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Críticas

Cineplayers

Foca na vida das pessoas que viviam nos barcos durante a época das navegações.

7,0

Maior concorrente de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei para o Oscar desse ano, este parece ser o filme que a Academia escolheu para abraçar desta vez. Com 10 indicações na premiação, contra 11 de Frodo e companhia, esse deve ser o Gangues de Nova York da vez. Não, Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo não é um filme ruim. Aliás, está bem longe disso, só que suas qualidades não conseguem fazer jus às 10 indicações ao prêmio cinematográfico mais importante do mundo – muito menos concorrer como melhor filme.

A história é rasa, sem profundidade. Não há ação suficiente também para o filme suprir a voracidade dos espectadores mais casuais de final de semana. Talvez a culpa seja da simplicidade em sua construção: o navio comandado pelo experiente Capitão Jack Aubrey (Russell Crowe) é caçado por um novo e feroz navio francês, com o único intuito de eliminar a embarcação do consagrado Capitão. Com o orgulho ferido após uma batalha bem emocionante, logo no início do filme, o resto é somente a grande e orgulhosa caçada de Jack pelo navio claramente superior. O foco do filme não são os combates, e sim demonstrar como era o modo de vida de quase 200 pessoas no mesmo barco por meses.

O problema é que o filme se baseia apenas nisso, mas não aprofunda em nenhum grau o psicológico dos personagens. Sabemos que Jack está com o orgulho ferido, sabemos que ele fará tudo para conseguir seu objetivo, sabemos tudo o que irá acontecer, só que tudo isso é percebido de maneira extremamente superficial. Não sentimos muita coisa, o filme é meio bobo, inclusive. As cenas mais dramáticas de todo o filme não pertencem ao personagem principal, e quando isso acontece, é porque há algo errado. A operação do corajoso jovem e o homem ao mar, por exemplo, é muito mais forte do que qualquer outra protagonizada por Crowe.

O estranho é que a Academia, depois de premiá-lo injustamente com Gladiador e apenas indicá-lo, quando realmente merecia vencer, por Uma Mente Brilhante, nem o incluiu entre os cinco indicados esse ano, assumindo a falta de força no personagem, mas indicou o filme a outros 10 quesitos, o que nos faz pensar que Mestre dos Mares é, praticamente, uma poesia técnica cinematográfica. Crowe faz o que pode e apresenta sua presença de tela de sempre, mas não foi o suficiente para lhe conceder uma nova indicação.

Outra figurinha, agora bem famosa, que dá as caras no filme, é Billy Boyd, imortalizado por ser Pippin em O Senhor dos Anéis, mas em um papel sem grande destaque e novamente com um tom cômico a história, com menos intensidade dessa vez. Outro personagem importante na trama é o médico de bordo, com fortes tendências por descobrir novas coisas no mundo. Dr. Stephen Maturin é interpretado por Paul Bettany, que também trabalhou com Crowe em Uma Mente Brilhante e recentemente fez Dogville. O doutor é um personagem bacana, pois conseguimos captar seu amor pela profissão nas pesadas cenas e também a sua vontade de conhecer o novo. Quanto ao coadjuvante não tenho nada a reclamar, somente elogios.

Sobre os personagens, o mais incrível é que não há mulheres para criarem conflitos românticos e nem abrir o leque de emoções para os personagens. Crowe chega a esboçar olhares com uma durante o filme, mas nada que realmente possamos afirmar que alterou o curso emocional da obra. Ou seja, quando não temos o apelo da emoção, e nem do amor, o que o diretor deveria ter feito? Inserido um vilão forte para torcermos para o mocinho da história de modo vibrante. Só que isso também não acontece, pois nunca vamos os ‘vilões’ da história, o que de certo ponto é bom, pois temos a caricatura do barco como o símbolo de todo o medo, e não jogam os franceses como os malvados da história, mas também resulta em menos emoção cinematográfica.

Se não temos emoção amorosa e nem heróica, no que o filme deveria se suportar então? Em maravilhosas cenas de ação, não? Bem, nesse ponto, justamente o melhor do filme, é justamente o que tem maiores defeitos também. Ao mesmo tempo que as cenas são maravilhosamente bem feitas e você está a todo tempo dentro da batalha, temos a péssima sensação de desordem, de não saber quem é quem ali dentro. Ou seja, não há como nos preocuparmos com os personagens, simplesmente porque não dá para identificar quem é quem dentro daquela bagunça! Tudo bem, essa pode ter sido exatamente a idéia do diretor, só que ele acabou por sacrificar a última característica que poderia trazer o público para dentro do filme. Se isso não fosse suficiente, só existem três batalhas dentro de um filme de quase duas horas e meia de duração.

Tecnicamente falando, Mestre dos Mares é um espetáculo. Desde os efeitos especiais até a linda fotografia fazem o seu papel. Apesar disso, ainda acho que não terá chances contra Retorno do Rei por ter proporções menores e efeitos não tão inovadores quanto seu maior concorrente. As imagens são lindas, mas as de Peter Jackson são inigualáveis. As músicas são maravilhosas, mas não marcam tanto quanto o outro. Os efeitos são excelentes, mas pessoas sem braços e pernas, operações a sangue frio, machucados, mares furiosos, tudo já foi visto antes em algum lugar (até mesmo em filmes menores do que este).

Já que ele não funciona como um filme para os mais casuais e nem como arte para os mais exigentes, ele acaba por cair em um quadro fiel e realístico de como era viver em um navio daqueles. Nada mais. Peter Weir (de O Show de Truman, O Show da Vida) foi feliz e fez um bom filme sobre as dificuldades da época. Mas como cinema, ou pior, como filme de Oscar, ele está à léguas de distância de onde realmente deveria estar.

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