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Mágico de Oz, O

(Wizard of Oz, The, 1939)
8,2
Média
693 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

O perfeito equilíbrio entre arte, infância, diversão, uma bela mensagem e boas interpretações.

9,0

“Somewhere, over the rainbow...”

Geralmente, quando um filme tem bruscas alterações em sua equipe durante a realização do projeto, o resultado final inclina para resultados duvidosos. Porém, O Mágico de Oz superou todas suas três trocas de diretores (foram quatro, no total) e, guiado pelo quebra-galho Victor Fleming, conseguiu firmar seu nome na história como um dos melhores filmes infantis de todos os tempos. Sua mensagem universal conseguiu transpor até o ultra-amadurecimento dos jovens de hoje, sobre o amor à terra natal e à valorização da família, mesmo que no mundo real as coisas estejam bem diferentes.

Mas é fácil de entender porque o filme, mesmo com tanta troca no seu comando, prevaleceu com uma qualidade final elevada: a época em Hollywood era dos filmes de produtores, onde eles tinham total controle sobre aquilo que estava sendo feito e pouquíssimos diretores conseguiam sua independência perante tal regra do mercado. Ou seja, mesmo com tanta gente metendo a mão para dirigir o longa, os produtores da MGM sabiam exatamente o que queriam e mantiveram todo o trabalho na linha.

Victor Fleming assumiu boa parte da produção e teve que controlar uma inovadora técnica: a cor. Isso foi um pouco antes dele abandonar o filme para poder quebrar um galho para a Selznick International Pictures: nada mais, nada menos do que o épico imortal E o Vento Levou. Fleming não rodou apenas as seqüências em preto-e-branco, passadas no Kansas, que ficaram por conta King Vidor – percebe-se uma uniformidade técnica, sem diferenças gritantes de estilo de direção no filme inteiro; ele é todo igual, parece que foi rodado pela mesma pessoa, devido à limitação artística imposta pelos estúdios na época, o que dá para entender a continuidade no trabalho das filmagens. Mervyn LeRoy ficou responsável apenas por terminar as filmagens que Fleming ainda não havia feito e Richard Thorp, o primeiro dos diretores, não teve uma cena sequer sua na versão final do filme; ele fora demitido pelo estúdio por não estar alcançado os resultados esperados - a famosa diferença artística entre estúdio e realizador.

A essa altura, todos já conhecem a história: Dorothy (Judy Garland), com medo de perder o seu amado cachorrinho Totó, foge de sua casa no Kansas. Durante essa escapada, ela acaba encontrando um falso vidente, que lhe diz que sua tia Em (Clara Blandick) está sofrendo com a sua falta, o que faz Dorothy prontamente voltar correndo para seu lar. Quando chega, um furacão arrasta a casa de Dorothy, com ela dentro, para um mundo de fantasia, com duendes, bruxas e muita magia, conhecido como Oz. Determinada a voltar para casa, a Bruxa Boa do Norte lhe explica que quem pode lhe ajudar a retornar para Kansas é um grande mágico, que vive no final da trilha de tijolos amarelos. No caminho, ela conhece três grandes amigos a quem o mágico também pode ajudar: o Espantalho, que quer um cérebro; o Homem de Lata, que quer um coração; e o Leão, que quer apenas coragem para ser um verdadeiro rei. O problema é que, na aterrisagem da casa em Oz, Dorothy acabou matando a irmã de uma bruxa muito malvada, que está sedenta por vingança.

Judy Garland empresta a Dorothy um olhar extremamente ingênuo e cativante; graças a isso, acreditamos na sua determinação em voltar para casa e na vontade de ajudar a todos que cruzam seu caminho. Em um dos momentos mais marcantes do filme, quando ela canta a imortal Over The Rainbow, é impossível não ficar hipnotizado na tela – é simplesmente uma de minhas cenas preferidas de todos os tempos. E pensar que a música deveria ter sido cantada mais uma vez por ela no filme, quando Dorothy está presa na torre da bruxa, mas em uma versão triste, o que poderia gerar mais um momento absolutamente marcante à obra, mas por causa do ataque de choro de Judy, que achava a cena triste demais, ela acabou não se concretizando.

E o que dizer quanto à inesquecível performance de Margaret Hamilton, interpretando a Bruxa Má do Oeste e se tornando um dos ícones do cinema? O papel inicialmente era de Gale Sondergaard, que queria dar um ar de Branca de Neve e os Sete Anões (lançado dois anos antes) à sua personagem, mas como não queria aparecer feia no cinema, deixou o papel cair no colo de Margaret, que não decepcionou. Já Ray Bolger, o Espantalho, deveria ficar com o Homem de Lata, mas por ser fã do ator Fred Stone, que interpretou o personagem na Broadway, em 1903, conseguiu a troca de papel e, assim como Margaret, realiza uma marcante interpretação, claramente com tom teatral, pegando carona com o seu maior ídolo.

Já Buddy Ebsen, que interpretaria o Espantalho, acabou aceitando a troca e ficou com o Homem de Lata, só que não pôde interpretar o personagem por causa do conteúdo tóxico provindo do alumínio utilizado na confecção da roupa. Coube a Jack Haley substituir o ator, sem saber das toxinas, usando apenas uma roupa especial para diminuir o efeito a que estaria exposto. Outro que ganhou o papel de última hora foi Bert Lahr, que interpretou o Leão, já que a produção chegou a cogitar a possibilidade de utilizar um leão de verdade no papel, com um dublador fazendo a sua voz na pós-produção. Um dos personagens mais engraçados do longa.

No quesito técnico, não há como não se deslumbrar com o óbvio: em um mundo preto-e-branco e triste pela Guerra, nada como a cor e a alegria para a todos animar. Do exato momento em que Dorothy atravessa a porta de sua casa recém-aterrisada em Oz até o momento final, cada cor parece ter sido milimetricamente pensada para significar algo dentro do contexto do longa. É impressionante como uma técnica tão nova tenha sido usada de maneira tão eficiente pela arte e pela fotografia, de Harold Rosson. A inspiração teatral é óbvia, mas ao invés de ficarmos incomodados com aquele mundo tão falso, ele se torna extremamente real pela competência com que tudo é realizado. Perceba como algumas plantas, de plástico verde, são claramente falsas, mas nunca parecem ridículas ou mal feitas. É tudo absurdamente bonito, desde os pequenos detalhes até às gigantescas pinturas que servem como fundo para as seqüências.

Simplesmente um dos melhores filmes já feitos e o perfeito exemplo de que uma fita infantil não precisa ser imbecil para divertir. O perfeito equilíbrio entre arte, infância, diversão, uma bela mensagem e boas interpretações.

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