos, que fazem, em minha opinião, Narc ser, como eu já havia comentado lá no início, um dos melhores filmes policiais dos últimos anos. Em um gênero que é tão difícil, hoje em dia, apresentar algo novo, Narc pelo menos destaca-se, mesmo que não se configure como uma revolução (na verdade, não há sequer uma evolução) do gênero.

Por último, vale destacar novamente a aparição destes dois atores de sucesso, que andavam fazendo apenas papéis coadjuvantes sem muita importância. Sou um grande fã de Ray Liotta pelo seu trabalho fenomenal em Os Bons Companheiros, mas isso foi em 1990, e desde lá não há nenhum outro trabalho seu que se destaque (embora tenha participado de Doce Trapaça e Hannibal nos últimos anos). O melhor de tudo é que não há traços de Henry Hill – seu personagem em Os Bons Companheiros – em Narc, provando que o ator sabe diversificar. Jason Patric praticamente detonou a sua carreira (que já não era exemplar, apenas regular) fazendo Velocidade Máxima 2, mas mostra que é um ator de grande nível com sua bela atuação neste policial. Se você quiser ver uma boa interpretação dele, procure por Dominados pelo Desejo, de 1990. É um filme pequeno, mas simpático, onde ele interpreta um deficiente mental.

Narc não recebe nota maior pois, como eu já frisei, não apresenta nada de novo (talvez não seja mais possível no gênero policial). Mas é um filme divertido, bem interpretado, muito bem dirigido e com algumas cenas ótimas. Recomendo pra hoje mesmo!

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