Boa dose de diversão só não é melhor pela mensagem extremamente batida.
A Loja Mágica de Brinquedos poderia muito bem ser A Fantástica Fábrica de Chocolate da nova geração. Fica aquém disso, mas mesmo possuindo um número muito grande de clichês, o filme dirigido pelo roteirista de Mais Estranho que a Ficção, Zach Helm, diverte e, até certo ponto, emociona. É a velha história do "você nunca é velho demais para acreditar" colocada dentro de uma fantástica loja de brinquedos, multi-colorida e cheia de vida, em todos os sentidos. A direção de arte, sem dúvida, estava inspirada.
Ali nessa loja, os brinquedos são encantados e as crianças agem naturalmente em relação a isso, embora o filme nunca deixa bem claro o que os adultos pais dessas crianças pensam a respeito (embora seja irrelevante para a história principal, seria interessante saber). Já Henry (Jason Bateman) é um caso à parte: só pensa em trabalhar, ignora a riqueza que há nas coisas simples da vida e na possibilidade de fazer novas amizades. A loja de brinquedos, é claro, vai alterar sua percepção do que realmente vale a pena na vida. Bastante previsível, mas o caminho para chegar nesse ponto é bom o suficiente para manter adultos e crianças atentos.
O destaque do filme, mais do que seu roteiro, fica por conta da direção de arte. Há literalmente milhares de detalhes a serem notados nas dezenas de prateleiras da loja. Alguns foram criados digitalmente e não são tão interessantes assim (na realidade, algumas partes feitas por computador ficaram bem feias). Mas essa riqueza toda justifica a comparação que fiz lá no início com o filme de Mel Stuart de 1971. A diferença maior é que neste filme os brinquedos e apetrechos possuem função apenas visual, e não são parte ativa na história (o que torna este filme aqui infinitamente mais vazio que o clássico estrelado por Gene Wilder).
Com relação às interpretações, Dustin Hoffman cria um tipo bem bizarro, mas não o suficientemente marcante para transformá-lo em um personagem memorável. O sr. Magorium (cujo nome faz parte do título original do filme) é um sujeito divertido e excêntrico, mas os seus objetivos nunca ficam claros o suficientes dentro do filme, configurando-o mais como uma curiosidade visual do que como um personagem realmente interessante, que nos faça torcer pelo seu destino. O desenvolvimento do pano-de-fundo do personagem também é pífio, demonstrando certa superficialidade na criação do roteiro, de autoria do próprio diretor.
Já Natalie Portman faz uma jovem que deveria ser adorável, e a atriz consegue cumprir esse objetivo de forma bastante competente. Com uma performance singela, consegue fazer com que a inocência de sua personagem seja convincente. Não há traço de sexualidade, rebeldia ou de outros atributos típicos de sua idade na sua personagem. E seu relacionamento com as crianças da loja, sobretudo com o tímido Eric, é sempre crível. Não que o papel seja especialmente complexo, mas se há pontos para tirar de A Loja Mágica de Brinquedos, esses pontos não poderiam vir da atriz.
Mesmo contando com algumas piadas inspiradas, este não pode ser considerado uma comédia tradicional. É sim um bom trabalho infantil de fantasia, mas que pode ser visto por adultos. Sobre acreditar no impossível e crer em si mesmo. A velha lição de sempre, é verdade, e por isso não é possível valorizar o filme demais. Foi um pequeno fracasso comercial e não deve se sair muito melhor nas locadoras, por ser genérico demais e principalmente pelo fato de que seu tema não desperta o mesmo encanto de outrora. No final das contas, ainda vale a recomendação, com ressalvas - não espere um grande filme, somente uma boa dose de diversão.
Achei o filme fraquinho, mas a direção de arte e realmente boa