O cinema jornalístico parece ter encontrado um novo fôlego e apelo junto ao público (além das premiações) desde o início da segunda década de 2000, fôlego esse precedido pela enérgica The Newsroom, série de Aaron Sorkin (A Rede Social, 2010) para a HBO e que atualmente se reflete na nova menina dos olhos que é o foco desse sub-gênero dramático: o jornalismo investigativo/criminalístico. São ecos, é claro, do que Billy Wilder e Alan J. Pakula cimentaram com A Montanha dos Sete Abutres [Ace in the Hole, 1951] e Todos os Homens do Presidente [All the President’s Men, 1976], respectivamente. E uma característica jamais abandonada por esse cinema reside justamente na dubiedade daqueles que investigam, a exemplo de títulos como O Abutre [Nightcrawler, 2014], mas Má Educação [Bad Education, 2019] adota um caminho mais conservador, retratando justamente a destruição da dualidade de quem é investigado, caminho esse já seguido pelo premiado Spotlight - Segredos Revelados [Spotlight, 2015], por exemplo.
Pretensiosamente cimentando o quanto sua história é baseada em fatos reais, Má Educação ganha pontos justamente pelo roteiro de Mike Makowski colidir essa abordagem com um grande estudo de personagem, o que confere certa liberdade artística para que o diretor Cory Finley (do muito interessante Puro Sangue [Throughbeds, 2017]) trabalhe a descida do céu ao inferno de Frank Tessone (Hugh Jackman, rivalizando com seu Gary Hart de O Favorito [The Front Runner, 2018]) com olhares particularmente cinematográficos, repelindo julgamentos iniciais sobre as atitudes contestáveis de Frank que vão sendo desnudadas quando um escândalo sobre um roubo corporativo ameaça vir à tona.
Apostando em certos simbolismos não exatamente sutis, mas que entram em interessante coesão com a narrativa (a cena de abertura com Jackman se maquiando em frente a um espelho), a narrativa de iceberg de Má Educação é bem trabalhada dentro desse castelo de cartas que, de forma interna, começa a desmoronar conforme os desdobramentos levam ao seguinte, sem abandonar o apego ao melodrama íntimo que é satisfatório ao conferir novas camadas aos personagens: Frank é um homossexual enrustido e inicia um romance com um ex-aluno (Rafael Casal), com quem divide cenas particularmente bem escritas e que poderiam ter tomando um tempo maior em cena. Pam Gluckin (Allison Janney, ainda mais segura em cena do que em Eu, Tonya [I, Tonya, 2017], que lhe rendeu o Oscar de Atriz Coadjuvante), braço-direito de Frank e a responsável pelo golpe corporativo, igualmente ganha respeitáveis contornos do roteiro ao não ser diminuída para a simples figura corrupta da história, e o papel fundamental de sua família nas motivações de suas ações (e o filme não deixa de discutir se elas são justificadas) impedem que Pam caia na velha caricatura da personagem vilanizada por suas atitudes.
Se Má educação encontra certas fragilidades lá pelas tantas, é na subtrama sem muito encontro da estudante Rachel (Geraldine Viswanathan, de Não Vai Dar [Blockers, 2018]), cujas investigações sobre os escândalos de sua escola encontram resultados muito tardios, apesar de não indispensáveis ao roteiro. E como qualquer melodrama televisivo (o filme é uma produção original da HBO), há um número considerável de soluções fáceis que o filme não faz questão de tentar fugir e lhe condenam a breguice em seu clímax, mesmo com os sentimentos da potente cena final.
Felizmente, Má Educação encontra uma competência notável no caminhar de mãos dadas entre o desnudamento dos escândalos que abalaram as instituições de ensino dos EUA no início dos anos 2000 e o estudo íntimo que faz sobre quem era Frank Tassone para além dos segredos que condenaram sua imagem e carreira.
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