Nem os fãs da personagem conseguirão se satisfazer com essa tragédia.
Quando as primeiras imagens de Mulher-Gato foram liberadas, pareciam até piada. Ver Halle Berry, que é uma bela mulher, naquela roupa de couro nada a ver, com chicote, fazendo poses de garotas de programa, infelizmente, já deu para sentir que estava vindo coisa ruim por aí. Só que tantas vezes esse ano eu fui ao cinema esperando tragédias e me surpreendi, até achei que Mulher-Gato pudesse seguir o mesmo caminho, mas dessa vez eu estava correto. O filme não é só ruim. É tenebroso, é uma junção de péssimas escolhas com péssimas alterações, com péssimos plágios, péssimos efeitos especiais...
Tenham a noção da tragédia: Patience Phillips é uma publicitária que trabalha em uma firma de beleza de sucesso, prestes a lançar seu grande novo produto. Só que Patience descobre que os produtos de beleza que estão para entrar no mercado causam um grande dano à saúde das pessoas a longo prazo e, por causa disso, acaba morta. Então que um gato mágico, ancestral, desde as épocas egípcias, resolve devolver a vida de Patience que foi retirada, deixando que ela seja a mais nova geração de mulher gato da história, dando poderes especiais (que incluem andar na parede e usar magistralmente um chicote), assim como todas suas ancestrais receberam.
Sim, você não leu errado, é isso mesmo: mais e mais gerações de mulheres gato. Imagino uma reunião dos produtores, pensando em uma maneira de deixar a personagem moderninha e que pudesse atrair os mais jovens, fãs ou não, para os cinemas. Para que se preocupar com as origens reais do personagem, como Homem-Aranha fez tão bem em ambos os filmes? Para que se preocupar com uma história se há um orçamento de 100 milhões de dólares para ser gasto em efeitos especiais e outras futilidades mais? Para que se preocupar com o nome real da personagem, Selina Kyle? Para que perder tempo se preocupando essas coisas se eles podem ganhar dinheiro com as pessoas menos exigentes, não é?
Para se ter noção do quanto a história é ruim, imagine o grande vilão da trama. Está pensando que é algum monstro emocionante, algum mega vilão dos quadrinhos ou então qualquer ser que possa oferecer perigo a uma mulher gato diferente, cheia de poderes especiais? Você está enganado. O grande vilão da história nada mais é do que o casal de publicitários dono da empresa. Agora eu te pergunto, como duas pessoas de negócios normais poderiam lutar e oferecer perigo a uma heroína (ou quase) cheia de poderes especiais? Aliás, não sabia que gatos andavam nas paredes e manuseavam chicotes tão bem, belo dom que a Mulher-Gato possui, não?
As escolhas de Halle parecem que são ainda piores. Além de um desnecessário e ridículo rebolado, só pra dar o tom sexy à personagem, ela ainda imenda algumas das já ruins falas com chiados de gato, transformando em algo ainda pior! Se isso não bastasse, ainda participa de algumas cenas ridículas, realmente constrangedoras, como quando ela brinca com uma bola de lã. Ao retratar o tom ambiguo da personagem, o filme soa ingênuo e desinteressante. Se a personagem principal é tão ruim, os coadjuvantes poderiam fazer algo para tentar salvar o filme da tragédia total, concordam? Pois bem, isso também não acontece. E o que é pior, os coadjuvantes conseguem estar no mesmo nível (inferior) do resto do filme: Benjamin Bratt, que faz o policial Tom pelo qual a Mulher-Gato se envolve, é inexpressivo e desnecessário à trama. Sharon Stone parece que se coloca num pedestal acima, achando que sua personagem é alguma coisa. Onde já se viu uma publicitária brigar com uma heroína de poderes especiais de igual para igual apenas por usar um creme que deixa o seu rosto duro? Lambert Wilson (de Matrix Reloaded) é passivo à toda a história e só serve para ser o dono da empresa, nada mais, pois mesmo que não houvesse o seu personagem, a história não mudaria quase nada, só teriam de arranjar uma solução para Laurel fazer as maldades dela (não duvido que fariam algo ainda pior).
Se toda essa legião de personagens ruins não funcionasse, o filme ainda soa como um constante plágio de outras obras. O trailer é totalmente puxado de O Corvo, inclusive com algumas frases iguais, e a trama básica da história é uma cópia descarada do que Coringa (Jack Nicholson) fez em Batman, de Tim Burton. Lembram que o plano dele era espalhar cremes ruins para as pessoas? Pois bem, vem a pergunta: quem dirigiu essa bagunça toda então? O nome do sujeito é Pitof, um ex-supervisor de efeitos especiais metido a diretor. Seus planos são ruins, suas decisões são ainda piores e, quando tenta usar efeitos especiais, deixa tudo ainda pior. Usados em demasia, eles poderiam passar despercebidos ou empolgar se fossem bem empregados, porém eles são feios, destacam o personagem da realidade e não convencem um segundo sequer. Nem como filme de ação vale, uma vez que as cenas de lutas são chatas e desinteressantes, ficando ainda piores pela antipatia que a personagem principal provoca.
Não sei se vocês perceberam, mas não toquei no nome de Michelle Pfeiffer uma vez sequer. Seria até covardia comparar as duas ‘encarnações’, pois a adaptação de Tim Burton é infinitamente superior, em todos os sentidos. Acreditem: Mulher-Gato, de tão ruim, acaba sendo até didático, uma boa sugestão para estudantes de Cinema. Após conferir esse desastre cinematográfico, o jovem cineasta tem o consolo, pelo menos, de ter recebido uma autêntica aula sobre como não se fazer um filme.
Constrangedor.
Concordo totalmente.
Qualquer coisa acima de 0,0 para esse filme se deve ao fato de você saber, pois não está perceptível, que ainda há uma mulher gostosa debaixo daquela roupa de clube de sado-masoquismo.
Realmente, ainda bem que o nome de Pfeiffer nem foi citado. Até Hathaway (uma atriz que eu não curto muito) consegue estar anos-luz a frente de Berry, que 3 anos antes do lançamento desse troço, levou a estatueta por um papel extremamente difícil em Última Ceia. O que deve ter acontecido?!!?