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Críticas

Cineplayers

O simples cotidiano de uma mãe moderna.

6,0

Uma Mãe em Apuros é uma comédia de costumes falando sobre a condição das mulheres pós-movimento feminista, quando além de lidarem com sua emancipação política e profissional, precisariam elas também adaptarem-se a jornadas triplas de trabalho e preocupações.

Eliza (Uma Thurman) é apresentada ao espectador através do percurso que a personagem faz ao acordar, e de maneira até bem realista, aparece transitando pela casa com trajes nada glamurosos, indicando algo da doçura da maternidade quando fotografa a filha que ainda dorme naquele que será o seu último dia com 5 anos de idade. Logo após esse interlúdio poético, as tarefas lidas num bilhete na cabeceira da cama de Eliza começam a passar aceleradas na tela.

Acompanhamos um dia na vida desta mãe, que já foi escritora considerada promissora, até descobrirmos que ela tem um blog. Nele, a ex-escritora alivia as tensões de tantas obrigações e desabafa sobre o porquê das mães serem absorvidas pelo cotidiano e não conseguirem elaborar uma sentença sequer sobre assuntos relevantes, sendo assim jogadas para escanteio com a impressão de que suas opiniões sobre o mundo não valem nada. E é através da internet que ela encontra uma possível solução para as suas frustrações profissionais, num concurso para ser redatora em uma revista cuja condição é elaborar um texto com  500 palavras sobre o que é ser mãe. No entanto, antes de escrever este texto, Eliza precisará finalizar o dia com a festa de aniversário de sua filha.

O interessante dessa abordagem é a relação das donas de casa com a internet, o que nos lembra imediatamente da situação vivida por Julie Powell e que deu origem ao filme Julie & Julia. A rede como válvula de escape criativo destas mulheres, e não só delas, como veremos Eliza afirmar ao conhecer um entregador de correspondências que diz  ser escritor de peças: hoje todo mundo é escritor.

É nessa lógica que o filme caminha: retratar a contemporaneidade do papel de mãe, pensar como esta figura da tradição familar se inscreve numa configuração atual e ainda cercada por uma metrópole como Nova York e todos os problemas sociais que isto acarreta. Legal perceber o que Katherine Dieckmann quis afirmar ao escrever esta história: nos dias de hoje até o papel das mães, que pareceia imutável, foi alterado.

Nessa reflexão sobre a maternidade, Jodie Foster aparece no papel dela mesma, levando sua filha para brincar num parquinho público, o que já denota a preocupação do filme em abrager várias possibilidades de mãe que existem: a solteira riponga, a mãe-celebridade e a mãe grávida que foi abandonada pelo marido, aqui interpretada por Mini Driver e cujas cenas em que aparece são bastante divertidas.

O difícil nisso tudo foi juntar comédia ao tempero desta história. Dieckmann - que também é a diretora - consegue articular as situações vividas pela protagonista (rotina, concurso e festa de aniversário da filha), mas sem encontrar o tom certo de sua comédia. Sua história é séria e suas piadas são bem esparsas: nada de pastelão, o que parece o caminho óbvio. Nada de traições e fofocas e coisas dando errado. A vida de Eliza é tão normal que se não fosse pela presença de Uma Thurman, velha conhecida do público, talvez não houvesse motivo para que esta história fosse contada no cinema.

Vale pela mensagem que pretende passar, mas Dickiemann talvez tenha esquecido que uma dose de bom humor (humor bem feito, leia-se) poderia ajudar a aproximar o espectador comum de seu filme.

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