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Loja de Unicórnios

(Unicorn Store, 2017)
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Excesso de purpurina

4,0

Não há qualquer problema em um ator fazer a transição e se aventurar na direção, a maioria diz que assim tem a autoralidade necessária para contar as histórias que gostariam que fossem contadas, em apresentar o seu próprio olhar depois de anos se submetendo ao olhar alheio, adquirindo assim uma autonomia que seu ofício nem sempre permite. Brie Larson rodou essa sua estreia antes mesmo de empunhar a capa de Carol Danvers, apresentando seu trabalho no Festival de Toronto de dois anos atrás. É claramente um trabalho de estreia inofensivo, tão somente interessante por sabermos do talento de Larson pré-Oscar inclusive e dada a sua ligação com o cinema indie, mas o material apresentado lançado agora pela plataforma Netflix (que comprou o produto há dois anos, e esperou os milhões de Capitã Marvel darem as caras para lançar) não tem qualquer relevância. 

A justificativa geralmente utilizada e mencionada acima é descartada assim que o enredo se apresenta, tendo em vista que essa é a enesima versão do "jovem adulto desajustado que se recusa a crescer e pra isso se agarra a uma fantasia" que o cinema independente americano já apresentou tantas vezes nos últimos anos. Com uma narrativa de pretensões tão diluídas e sem um arco de interesse que vá além de conferir a estreia da atriz atrás das câmeras, fica exposto seu trabalho novo para a análise sem qualquer valor diferenciado plus. E Larson não vai além da necessidade de contar a história, quase exclusivamente. Não que aja uma burocracia na tarefa apresentada, mas fica a impressão de que nenhuma tentativa superior foi feita em apresentar essa história de maneira amplificada para outros lugares. 

O filme não consegue definir muito bem a personagem principal, vivida pela diretora. Excêntrica, hipster, infantilizada, alguém com algum tipo de distúrbio mental ou comportamental, a personagem central vive em altos e baixos, sem uma definição muito clara de sua personalidade, o que é um problema do roteiro de Samantha McIntyre, que não consegue desenhar com exatidão a protagonista ou o universo que o compõe. Tratada de maneira indecisa pelo resto do elenco, permanecem as dúvidas sobre suas idiossincrasias mesmo após o término. Se a ideia era criar uma leitura livre sobre suas atitudes, nem roteiro nem direção conseguem se livrar da estranheza criada a partir disso, e o espectador nunca tem certeza de como enquadrar sua relação com a protagonista, indo da irritação a fofura em instantes, mas frequentemente sendo assolado por pena, sentimento esse que nunca é bem-vindo.

O elenco, apesar de bons desempenhos e do talento inegável que os une, não consegue se desvencilhar do roteiro inconsistente e dos tipos repletos de clichês desenvolvidos para eles. Há alegria em reencontrar Joan Cusack em papel de destaque, há a constatação do grande momento da carreira de Bradley Whittford desde Corra!, há o talento ascendente de Mamoudou Athie, há o descomunal poço de carisma de Samuel L. Jackson, e a própria Larson que é uma bela atriz com excelentes serviços prestados, mas nenhum deles consegue criar uma estrutura regular para apresentar um trabalho uniforme. Como já dito, as ações não foram bem desenvolvidas ou ampliadas, muito menos "os peões" que deveriam desenvolver a mesma tiveram acabamento a contento, se tornando todo o material dependente de momentos isolados e da empatia particular que cada possa criar com o material, embora pareça tudo conectado exclusivamente ao colorido do visual.

Talvez tenha sobrado inexperiência em encontrar propósito em material pouco original na base, e isso tenha convencido a atriz a apoiar sua estreia na direção em visual inusitado, além desse plot a princípio curioso mas que logo se revela frágil, a tal loja de unicórnios. Pouco mais de uma cortina de fumaça que pouco esconde sua forma datada e aborrecida, Brie Larson pode ter a ilusão de criar algo diferenciado e fascinante, mas por baixo da purpurina infinita que se espalha pela produção, não encontramos muita novidade, ou sinceridade. Inúmeros filmes são produzidos anualmente, a grande maioria não será necessariamente uma tacada nova; talvez o grande problema de 'Loja de Unicórnios', além de seu roteiro, seja tentar mostrar um caminho de possibilidades refrescantes quando na verdade esse mesmo caminho já tenha sido trilhado tantas vezes, muitas delas bem mais humildes.

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