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Críticas

Cineplayers

A luta de um veterano contra os seus demônios.

4,0
O golpe baixo do flerte com clássicos (abraçando aspectos de gênero, temática e etc.) quase sempre consegue o mesmo resultado forte frente a determinado público: não faltará quem se interesse pelo produto que está sendo vendido. Se trata, no entanto, de uma faca de dois gumes: essa fácil sedução torna o espectador alguém extremamente vulnerável a toda sorte de trabalhos cheios de boas intenções em uma grande ilha de incertezas - e coisas interessantes podem existir na mesma proporção de uma série de bobagens. De qualquer maneira, existem aquelas que não se padronizam facilmente e se revelam uma verdadeira incógnita - Late Phases (idem, 2014) já se identifica.

Difícil não ceder a essa confortável proposta de rodear personagens com componentes clássicos de gênero; o conforto de Late Phases, de qualquer maneira, não tarda a bater de frente com certos obstáculos: bem além do uso da figura mítica do lobisomem, se trata de um filme recheado de crises carnais facilmente identificáveis com a dita “vida real” - problemas familiares, sociais, históricos, psicológicos e etc. Embora a narrativa tenha um conceito coerente (o filme se baseia numa ideia de construção atmosférica para entregar o melhor final possível – toda uma preparação para culminar no grand finale), não é fácil definir até que ponto o filme de Adrián García Bogliano é sobre a vida íntima de um rabugento veterano da Guerra do Vietnã (dramatização de boteco para representar um homem velho que luta contra os seus demônios) ou sobre o confronto deste mesmo personagem com forças malignas além de sua compreensão - tal dissociação se torna praticamente inevitável, tendo em vista que esses dois aspectos praticamente nunca se encontram formalmente.

Visto o clímax, que é praticamente o único ponto realmente feliz da coisa (fosse somente aquilo adaptado a um curta-metragem sairia algo bem decente), temos contato com o sucesso tão desejado. A imagem do lobisomem chama a atenção pelo artesanal, uma clara desintoxicação em relação ao conhecido CGI; uma boa jogada, pois se trata da característica mais gritante e talvez a única realmente convincente ao firmar uma relação do carnal com o sobrenatural, tão presente no seu abraço em criações consagradas do cinema de horror. Aquele bicho feito de látex (ou algo dessa natureza) fazendo jorrar litros de um líquido vermelho foi algo que fez bem ao universo ficcional do longa – se os problemas pessoais do protagonista têm um peso carnal, o sobrenatural, representado pelo que realmente é palpável, tem um efeito curioso para validar as pretensões dramáticas aqui presentes.

Qualquer curiosidade tida acerca deste filme é recebida com certa atenção. Isso, no entanto, é o mínimo que pode ser feito quando se percebe que tem gente com mais de dez anos de cinema por trás disso. Os demônios morrem, o show acaba e todos podem pular para o próximo filme – de preferência um mais equilibrado. Um notável mau uso de boas ideias.

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