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Críticas

Cineplayers

O diretor Mike Leigh salva o filme do roteirista Mike Leigh.

6,5

Perdi a conta de quanto tempo Mike Leigh trabalhou nesse filme, entre ensaios, filmagens e montagem final, chuto algo em torno de 3 anos. Para um cineasta do naipe dele e com o preciosismo na qual trabalha em cima do prosaico, é minimamente estranho que isso tenha acontecido. O Festival de Cannes sempre teve interesse nessa biografia desse que é um dos grandes pintores ingleses e conseguiu levar o filme para a competição desse ano, provocando estupefação inicial naquela plateia. Esse sentimento no espectador ao notar que sua mão para a mise-en-scène dessa vez ganhou rigor e o filme, apesar de formal, talvez seja o trabalho de brilho mais evidente de Leigh, ao menos no que concerne as questões imagéticas.

O filme acompanha grande parte da vida do artista, cobrindo seus grandes momentos com as tintas assim como algumas passagens curiosas longe delas. O personagem é visto como um grande galanteador e sedutor, carregando para cama um bom número de mulheres em cena do filme. Inclusive o filme mostra a vida dupla que ele levou durante décadas, quando se amigou de uma mulher humilde e com ela viveu sob pseudônimo e sem qualquer ligação com sua arte. A relação com essa mulher inclusive talvez seja dos aspectos mais interessantes do longa metragem, e aqui o roteiro chega a funcionar.

Pois é... demorou mas aconteceu: Leigh pisou na bola com um roteiro. Enquanto a direção de Mr. Turner é exemplar com momentos de inacreditável beleza plástica, não podemos dizer o mesmo do roteiro que parece apenas perfilar acontecimentos da vida do artista durante os anos. O britânico compensa isso com qualidades técnicas que praticamente nunca haviam sido vistas em profusão no seu cinema, com fotografia, direção de arte, figurino e trilha exemplares, dignos de aplausos. Pena o roteiro não ter seguido esse rastro.

O elenco também corresponde ao 'padrão Mike Leigh de qualidade'. Timothy Spall encara um desafio de peso e Cannes aprovou sua entrega com o prêmio de melhor ator; não sei dizer se concordo com esse prêmio, mas provavelmente não. Acho que ele pega atalhos aqui e ali na composição e seu caminho acaba cansando um pouco lá pelas tantas. Melhor sorte tiveram suas parceiras de cena, Dorothy Atkinson e Marion Bailey, a segunda inclusive tem a grande atuação do filme. No final não faltam participações especiais de seus atores fetiche, como Lesley Manville e Ruth Sheen.

No fundo essa queda ligeira de Leigh vem para mostrar que deuses não existem; nossos heróis são aptos a falhar como qualquer mortal. Independente do filme ter ultrapassado sua duração necessária para além de 40 minutos, já não teríamos um material classe A desse produto por conta do roteiro não-burilado e mecânico de Leigh, pela primeira vez tendo um filme seu merecidamente dividindo público e critica.

Comentários (1)

Patrick Corrêa | quarta-feira, 01 de Outubro de 2014 - 22:50

De fato, o filme se excede um pouco na duração, mas ainda é um grande trabalho de Leigh.
A fotografia é um escândalo. Só achei Ruth Sheen e Lesley Manville pouquíssimo aproveitadas dessa vez.
Mesmo discordando de alguns pontos, boa crítica.

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