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Críticas

Cineplayers

Trata de um tema importante de maneira desinteressada

4,0

De tempos em tempos, Hollywood conta, a sua maneira, histórias diferentes com pequenas similaridades em cima de uma mesma essência: um personagem que morre, ou alguém que perde um parente próximo, e deve lidar com isso seguindo em frente. Com uma abordagem superficial, este A Morte e Vida de Charlie (Charlie St. Cloud, 2010) é o segundo encontro entre o até então astro preferido pelas adolescentes Zac Efron com o diretor Burr Steers, que o dirigiu no também raso, inofensivo, sem grandes pretensões e nada original, ainda que divertido, 17 Outra Vez (17 Again, 2009).

Demonstrando certa tendência a fazer filmes básicos xaropes para adolescentes, a história dessa vez gira em torno de uma família sem grandes conquistas e vivendo no sacrifício, após ter sido abandonada pelo pai. Charlie (Zac Efron) é o irmão mais velho, exímio navegador, que tem pela frente um futuro promissor estudando em faculdades boas e velejando competitivamente por elas. Só que tudo muda quando o irmão mais jovem, Sam (Charlie Tahan), morre em um acidente de carro em que Charlie estava dirigindo e quase faleceu também, sendo salvo pelo paramédico Florio (Ray Liotta). Essa experiência de quase morte acaba despertando um lado mais sensível em Charlie, em que ele passa a ver mortos e conversar com eles, incluindo seu irmão, com quem passa as tardes jogando baseball para cumprir uma promessa feita ainda em vida. Quando Tess (Amanda Crew), uma jovem que competia com Charlie antes do acidente, entra novamente em sua vida, ele deve escolher entre superar o passado e ir em frente ou ficar preso ao irmão já falecido.

Apesar da sinopse gigante, pouco realmente acontece no filme. O trailer conta demais, assim como o resumo da história, mas é um mal necessário em um trabalho que realmente não sabe muito o que quer. Sem a tridimensionalidade que o tema pede, tudo é muito óbvio e previsível, beirando o absurdo em diversos momentos. Girando em torno da segunda chance que Charlie tem com Tess, o filme adota um tom duvidoso quando foca esta ‘segunda chance’ de Charlie, como se ele pudesse ter feito algo para salvar o irmão, ou o pior, culpando-se pelo que aconteceu. Parece que o diretor tem os mesmos conflitos existenciais que os adolescentes que ele tenta tocar, mesmo com seus mais de quarenta anos. Só que Steers não é John Hughes, que entendia tão bem o universo e os dramas dos jovens de sua época, então seus filmes são bobos e sem abordar a real importância dos temas que lida.

Além de sua falta de visão, Steers demonstra um sério problema com as linguagens básicas cinematográficas. Duvidando constantemente da inteligência de seu público, o diretor insere frases óbvias para retratar aquilo que já vimos em imagens: Charlie está passando todo mundo na regata, em uma incrível recuperação, quando um dos personagens fala “Nossa, como esse menino é bom!”. Pense ainda nos erros de decupagem, como no final da mesma regata, onde Charlie pede para o irmão esperar para realizar uma ação, criando todo um suspense: “espere... espere... espere... espere... agora!”. Só que quando o personagem diz isso, o diretor simplesmente não mostra o que eles esperaram para fazer, apenas filmando Charlie e Sam comemorando a vitória logo depois, o que é um erro gravíssimo. Se não vai mostrar, pra que criar suspense em cima?

A prova de que o filme não leva tão a sério o tema quanto ele merecia é a personificação escolhida pela arte para o personagem Charlie, de Zac Efron: mesmo depois de cinco anos de depressão profunda pela culpa que sente, ele aparece de cabelo arrumadinho, com barriga tanquinho e todo sarado. Para quem ficou tanto tempo na fossa, é de se estranhar que esteja naquelas condições tão boas. A abordagem acaba superficial, com uma história menos dolorida que deveria ser, mas acima da média do que os jovens estão acostumados a ver. Mas nem tanto. Acaba servindo mais para aproximar estes ainda inexperientes em bagagens cinematográficas dos cinemas e instigá-los, com a benção da idade, a procurar coisas mais profundas e interessantes.

Mesmo com toda essas variações de erros, o filme não é insuportável. Tem um desenvolvimento ágil e que não torra a paciência, o que faz pensar que o livro deve ser muito mais interessante do que o que está na tela – desde que não tenha a mesma absurda conclusão. As participações de Kim Basinger, como a mãe dos meninos, e Ray Liotta como Florio são mínimas perto do que eles poderiam oferecer ao filme. Mas quem manda e desmanda mesmo é Charlie Tahan, que interpreta o jovem Sam, o irmão mais novo. O moleque é realmente muito bom e convincente, confirmando o talento visto antes em algumas poucas produções, como Noites de Tormenta (Nights in Rodanthe, 2008) e Eu Sou a Lenda (I am Legend, 2007) e a habilidade de Hollywood em quase sempre acertar nas escolhas de seus atores mirins. Some isso a uma trilha de extremo bom gosto e a fórmula para os jovens está completa – e vai funcionar. Pelo menos com eles.

Comentários (1)

Fernanda Pertile | quinta-feira, 15 de Dezembro de 2011 - 17:18

O filme não é lá essas coisas mesmo, mas deve ter causado uma decepção sem tamanho(em mim causou) a todos que leram o livro(que por sinal é excelente, recomendo a quem aprecia boa leitura). Sinto por uma história tão bonita quanto a do livro ter sido tão mal adaptada para o cinema e tão mal dirigida pelo nosso [ironia]querido[/ironia] Steers. Boa crítica Rodrigo.

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