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Matthias & Maxime

(Matthias & Maxime, 2019)
7,6
Média
15 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Afinando as notas

7,5

Depois de um longo período de produções histéricas que incluem praticamente toda a sua carreira e que tinha chegado ao auge no muito ruim É Apenas o Fim do Mundo, com uma irregularidade de resultados a esse volume alto de intenções e ações, ainda é cedo pra considerar Matthias & Maxime um longa da maturidade de Xavier Dolan, mas um alerta de mudança de tom já é observado e essa simples curva já merece uma celebração, ainda que moderada. Adepto da intensidade máxima de demonstração, o ainda jovem canadense adentra um lugar da observação dessa vez, ainda que nada seja muito surpreendente no longa, o que seria conveniente a um filme onde seus personagens sentem mais do que agem.

Retrato de um relevo dentro de um grupo específico de amigos de muitos anos, que agora começam a tentar traçar uma vida adulta, até nesse recorte conseguimos observar essa maturação narrativa, onde o olhar saiu do conflito doméstico pro conflito interno, onde as particularidades de cada um não envolvem mais os embates familiares enquanto espinha dorsal, mas um entendimento individual em sua esfera. Esses dois tipos protagonistas são parte de um todo, e se são indivíduos a parte, isso significa que cada um daqueles jovens também seja um universo em si, ainda que não desvendados.

Um episódio particular afeta a relação entre esses dois rapazes protagonistas: um beijo na boca, trocado para a realização de um filme. Ainda que não dividido com o público, esse beijo gradativamente desestabiliza uma relação já rachada - Maxime está de partida para a Austrália - e cujo processo de emancipação está em curso como um todo. Uma semente foi lançada com tal troca de afeto comum, que é posicionada como algo natural entre dois amigos de tantos anos, mas que se percebe catalisadora de uma relação nunca questionada por tantos anos. Cada um deles vive em sua angústia particular, sem dividi-la com o exterior.

Ao entorno de ambos, os resquícios de relações problemáticas maternas, cada uma a seu modo: Maxime e seu irmão (apenas citado) tem motivos reais para repelir sua mãe e mantê-la apartada de suas vidas, Matthias não. Ou aparentemente não. Tratam-se de duas mulheres distintas em questões distintas, em abordagens muito sutis e apêndices de roteiro, que constroem o background emocional desses dois jovens homens em busca de alguma realização emocional, hoje afogada. A forma como ambos envolvem suas relações domésticas com suas questões afetivas (e o lugar onde Maxime se coloca na família do amigo) responde a muitas observações psicológicas sobre ambos, e de um com o outro.

Infelizmente, Dolan ainda não amadureceu por completo, então o filme ainda padece de diálogos expositivos em demasia, de cenas algo reiterativas desnecessariamente, mas os lugares de acesso aos personagens têm muita vida e muita credibilidade - a sessão de cinema para senhoras amigas dondocas é muito criativa narrativamente, e se monta como mais uma peça do quebra-cabeça competente apresentado pelo diretor, que não tem pressa para alimentar as relações entre seus personagens, tornando o espectador cada vez mais íntimo de cada um deles até revelar seu plot - ao mesmo tempo em que só deixa a emoção fluir, sem muita informação prévia.

Ainda que o lugar da expressiva fúria de outrora que acabou dando lugar a uma performance 'campy' de realização não tenha ainda se transformado no oposto em entrega emocional, é um lugar de clara contenção imagética esse novo caminho que Dolan parece começar a trilhar. Só o tempo dirá se o equilíbrio necessário a qualquer autor foi alcançado. Por ora, o plano final que encerra sem definir nenhuma atitude ainda contempla de descobertas futuras uma produção delicada. 

Crítica da cobertura do 21º Festival do Rio

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