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Críticas

Cineplayers

Problemas com o roteiro e com a parte técnica prejudicam o filme.

5,0

O Leitor conta a história de Michael Berg, advogado alemão que relembra o período da sua iniciação sexual com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz, guarda da empresa de bondes local. Além de muito sexo, os dois compartilham uma interessante relação: ela apreciava que ele lesse para ela (antes, durante e depois) clássicos da literatura, que ele estudava no colégio. Anos mais tarde, ele a encontra num julgamento por crimes de guerra – ela havia trabalhado como guarda da SS, fato que ele desconhecia. Daí em diante, a conexão entre os dois é retratada ao longo dos anos.

O Leitor tem um primeiro ato excelente. A descoberta mútua, compartilhada por Michael e Hanna (dele, sexual; dela, literária) é contada de forma lírica, sutil e erótica, e estão nessa parte os grandes momentos do filme. O segundo ato passa a apresentar diversos problemas. Embora seja instigante a situação do julgamento, muitas cenas são apresentadas de forma maniqueísta e caricata (isso sem falar na coincidência novelística, pouquíssimo crível). Além disso, a interessante discussão que poderia surgir da complexidade desse momento se restringe a uma cena rápida, deixando a sensação de que um tema com potencial foi mostrado e, em seguida, deixado de lado, restando inconcluso.

Já na parte final, a trama atinge níveis de inverossimilhança enormes na tentativa de construir um dramalhão emocionante. Nessa parte, tudo que havia de bom no filme se transforma em pó. Os personagens ficam rasos, e suas atitudes são gratuitas; a sinceridade da narrativa dá lugar a um melodrama forçado. Por fim, as duas cenas finais (mais um problema é não saber a hora de parar) beiram o patético e o absurdo.

Ralph Fiennes passa boa parte do filme com expressão de quem comeu e não gostou. É possível crer que ele não tenha entendido bem o seu próprio personagem, pois ele é tão mal construído que a atuação de Fiennes só contribui para o problema. Embora o jovem Michael saia-se muito bem, é difícil de acreditar na pessoa que ele se torna, um problema de roteiro, atuação (de Fiennes) e até de escolha de elenco (é complicado aceitar os dois atores no mesmo papel). Ainda, as relações de causa e consequência são frágeis durante a maior parte da produção, o que faz com as atitudes de muitos personagens soem injustificadas (culpa do roteiro).

Já Kate Winslet, indicada ao Oscar na categoria de atriz principal (num papel de coadjuvante), tem seus bons momentos. Ainda assim, não chega perto de sua própria atuação em Foi Apenas um Sonho, em que consegue construir a personagem com as sutilezas de sua interpretação. Aqui, ela está (apenas) muito bem. No entanto, em sua cena final, quando a personagem já está velha, Kate peca em demasia por não apresentar traço nenhum de uma senhora de idade; trata-se da mesma Hanna de 30 anos usando maquiagem (nesse âmbito, o grande mérito da atuação de Brad Pitt em O Curioso Caso de Benjamin Button, por exemplo, é justamente fazer o papel de idoso ir muito além do uso da maquiagem). Para completar o elenco central, o jovem David Kross se sai bem ao dar vida a um Michael Berg inocente e curioso, que aprende e ensina nas mãos de uma interessante tutora.

O problema principal da produção é mesmo o roteiro irregular, que parte para diversas subtramas sem conseguir aprofundá-las ou mesmo concluí-las; assim, a quantidade de pontas soltas é inaceitável. A relação de Michael com sua filha, por exemplo, é uma das subtramas que, de tão rasa, não consegue comunicar nada ao público.

Um outro problema, este técnico, é em relação à passagem de tempo. A produção simplesmente não se preocupa em executar esse trabalho com qualidade (e, talvez, um diretor mais perfeccionista não tivesse cometido esse erro), e há, por exemplo, uma cena em que Michael é interpretado por David Kross, um garoto de 18 anos, e cerca de 10 anos (do filme) depois, por Fiennes (de 46 anos). Isso é querer contar demais com a boa-vontade do público. Nesse sentido, o próprio envelhecimento da personagem de Hannah é feito com pouco cuidado e atuação relapsa.

Para terminar: O Leitor é um filme que começa bem e termina mal. No fim, não funciona como discussão sobre justiça ou direito, não traz algo novo e relevante sobre a Segunda Guerra Mundial e não se aprofunda no estudo das relações humanas.

Comentários (1)

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