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Críticas

Cineplayers

Meteoro é bom quando fala sobre política, mas peca ao elaborar o retrato humano dos personagens.

5,5

Este é o primeiro longa-metragem de ficção do porto-riquenho Diego de la Texera a ser realizado no Brasil. Texera fez um filme que passa por diversos gêneros, tendo início como uma espécie de documentário sobre a época da construção de Brasília, e chegando ao fim como um forte drama. 

Na década de 60, durante o período desenvolvimentista, iniciado por JK, um grupo de trabalhadores inicia a construção da estrada Brasília-Fortaleza, para ligar a nova capital com o nordeste brasileiro. Porém, em 1964 com o golpe militar, os trabalhadores são esquecidos no meio do nada junto com um grupo de prostitutas que os visitava mensalmente. Assim, trabalhadores e prostitutas, acabam por fundar a sociedade utópica de Meteoro.

Diego de la Texera é um militante ativo de causas políticas, e é justamente os acontecimentos políticos da década de 60 que norteiam o filme. Esses acontecimentos são contados por meio da verídica história da fundação da cidade de Nova Holanda. Porém, o diretor faz uma livre adaptação dos fatos ocorridos, acrescentado à história passagens que não existiram. O filme chama-se Meteoro porque é justamente a queda de um meteoro no solo que viabiliza a existência da sociedade, já que o impacto acarretou no descobrimento de uma fonte de água. O diretor quis mostrar o desenvolvimento de uma sociedade anárquica perfeita, que, segundo ele mesmo, representa o que poderia ter acontecido com o Brasil, se não houvesse o golpe militar. Não que o Brasil fosse se tornar um país anárquico, mas sim um país com uma sociedade contente por morar em um lugar mais justo. Meteoro representa a construção de uma sociedade perfeita, intuito do período desenvolvimentista de JK. 

Entretanto, até mesmo uma possível sociedade perfeita tem conflitos entre seus habitantes, e o longa não deixa de mostrar isso. Porém, a maneira como Texera escolheu para filmar um dos poucos conflitos ocorridos na cidade – uma briga entre dois moradores filmada por uma câmera lenta, trêmula e mal enquadrada – acabou por prejudicar o envolvimento do espectador com a dramaticidade que o momento requeria. Um detalhe que parece ter passado despercebido é que em uma sociedade anárquica, sem propriedade privada e governantes, não poderia haver alguém que representasse alguma espécie de poder, e isso existe em Meteoro. O mais velho do grupo acaba exercendo uma função de liderança e, por mais que ele não tenha o poder de impor decisões, acaba sendo ele o mediador dos conflitos, como a briga citada, e o responsável pela tomada de decisões administrativas.

Logo no começo do filme, um dos personagens e uma prostituta se apaixonam assim que se vêem, em uma cena que, infelizmente, pareceu bastante artificial. O espectador acaba demorando a se familiarizar com o casal. 

Mas Meteoro tem suas qualidades. Com a chegada dos militares ao local, o longa retoma o fôlego. O modo como o diretor filmou as atitudes do regime, capaz de acusar um grupo “anárquico” de comunismo, foi perfeita. A visão do diretor mostrada na produção representa um modo diferente de explorar a conduta do regime militar, e é justamente quando mergulha na política que o filme se sai melhor. Quando se dedica apenas ao relacionamento humano dentro da nova sociedade de Meteoro, a produção acaba cansando um pouco. O filme termina em um momento em que a história está com um ritmo agradável e interessante, deixando assim uma boa impressão geral sobre o longa. A cena final é, devido a seu significado, emocionante. É interessante notar que, devido à felicidade proporcionada pelo local, os moradores, com a exceção de dois deles, não desejam abandonar o lugar, mesmo quando a saída da nova sociedade se torna possível. Na cidade de Meteoro, as pessoas encontram as virtudes necessárias para se viver em harmonia. 

A trilha sonora, composta por Lui Coimbra e Marcos Suzano, é um grande mérito do filme. Agradável, a musicalidade, que inclui diversos ritmos como samba, tango, bolero, sons nordestinos e trilha sinfônica, acaba dando ritmo e beleza para a história. Não à toa venceu um concurso de trilhas em Santo Domingo.

Meteoro mostra a vida de diversos personagens, mas que são superficialmente explorados. Em 13 anos de história, não conhecemos a fundo a personalidade de vários moradores do vilarejo, que, apesar de terem conflitos e de acharem no lugar importantes valores para o convívio entre os seres humanos, não demonstram ter alguns instintos humanos negativos, mesmo quando chegam a enfrentar uma situação complicadíssima, parecendo que todos são pessoas perfeitas, o que, infelizmente, não existe. O filme tem seus bons e maus momentos. Como disse anteriormente, Meteoro se sai melhor quando aborda a história pelo lado político do que pelo lado humano.

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