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Críticas

Cineplayers

Steven Soderbergh e a realidade por trás do glamour na vida dos strippers.

8,0

A primeira cena de Magic Mike é uma definição econômica do aparente sucesso que rodeia a vida de um stripper: temos Mike (Channing Tatum) completamente nu, de nádegas à mostra, com duas belas mulheres numa cama e uma casa espaçosa e luxuosa. Percebemos através de um rápido diálogo que tudo não passa de um envolvimento sem compromisso, e na cena seguinte Mike sai dirigindo seu carro por uma ensolarada cidade, enquanto uma animada trilha sonora toca ao fundo.

Os próximos 100 minutos de Magic Mike serão, portanto, uma desconstrução dessa idealização de “vida feliz” que o diretor Steven Soderbergh, cineasta eclético e responsável por títulos bastantes divergentes como Onze Homens e um Segredo e Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento, se dispõe a abordar. Mais do que adentrar a vida dos strippers e explorar seus sonhos, anseios e desejos, Soderbergh faz uso do tema para falar sobre o período de recessão dos EUA e o uso deliberado do corpo como instrumento de salvação financeira. Em suma, Magic Mike é um filme mais profundo e significativo do que os corpos musculosos de seu elenco dão a entender.

Anunciado como uma espécie de biografia sobre a vida de Tatum (que fez ponto em boates antes de começar a construir seu fã-clube pelas admiradoras de Ela Dança, Eu Danço), o filme não se concentra apenas na figura do astro para contar sua história, mas insere nesse meio o jovem Adam (Alex Pettyfer), um rapaz ainda ingênuo e de pouca experiência, que trabalha com Mike numa empresa de construção (mais uma desconstrução de estereótipo), mas com beleza sex appeal suficiente para que Mike o leve a adentrar e fazer parte do mundo dos strippers. Adam logo se encanta com as possibilidades oferecidas por aquele mundo: dinheiro, aplausos, mulheres. Seu personagem, assim, entra em uma curiosa justaposição ao de Mike, que almeja algo para sua vida além de tirar suas roupas frente a uma platéia de mulheres. Mike também encontra o amor ao conhecer a irmã de Adam, Broke (Cody Horn), um desvio bastante clichê da história original, mas que se conecta com o processo de humanização de Soderbergh sobre seus personagens.

O diretor, aliás, não poupa o espectador de provocações em meio à exibição quase que apaixonada sobre o corpo dos atores (o público feminino, e certamente uma parcela do masculino, irá se sentir satisfeito neste sentido), mas também despe qualquer glamour nos momentos em que irá revelar o que há por detrás da vida de seus personagens. A futilidade está fortemente presente, o sexo pelo sexo, o uso de drogas ilícitas... “Onde está a magia que você idealizava sobre este mundo?”, indaga Soderbergh.

Assim, Magic Mike passa longe de ser um filme limpo e bonito. Seus personagens são tão imaturos quanto desesperados, desejosos por uma vida melhor. Tanto que o dono da boate, Dallas (Matthew McCounaghey, em interpretação perfeitamente canastrona) não hesita em aceitar a inserção de Adam nesta realidade por visualizar o potencial do rapaz em meio aos negócios. Tudo gira em torno do interesse, das realizações pessoais, dos objetivos próprios. E Soderbergh valoriza ao não explicitar toda esta realidade, mas permitir que o público perceba e a entenda por si só.

O desfecho de Magic Mike, amargo e esperançoso, fecha com dignidade e respeito a humanização de Soderbergh sobre aquele negócio. O glamour pode ser enganoso. E no fim, Magic Mike acaba sendo um filme sobre pessoas como eu e você, independente de dinheiro ou beleza.

Comentários (3)

Josianne Diniz | segunda-feira, 03 de Agosto de 2015 - 12:02

A crítica acima foi feita em relação ao filme Magic Mike de 2012, enquanto a foto utilizada na matéria faz referência ao filme Magic Mike XXL de 2015. Há que se fazer uma adequação entre a foto e a crítica para que não haja confusão.😉

Alexandre Koball | segunda-feira, 03 de Agosto de 2015 - 13:48

Nunca tive interesse em ver este, embora pareça bem bacana.

Pedro H. S. Lubschinski | segunda-feira, 03 de Agosto de 2015 - 17:45

Se fosse um filme sobre o Dallas do Matthew poderia ser interessante - na cena em que ele "volta a ativa" é mais personagem que qualquer um ali -, sendo do cara de pamonha do personagem do Tatum é só um filme de sessão da tarde com tanquinhos e tal, nada demais.

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