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Críticas

Cineplayers

Cheio de ótimas qualidades, Não Por Acaso tem tudo para ser o melhor filme nacional de 2007.

8,5

Qual o verdadeiro controle que temos sobre nosso destino? Afinal, cada ação (ou omissão) exclusiva em certo instante causaria efeito diferente se realizada dois segundos antes ou após? Qual desencadeamento de fatos se sucederia?

Sobre essas intrigantes questões versa Não Por Acaso, longa-metragem de estréia do cineasta carioca Philippe Barcinski. Acompanhando dois personagens centrais, o filme se propõe a trabalhar o tema da forma mais simples possível e com um resultado absolutamente encantador. 

O ator Leonardo Medeiros (em grande desempenho) é Ênio, um engenheiro de trânsito solitário que, ao reencontrar o amor de sua vida, descobre que a filha adolescente que ele abriu mão no passado (Rita Batata) sabe de sua existência. Já Rodrigo Santoro é Pedro, exímio jogador de sinuca e construtor de mesas, que vive uma relação intensa Teresa (Branca Messina, revelada em Cafuné).

As vidas desses dois personagens são completamente desconexas até que um acidente fará uma breve interseção em seus caminhos. O controlador Ênio terá de lidar com algo novo e inesperado em sua vida; Pedro repetirá, como em um jogo de sinuca, movimentos precisos a fim de seguir sua vida com um novo amor, Lúcia (Letícia Sabatella).

Barcinski, premiado curta-metragista, conduz as duas linhas narrativas quase que totalmente paralelas com uma serenidade raramente vista em um estreante. Sem pressa, constrói cada cena com propósito definido, sem excessos – a metragem enxuta do filme, apenas uma hora e meia de projeção, é reflexo disso. 

A sinopse, à primeira vista, induz inclusive o leitor a pensar que se trata de mais um drama romântico piegas. Por tentar afastar-se disso, o roteiro, escrito pelo próprio diretor com a esposa Fabiana Werneck Barcinski e Eugenio Puppo, toma certas precauções que podem desagradar algumas pessoas. A construção da relação entre Pedro e Lúcia, cheia de saltos, é um exemplo. Se não totalmente convincente, encaixa na proposta da realização.

A aparente simplicidade narrativa de Não por Acaso vai contra as tendências dominantes do cinema da atualidade. Comparando-o com o também brilhante Crash - No Limite, premiado filme dirigido e roteirizado por Paul Haggis, percebe-se o grande diferencial. Enquanto no filme norte-americano  diversas sub-tramas vão surgindo a partir de um sem número de incidentes, em Não Por Acaso duas tramas paralelas se conectam, mesmo por uma fração de momento, após um único episódio – tendo a cidade de São Paulo, capturada na essência pela fotografia de Pedro Farkas, como agente.

Barcinski, com a ajuda do montador Márcio Canella (cujo único trabalho anterior em longa-metragem fora no documentário Ginga), tomadas aéreas, computação gráfica e todo o aparato disponível pela O2 (maior produtora cinematográfica brasileira, cujo um dos sócios é Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus e aqui atuando como produtor) ainda constrói um filme que surpreende pelo acabamento de primeira linha, nada devendo a exemplares estrangeiros, algo raro em se tratando de cinema brasileiro.

Por tantas qualidades, o filme é, não por acaso, o melhor exemplar a chegar aos nossos cinemas este ano.

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