O cinema brasileiro descobrindo o filão adolescente.
Se o cinema brasileiro não costumava dar muita atenção para histórias adolescentes, isso começa a mudar agora com filmes como Antes que o Mundo Acabe, Os Famosos e os Duendes da Morte e As Melhores Coisas do Mundo, nova aposta de Laís Bodanzky que estréia agora nos cinemas.
Uma fase tão cheia de mudanças, experiências, frustrações e descobertas é uma excelente fonte para filmes divertidos e emocionantes, uma vez que consegue entrar em contato com as lembranças daqueles que os assistem e, de cara, criar um vínculo com a história que está sendo contada.
Se alguns filmes escolhem passagens e sentimentos específicos, As Melhores Coisas faz um apanhado geral da fase e consegue retratar bem tudo o que é a adolescência, com a primeira experiência sexual, a vida na escola, aquele amor que parece ser o último, a inexperiência, a sensação de invunerabilidade, a crueldade e o preconceito e os dramas familiares.
Quem conta a história de seu amadurecimento é Hermano, chamado de Mano pelos amigos. Ele estuda violão porque sonha em ser guitarrista, é apaixonado pela menina mais bonita da escola, tem um grupo de amigos que quer experimentar tudo que existe, fez de seu irmão mais velho um modelo, vê a tristeza da mãe todos os dias e tem que entender à força a nova paixão de seu pai, recém saído de casa.
Sua fiel escudeira é Carol, amiga de toda vida. Os dois sempre voltam juntos da escola e ele sabe muito bem que ela quer ter três filhos mas prefere não casar e está apaixonadinha pelo professor de física gente boa. É com ela que Mano compartilha todos os seus momentos difíceis, alegrias e de quem ele cuida com todo carinho.
O ponto alto do filme é como ele consegue, além de retratar tão bem a confusão de sentimentos que é a adolescência, tocar em pontos que precisam começar a ser debatidos pela juventude, como o preconceito de gênero, a falta de respeito ao próximo, a intolerância com aquilo que é diferente do padrão e a incômoda apatia diante de tudo que está fora do lugar.
A linguagem familiar tanto aos mais novos, que de certo modo estão passando por muitas daquelas coisas, como aos mais velhos faz a mensagem chegar onde precisa e faz pensar sem se fazer mirabolante ou chocante.
Os acontecimentos são cronológicos, fluem bem e a estrutura do filme segue a tendência de outros títulos do gênero, inclusive no que diz respeito à previsibilidade. A opção visual para as cenas onde Mano tenta entender e digerir o que se passa é interessante e funciona como uma ligação entre cada uma das tensões do filme.
Entre os méritos de Laís Bodanzky está a direção de atores, principalmente por trabalhar com um elenco ainda de pouca experiência e conseguir minimizar eventuais desconfortos diante das câmeras. Francisco Miguez, que vive Mano, é um achado e com muita naturalidade sabe passar da euforia e empolgação para o medo e a raiva. Algumas participações como a de Denise Fraga, muito bem como a sofrida mãe, e Caio Blat, como o professor de física, também acrescentam muito ao resultado final.
Claro que em um ou outro momento a falta de experiência dê as caras, assim como algumas viradas mais forçadas, mas nada que comprometa o resultado final. A boa história e os bons personagens superam estes momentos e emocionam.
Entre as delícias do filme está Something, uma das músicas mais tocadas dos Beatles e a primeira vinculada em um filme nacional, belíssima em qualquer versão, até na do aprendiz de violão.
Um daqueles programas que fazem a gente sorrir, ficar com os olhos cheios d'água e sair feliz da sala de cinema. Mais uma prova de que a adolescência é sim uma fase que pode ser retratada de várias maneiras e só pode acrescentar à produção nacional.
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