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Críticas

Cineplayers

Como eu ou você.

8,0
O estúdio Ghibli já evocou todo tipo de emoção das mais diversas maneiras possíveis com seus filmes ao longo de sua longa história, sempre metaforizando medos interiores, guerras, traumas da humanidade de forma singela e quase nunca direta. Em seu filme derradeiro - após este As Memórias de Marnie (Omoide no Mânî, 2014), o estúdio entrará em um hiato indeterminado para se reorganizar - o onírico é deixado de lado para bater de frente com o real; esse sim, impiedoso e beirando o cruel.

Anna é uma menina da cidade grande que vive isolada de outras pessoas, esgueirando-se pelos cantos com seus desenhos e sofrendo internamente com o seu passado. Com crises de asma, ela vai para uma cidade do interior a fim de se recuperar, respirar ar puro e poder voltar ao seu dia-a-dia normal. Lá, ela conhece uma menina em uma mansão abandonada chamada Marnie, de quem acaba ficando muito amiga e, ao conhecer o passado dela, encontra ajuda para enfrentar melhor o seu futuro.

Ainda que a estrutura mantenha tons fabulosos ao evocar Marnie como uma fantasma na vida de Anna, o sentimento é real e direto, algo que já vimos Ghibli fazer de forma tão eficiente quanto no traumático O Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka, 1988). Anna tem na asma o menor dos seus problemas, pois isso é apenas consequência de uma ansiedade muito mais grave: a depressão. Sabendo de sua condição, é muito mais chocante vê-la jogada de cara na lama desacordada ou de joelhos retraídos olhando para o nada enquanto reproduz em tela um mundo que a mesma já desistiu de viver de verdade.

Ao discutir de forma tão direta um tema tão importante quanto esse, o filme opta por manter uma narrativa mais pé no chão, onde a mensagem vem através da empatia com os sentimentos ao invés da reflexão que a metáfora propõe. Anna sofre e sente-se viva apenas quando está com Marnie, e essa sua fuga é também o nosso alívio. Aos mais atentos, notam-se pequenos detalhes como a aristocracia inglesa pós-guerra (o roteiro é baseado em um famoso livro britânico) e a auto-referência ao incluir uma personagem pintora que imortaliza memórias em quadros que confundem o pincel do estúdio com o da personagem - o quadro e a realidade, no filme, não possuem muitas diferenças.

No final, o cuidadoso trabalho artístico já característico do estúdio com os detalhados efeitos sonoros, com o contato com a natureza como catalisadora e a beleza estonteante de uma pintura em movimento tornam-se meros complementos de mais uma mensagem que, ainda que mais simples e direta do que o habitual, preocupa-se com o eu interior onde os medos de fantasma nada mais são do que fantasmas de nossos próprios medos.

Pode não ser tão icônico quanto A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi, 2001), tão deslumbrante quanto Vidas ao Vento (Kaze tachinu, 2013) e nem tão simbólico quanto O Castelo Animado (Hauru No Ugoku Shiro, 2004), mas é tão humano e comum como eu ou você, e é justamente isso que nos torna tão únicos e especiais.

Comentários (15)

Nilmar Souza | terça-feira, 24 de Novembro de 2015 - 16:07

Posta mene de Dragon Ball dps não quer ser zuado

Lucas Nunes | terça-feira, 24 de Novembro de 2015 - 17:17

https://i.ytimg.com/vi/tz0dVDThj9Y/maxresdefault.jpg

Cristian Oliveira Bruno | quarta-feira, 25 de Novembro de 2015 - 06:31

Cara, to ficando velho mesmo... faz uns dez anos que não paro pra assistir u a animação. Se não estiver fazendo nada e não estiver passando nada na tv, aí ei vejo. Pra ser sincero Appleseed: Alpha eu assisti eaaes dias.

Luiz F. Vila Nova | domingo, 07 de Fevereiro de 2016 - 17:34

Que texto fantástico Rodrigo, parabéns. A animação é de uma sinceridade exemplar, com o padrão de qualidade que já estamos acostumados do estúdio. A mensagem humana é que o torna tão tocante e real.

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