Madona de Cedro foi uma aposta importante de Oswaldo Massaini.Vencedor da Palma de Ouro com O Pagador de Promessas dirigido por Anselmo Duarte em 1962, o produtor tinha o interesse em realizar outro sucesso na mesma proporção. Nesse sentido, a escolha de adaptar o livro de Antônio Callado de mesmo título já mantinha uma relação direta com O Pagador, afinal, a temática religiosa era basilar nas duas obras. Para além da temática, Massaini fez questão de pinçar Leonardo Villar como protagonista, o intérprete de Zé do Burro no filme de Anselmo Duarte. Em Madona de Cedro, o ator dá vida a Delfino, sujeito do interior de Minas Gerais que se envolve em um roubo de uma imagem na igreja. Mais ainda, Villar é crucificado nos dois filmes e, na cruz, seus personagens expurgam os pecados. Anselmo Duarte não dirige Madona de Cedro, contudo, tem uma das suas melhores atuações na carreira como o pilantra carismático Adriano Mourão, típico sujeito da cidade grande que pensa levar todos na “lábia”. Madona de Cedro se passa, majoritariamente, em Congonhas do Campo/MG. Mesmo a localização geográfica remete ao filme ganhador do festival de Cannes, por conta do interesse em desvendar o interior do Brasil. Dessa vez, porém, não mais o nordeste brasileiro, mas o interior de Minas Gerais e as obras de Aleijadinho, um dos artistas mais reconhecidos da região.
Madona de Cedro foi um filme em que Oswaldo Massaini apostou bastante como produtor e, para capitanear tal jornada, selecionou Carlos Coimbra para dirigir o filme. Um dos diretores brasileiros que melhor trabalhou com a linguagem clássica narrativa, Coimbra vinha de sucessos como A Morte Comanda o Cangaço (1961) e Lampião, o rei do cangaço (1964) ressiginificando os filmes conhecidos como nordesterns - termo do crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva - sobre a produção de filmes ligados ao tema do cangaço rodados no nordeste brasileiro.
A direção de Coimbra é segura, Madona de Cedro é, possivelmente, um dos trabalhos de maior destaque do realizador. Valorizado, claro, pela produção de maior investimento de Massaini. Entretanto, a intenção de fazer um filme perfeito foi, de alguma forma, um “tiro no pé”. A obra não assume riscos e, especialmente no terço final, tem alguns momentos de gritante obviedade. Essa situação, contudo, não tira o brilho de passagens específicas como a agressão que Delfino sofre do bando de Mourão. Momento bastante intimidador que Coimbra deixava claro todo o seu talento e competência e cravava seu nome como um dos grandes realizadores do cinema policial brasileiro. Madona de Cedro é um ótimo filme para mergulhar no cinema nacional e descobrir novas figuras nesse universo. Tanto Massaini como Coimbra são fundamentais.
Viajo nesse filme! Muito bom ler teus pensamentos sobre ele, amigo!